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The Naked Gun – Crítica Filme

by Miguel Revel

Progressivamente na última década, a comédia foi um dos géneros que começou a migrar para as plataformas de streaming, com os estúdios de Hollywood a apostar cada vez menos em filmes humorísticos de médio orçamento.

Comédias como “Palm Springs”, “Borat Subsequent Moviefilm”, “Dolemite is My Name”, “Murder Mystery” e “Deep Cover” foram todas parar ao streaming, quando há uns anos teriam obtido garantidamente uma estreia nas salas de cinema. Outras, como “Saturday Night”, “Bodies Bodies Bodies”, “Bottoms”, “Thelma” e “My Old Ass”, passaram pelos cinemas norte-americanos mas foram consideradas uma aposta demasiado arriscada para o mercado internacional e estrearam diretamente em streaming em grande parte do mundo.

Por outro lado, das comédias que chegaram aos cinemas, como “No Hard Feelings”, “The Unbearable Weight of Massive Talent”, “Bros” e “Barb and Star Go To Vista Del Mar”, a maioria ficou muito aquém das expectativas dos estúdios e várias delas nem recuperaram o orçamento, mesmo com elencos famosos e nomeações a cerimónias de prémios (Critics Choice Awards, Golden Globes…).

Isto para nem falar do subgénero da slapstick comedy, que ainda há uns anos nos dava filmes com Rowan Atkinson, Jim Carrey, Ben Stiller e Steve Martin e antes disso clássicos com Chevy Chase, Mel Brooks e Louis de Funès, e que hoje em dia simplesmente desapareceu. Toda esta conversa para chegar ao OVNI que é esta sequela/remake de “The Naked Gun”, que acaba de chegar aos cinemas em todo o mundo, para provar que ainda há espaço para a comédia no seu estado mais puro.

© Paramount Pictures

Se há um trio que define todo um segmento de comédia é o composto pelos realizadores David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker, conhecidos como os ZAZ. Da sua autoria surgiram algumas das melhores comédias de sempre como “Airplane!”, “Top Secret!” e a trilogia “The Naked Gun”, bem como já em carreiras a solo, “Scary Movie”, “Hot Shots” e “Rat Race”, entre outros… Uma presença quase sempre assídua de todas estas comédias é a do eterno Leslie Nielsen, que numa carreira de 60 anos e com mais de 260 créditos como ator, interpretou as mais diversas personagens em spoof comedies de Drácula a Presidente dos EUA.

A conclusão é que Liam Neeson (cujo nome era muitas vezes misturado com o de Leslie Nielsen), tinha grandes expectativas a corresponder no papel do Detective Frank Drebin. O receio era grande, sobretudo de como transportar para os dias de hoje um estilo de comédia praticamente extinto. Ainda para mais quando ao leme não estava o ainda vivo David Zucker, mas sim Akiva Schaffer (“The Lonely Island”, “Saturday Night Live”) na realização e Seth MacFarlane (“Ted”, “Family Guy”) na produção, ambos com provas dadas, mas num estilo bem diferente.

Para mim, o alívio parcial surgiu com o primeiro teaser, hilariantemente ridículo, com Liam Neeson disfarçado de criança durante um assalto a um banco e ainda uma piada às custas de OJ Simpson que mostrou que tudo era assumido. Ficava agora o receio do teaser não corresponder às expectativas do resultado final. Mas chegada a hora de ver o novo “The Naked Gun”, assisti a uma das comédias que mais me fez rir numa sala de cinema nos últimos anos! E não estava sozinho. A sala toda a rir, com algumas pessoas a chorar de rir, em várias sequências do filme. Foi um sentimento que há muito não presenciava.

© Paramount Pictures

O novo “The Naked Gun” consegue misturar o que fez da trilogia original um clássico e dar-lhe um toque contemporâneo, com novos estereótipos dos polícias e preocupações atuais. Mantêm-se as performances sérias com diálogos levados à letra que criam situações ridículas, com Liam Neeson e Pamela Anderson a caírem que nem uma luva nos seus papéis e a criarem uma das melhores duplas da comédia contemporânea.

Depois de Frank Drebin ter evitado o assassinato da Rainha de Inglaterra no primeiro filme, ter resgatado um cientista defensor das alterações climáticas no segundo filme e ter impedido a explosão de uma bomba na cerimónia dos Óscares no terceiro filme, o seu filho Frank Drebin Jr. tem de salvar o mundo das garras de um vilão tecnológico que tem tanto de Elon Musk quanto de Jeff Bezos.

A partir desse mote “The Naked Gun” poderia ter caído em clichés de filmes com vilões da informática e da inteligência artificial, como tantos outros que surgiram nos últimos anos. Mas aqui, o vilão é secundário e a sua arma é literalmente apresentada como “P.L.O.T. Device” (plot device, elemento que apenas serve para fazer avançar a história), sendo o mais importante a vida e as peripécias do detetive Drebin Jr.

Contar o que acontece seria apenas retirar o efeito de surpresa e por isso mesmo os próprios trailers só revelaram cenas que acontecem na sua maioria nos primeiros minutos do filme. Fica assim um carimbo de aprovação de como o filme apesar de não estar ao nível do original, está ao nível das sequelas, sendo tanto uma nova versão como uma homenagem a Leslie Nielsen e aos ZAZ. E sobretudo, “The Naked Gun” soube reinventar-se numa época em que o humor passa por um grande escrutínio. Vale a pena ver acompanhado numa sala de cinema completa.

8/10

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