Max Von Sydow: O Homem que tentou fazer Xeque-mate à Morte

Nunca é fácil dizermos “Adeus” a uma lenda. Desta vez, é Max Von Sydow que parte rumo ao trono dos imortais. Ao longo da sua carreira, o ator que ficou conhecido pelas colaborações com Ingmar Bergman, e pelo trabalho desenvolvido em obras como “The Exorcist” e “Flash Gordon”, recebeu duas nomeações aos Oscars, inclusive na categoria de Melhor Ator, por “Pelle the Conqueror”.

Ao longo da sua carreira, Max Von Sydow deu vida a uma série de personagens marcantes na história do cinema.

Sydow trabalhou numa série gloriosa de onze filmes de Ingmar Bergman, no qual aceitou jogar xadrez com a Morte, em “The Seventh Seal”.

De origem Sueca, concordou atravessar o Atlântico em 1965, para interpretar interpretar Jesus Cristo, em “The Greatest Story Ever Told”, que o catapultou para o sucesso mais global que cresceu com o papel de Lankester Merrin, em “The Exorcist” (1973). Posteriormente, na década de 1980, interpretou o célebre Ming the Merciless, em “Flash Gordon”, e deu vida ao maléfico Ernst Blofeld, o vilão de 007, em “Never Say Never Again”.

Em 1990, foi nomeado ao Emmy pelo seu trabalho em “Red King, White Knight”, uma série da HBO. Adicionalmente, trabalhou com Scorsese, em “Shutter Island”, e com Spielberg, em “Minority Report”.

Mais tarde, participou na dobragem de personagens de “The Simpsons”, apareceu em “Star Wars: The Force Awakens”, e ainda teve tempo para deixar o seu contributo em três episódios de “Game of Thrones”.

Recebeu duas nomeações aos Oscars, inclusive na categoria de Melhor Ator, por “Pelle the Conqueror” (1987). A segunda nomeação surgiu mais tarde, já em 2011, na categoria de Melhor Ator Secundário, pelo seu trabalho em “Extremely Loud & Incredibly Close”.

Por conseguinte, em jeito de homenagem ao legado de Von Sydow, decidi elaborar uma breve crítica acerca de “The Seventh Seal”, onde desempenhou uma das performances mais célebres da sua carreira.

“The Seventh Seal”, o filme que Ingmar Bergman realizou em 1957, permanece como um marco da expressão cinematográfica, porque correu o risco de analisar questões fundamentais sobre a existência e a morte.

De facto, o filme é quase uma lenda da especulação filosófica sobre a vida. Como tal, foi uma das obras que ajudou a lançar a cena do cinema de arte que surgiu nessa época. Embora contenha alguns momentos cómicos, a seriedade predominante no tópico do filme é um problema para alguns. Mas para pessoas atenciosas, este filme é imperdível.
O título do filme provém de “Book of Revelations”, onde é espelhado o apocalipse bíblico. Primordialmente, refere-se a sete selos que vinculam o documento apocalíptico que John of Patmos viu na sua revelação, e que descreve o fim dos tempos.

Neste relato, quando cada selo de pergaminho é aberto, é desencadeada uma calamidade devastadora no mundo. Efetivamente, o cenário do filme, que ocorre durante os tempos da Peste Medieval, foi um período de tamanha morte e horror que as pessoas sentiam que o fim do mundo estava próximo.

Embora a década de 1950 não tenha sido tão letal, a ameaça real de um holocausto nuclear estava bastante presente na mente das pessoas.

A história de Bergman incide nas aventuras de um cavaleiro e do seu escudeiro, que regressam à sua terra natal após dez anos de ausência, enquanto combateram nas Cruzadas.
Perentoriamente, as Cruzadas podem ter surgido com um propósito nobre, mas é evidente que a sua experiência foi um fracasso.

Assim que chega, o cavaleiro percebe que a sua terra está assolada pelo flagelo da Peste Negra. Depois encontra a Morte, uma personagem enigmática, com a qual debate inúmeros assuntos, no decurso de uma longa partida de xadrez.

Obviamente, as técnicas cinematográficas que Bergman aplica para contar histórias merecem ser dignas de destaque. Embora o filme seja amplamente ambientado ao ar livre, não somos apresentados a um cenário naturalista. Em vez disso, a cinematografia em preto e branco de alto contraste cria um ambiente visual temperamental e expressionista.

Além disso, o currículo de Bergman em peças teatrais surge evidenciado, sendo que o elenco foi extraído principalmente do que era, essencialmente, o seu grupo de reportório para muitos trabalhos.

Além do papel personificado da Morte (Bengt Ekerot), as restantes personagens do filme são representações de várias atitudes em relação à vida.

Antonius Block, interpretado por Max von Sydow, é o cavaleiro que regressa das Cruzadas. Ele não é propriamente um fanático, mas é um idealista religioso reflexivo que deseja conhecer Deus através do seu intelecto.

Em contrapartida, Jons (Gunnar Bjornstrand), o escudeiro do cavaleiro, é cético. Rejeita os sentimentos religiosos, considerando-os inclusive absurdos utilizados para enganar as pessoas. Para ele, a vida é para ser vivida no momento, isto é, um autêntico adepto do célebre “carpe diem”.

Jof (Nils Poppe) e Mia (Bibi Anderson) são pessoas que não refletem, mas são essencialmente inocentes e têm bom coração. Se existe Deus, ele tem o dever de cuidar deste tipo de indivíduos, mesmo quando escolhem o caminho da mentira (como Jof costuma fazer).

Personagens como Jonas Skat, Plog, Lisa e Raval preocupam-se com os seus próprios prazeres e recompensas. Geralmente não carregam maldade no coração, mas são fundamentalmente gananciosos.

A rapariga da vila (Gunnel Lindblom) parece ter um papel menor, contudo, a sua presença é um dos aspectos mais memoráveis do filme. E embora seja sempre reticente, tem um olhar de antecipação nos olhos, e parece estar prestes a dizer alguma coisa. Se calhar, consegue idealizar algo que mais ninguém está apto a entender.

Ao longo do filme, a Morte aparece como uma figura calma e severa, vestida de preto. Ela é visível apenas para aqueles que estão prestes a morrer, e, na maioria das vezes, apenas Block consegue vê-la.

O filme não projeta apenas Block como um idealista, na mesma linha de Dom Quixote, que conta com a sombra de Jons.

O rosto pensativo e resignado de Sydow, na pele de Block, serve de metáfora para resolver a equação do argumento. Intelectualmente, Block não encontra nenhuma evidência de Deus, mas intuitivamente ainda acredita que há algo místico e eterno além do fardo intelectual.

E mesmo Jons, que se resigna ao “carpe diem”, tem o seu momento místico de compaixão. Quando Raval aparece a morrer na floresta, fruto da Peste, a rapariga da vila vai buscar água para tentar ajudá-lo. Jons, que assiste à siatução, tenta consolar a rapariga: “Don’t you see I’m trying to console you.”

De facto, é esta rapariga, sem nome, que representa a alma e o mistério do filme. Ela encarna aquilo que Block, Jons e os outros não podem “saber”.

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