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Nosferatu – Crítica Filme

by João Borrega

De todos os géneros cinematográficos que existem, nenhum é tão abrangente e gera mais opiniões díspares como o cinema de terror. Com uma pluralidade infinita de sub-géneros e estilos inseridos debaixo do estandarte TERROR, o público divide-se em opiniões sobre o que pode ser considerado bom terror e o que deve ser visto como persona non grata, por assim dizer.

100 pessoas podem ver o mesmo filme de terror, ao mesmo tempo, nas mesmas condições, e eu considero que a plateia será mais divisiva do que em qualquer outro género de cinema. 

Porém, não é de estranhar que os filmes de Robert Eggers sejam alvo de dois campos extremos de pontos de vista. Com um estilo muito próprio e vincado, com apenas 4 filmes dentro da sua algibeira, Eggers é tanto visto por uns como um novo mestre que será louvado durante muitos anos, tal como um artista completamente sobrevalorizado e sem ponta de noção do que o público deseja ver por outros. 

É neste campo de batalha que entra “Nosferatu”, o novo projecto de Eggers, que se vai inspirar no livro “Dracula” de Bram Stoker e em todas as versões existentes da história para dar uma nova vida ao vampiro mais famoso do Mundo. 

E que vida extraordinária Eggers consegue injetar num conto tão arcaico. 

Apenas pelos primeiros minutos de “Nosferatu” sobre a tela e compreendemos orgulhosamente que longe vão os tempos em que vampiros brilhavam ao sol e que eram alvos de entrevistas sobre as suas vidas miseráveis a enfrentar a imortalidade. 

Com uma fotografia soberba e uma edição magistral, “Nosferatu” é pesado, sombrio, escuro, sujo – capaz de deixar uma pessoa fixada logo com o seu primeiro plano, tal como se estivéssemos sobre o feitiço sedutor do próprio Conde Orlok. Tal como Eggers já veio a demonstrar noutros filmes, este volta a ser igualmente transportativo para um ambiente novo, para uma Alemanha antiga e fria, que nos irá gelar até aos ossos mesmo em pleno Verão. 

Para ajudar a tornar o ambiente ainda mais realista, Eggers coloca à frente da câmara talento para dar vida ao diálogo deste argumento, diálogo esse escrito de forma tão teatral, mas que encaixa como como uma luva nesta versão de “Nosferatu”, como se se tratasse de uma segunda pele. 

Bill Skarsgård já tinha demonstrado o seu poder transformativo ao fazer de “Pennywise” nos dois filmes de “It”. Porém, é neste seu conde Orlok que considero que esteja a sua melhor interpretação até ao momento. A postura de Orlok, o seu sotaque, os seus gestos ponderados e pesados, o seu sotaque arranhado, até mesmo a sua respiração ofegante – todos estes elementos escondem Skarsgård neste filme, tornando-se irreconhecível ao longo de todo o filme. 

Há outros nomes a mostrar o seu grande talento neste filme, tais como Nicholas Hoult ou o incrível Willem DaFoe, porém quem merece maior destaque será a própria Lily Rose-Depp, com a sua interpretação de Ellen Hutter.

Ao início, pode ser difícil de entrar em sintonia com a performance teatralmente dramática de Rose-Depp, mas no momento em que encaixa, compreendemos o trabalho emocional e físico que a mesma oferece ao longo de duas horas, uma tarefa árdua que merece ser aplaudida e devidamente reconhecida. 

Todo este ambiente gótico e de suspense é pincelado por uma banda-sonora de uma beleza sinistra pela mão de Robin Carolan, que apenas tem “Nosferatu” e “The Northman” (ambos filmes de Eggers) no seu portefólio. Considero que Carolan irá dar muitas cartas no mundo de bandas-sonoras no seu futuro.

Tal como mencionado no início do artigo, filmes de terror pertencem aos géneros mais subjetivos da Sétima Arte. Ainda para mais quando se trata de filmes tão peculiares e artisticamente avantajados como os de Eggers

O compasso lento e o ambiente teatral não fará a delícia de todos os que estão à espera de ver um filme de terror comum, recheado de jumpscares baratuscos e de uma realização sem sal. 

Mas, para quem quiser imergir num mundo à parte e ter os seus sentidos assaltados por uma obra-de-arte moderna como traços de antiguidade infiltrada todos os segundos de filme, então “Nosferatu” será a melhor opção para estas noites frias. 

Este é, sem dúvida, um pesadelo gótico que dura 2 horas e sobre o qual não queremos, de todo, acordar. 

8.5/10

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