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Wolf Man – Crítica Filme

by João Pedro

De tempos em tempos a Universal lembra-se de tirar o pó à sua icónica galeria de monstros. E há cinco anos, foi o mais recente resgate por parte do estúdio, tendo calhado ao The Invisible Man (2020) encabeçá-lo.

Fugindo à tentativa de universo de histórias compartilhadas, com Leigh Whannel na realização, renomado cineasta do horror, e a Blumhouse na produção, isto resultou numa experiência distinta que, elevou o Homem Invisível a um patamar que, nenhum outro filme do género alcançou. Ao trazer a criatura para a modernidade, tocando em temas sociais pertinentes, fez com que deixasse de ser somente um mero filme de jumpscares e clichés. Pois, o monstro clássico da vez deixou de ser o fim em si mesmo, e passou a servir de veículo para dizer algo maior, sobre a sociedade.

Isto para dizer que a tirada genial de Whannel, abriu portas para todo o tipo de especulação, quanto ao que se poderia fazer com um novo projeto em mãos, aliado a uma equipa vencedora e um trailer promissor, Wolf Man (2025) tinha tudo para resultar no papel. Ainda que, na prática, a execução final não pudesse estar mais longe da verdade, mas já lá iremos. Cada monstro da Universal tem a sua própria mitologia, alicerçada num conjunto de elementos visuais e temáticos, já incessantemente reproduzidos no cinema, sob as mais variadas formas. Dificilmente se consegue mudar a roda, sendo por isso cada versão, mais uma variante do monstro original, do que uma reinvenção.

A maioria das versões, apresentava o homem-lobo enquanto metáfora para a puberdade. Geralmente com um protagonista jovem-adulto, onde o processo de transformação fantástico, era alvo de destaque e o descontrolo das habilidades adquiridas como mote para uma sequência de cenas de horror e ação. Neste panorama, Wolf Man assume-se abertamente como um reboot do original de 1941, mesmo que dele, só tangencialmente, recicle algumas ideias aqui e ali, além da sua iconográfica imagem de marca. Mas mais importante do que isso, é um Lobisomem que foge ao lado místico e fantástico, sendo revestido de uma explicação mais científica, através de um vírus que se perpetuou ao longo do tempo numa remota região na costa do pacífico, sem nunca descurar das referências folclóricas da criatura.

Esta premissa indicava que o filme tentaria fazer algo destoante, e mesmo que o faça ao de leve, rapidamente, se percebe que não: Ao se acompanhar Blake (Christopher Abbott), em conjunto com a sua filha (Matilda Firth) e mulher (Julia Garner), num regresso à sua casa natal, com a temível criatura a assombrar na soleira da porta. Evitando tocar numa possível explicação para a origem da criatura ou eventuais consequências sociais, o guião centra todo o seu potencial neste drama e horror de sobrevivência familiar. Com poucas personagens num local circunscrito, entramos no lugar-comum do horror da Blumhouse.

Deste elenco, Abbott surge sem grande vida, enquanto pai de família, porém aquando da transformação, tudo muda, e não só entrega uma das suas atuações mais marcantes, como dá uma outra vida ao Lobisomem, que vive preso num dilema. Por isso, à medida que a ação avança, também Abbott se vai encaixando melhor no pretendido pelo guião. E sendo uma criatura, que comunica de forma muito mais visceral e destrutiva, do que propriamente expressiva, o ator entrega-se bem ao monstro e a essa linguagem de atuação. Diria até que todo o processo de transformação, na maneira e forma como ocorre no ecrã, é, das que já vi, a melhor.

O segundo ato leva o seu tempo para que, a metamorfose sensorial tenha espaço para respirar, e não seja súbita, um erro crasso de tantas outras versões. Neste quesito o guião leva a sério, o seu lado mais científico, onde da visão à audição, um homem se perde drasticamente para o espírito animalesco, tendo claro, as inspirações óbvias de The Fly (1986), que é uma espécie de praxe neste tipo de produções. Uma vez que Whannel chuta para lado, a relação da transformação com o portador do lobisomem, como mote para símbolos da virilidade e despertar de um desejo carnal, virando antes para a metáfora com a parentalidade. Tornando Lobisomem uma narrativa mais voltada para a relação familiar. Ainda que fique só na tangente quando se trata desenvolver mais além, do que aquilo que o espetador rapidamente percebe na primeira hora.

Wolf Man

Ainda em termos de atuação, Julia Garner, que era estrela maior de Wolf Man, faz os possíveis para brilhar, mesmo que em nada o argumento a favoreça, ficando reservada enquanto isco para os perigos que rodeiam aquela longínqua região. Mesmo na cinematografia mais poderia ter sido feito, e Stefan Duscio tenta aproveitar ao máximo todo cenário e, sobretudo, o som para telegrafar o perigo e senso de urgência. É esse departamento que salva uma ou outra cena de ação mais intensa, como na cena do celeiro, porque o guião em si, pouco ou nada faz para que consigamos realmente sentir esse pânico, devido às ações inconsequentes das personagens.

Acabo por sair insatisfeito com Wolf Man (2025), pois todas as circunstâncias e figuras com mérito comprovado em torno do projeto, levavam a crer que não era só mais um filme de horror, que no estilo que já nos habituamos, mesmo que no fim, seja precisamente isso que é.

Voltando ao início, e em suma, Wolf Man (2025) introduz algumas, notáveis, adições à mitologia do Lobisomem, e os fãs da criatura irão lembrá-lo por isso. E, tirando uma ou outra cena, um ou outro comentário simbólico que tenta apresentar, como filme, peca pela linearidade batida do género e pela falta de ambição, quer em escopo e em profundidade.

Esperava muito mais de Whannel. The Invisible Man (2020), que não me canso de o referenciar e elogiar, foi simplesmente tão bom e genial, no que queria fazer e dizer com o monstro da Universal, que é difícil acreditar que Wolf Man (2025) é da mesma mente criativa e equipa de sucesso.

6/10

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