O sangue é mais espesso que a água e, no caso dos gémeos Birdsey, esta frase é mesmo posta à prova. Ao longo de seis episódios, “I Know This Much Is True” explora a relação conturbada entre dois irmãos ao apresentar reflexões sobre depressão, tristeza e amor.
“I Know This Much Is True incide em dois personagens principais – Dominick e Thomas Birdsey. A série começa com um momento sombrio e chocante dentro de uma biblioteca, onde Thomas, que sofre de problemas sérios de saúde mental, recita passagens da Bíblia. Em última análise, esta cena define o tom e o clima para o que se segue, ao mesmo tempo que Dominick vai lutando com as autoridades para impedir que o irmão seja transferido para um hospital psiquiátrico mais seguro e restrito.
Isto estabelece a base para a narrativa, com questões subjacentes bastante profundas. Ao longo dos seis episódios, as camadas são retiradas para revelar um centro muito cru e emocional. Ao longo do tempo, vai sendo exposta a bagagem que Dominick carrega ao longo dos anos. Não vou revelar quais são essas questões, mas basta dizer que reforçam a personalidade impulsiva e o temperamento violento da personagem.
Efetivamente, este melodrama destaca-se do ponto de vista das personagens. Partindo da performance incrível de Mark Ruffalo na pele Thomas e Dominick, passando pelo excelente trabalho de Rosie O’Donnell na pele da assistente social, Sheffer, cada personagem ajuda a reforçar os temas principais da série.
Dominick narra grande partes das cenas concebidas em flashback. Em vários dramas, estes momentos são arrastados e até podem revelar-se desnecessários. Porém, nesta ocasião, cada mergulho histórico serve para fortalecer o que está a acontecer no presente, e em adição, para entender os múltiplos caminhos que separam os dois irmãos.
Sem estragar muito da experiência, posso adiantar que as questões familiares desempenham um papel importante no que acontece em relação a Thomas, sendo que algumas das cenas que retratam esta situação são muito difíceis de assistir.
O público que parte para “I Know This Much is True” à espera de um final feliz, vai ficar integralmente desapontado. Embora haja uma abordagem reflexiva, quase de esperança, nas cenas finais do sexto episódio, a série desenrola-se no tom de melodrama realista. E é assim que consegue entregar algo desmesuradamente sensível e emocional.
A série comanda a nossa atenção e o retrato preciso da saúde mental parece incrivelmente real, surgindo, desta feita, múltiplas cenas angustiantes e difíceis de ver. Mark Ruffalo, que faz um trabalho incrível ao retratar os dois personagens, apresenta aqui uma das melhores performances da carreira (quiçá a melhor).
Que me perdoem Bryan Cranston, Jeff Daniels, Ethan Hawke e Hugh Grant – todos com prestações notáveis o ano passado – mas, para mim, em 2021, o Golden Globe para Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme deveria ser entregue a Ruffalo.
Os seis capítulos de “I Know This Much Is True” combinam a escrita exímia com uma estética visualmente agradável, que se encaixa no tom do que está a ser apresentado. É uma série maravilhosa.
Por vezes, não é fácil de assistir, mas o retrato preciso do trauma – tanto para Dominick quanto para Thomas – é suficientemente multifacetado e profundo para que continuemos a pensar na história durante um largo período de tempo.
A história independente tem um ritmo brilhante e os arcos, para quase todos os envolvidos, reforçam que o sangue é, de facto, mais espesso do que a água. A forma como “I Know This Much Is True” desafia a noção do que a família realmente significa, transforma-a numa das melhores séries de 2020 e num drama imperdível.
“As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.” – Lev Tolstoi