A terceira temporada de “Chilling Adventures of Sabrina” tem muitas coisas a favor e contra si. Infelizmente, com poucos episódios, existiram fatores que definitivamente não beneficiaram esta nova sequência. Esta season teve uma ligeira decadência em relação às anteriores pela perda de foco na narrativa e pela tentativa de aprofundar o desenvolvimento de várias personagens ao mesmo tempo.
A seguinte crítica poderá conter alguns SPOILERS de todas as temporadas de “Chilling Adventures of Sabrina”!
A história recomeça com Sabrina e os seus amigos a irem ao inferno salvar o seu namorado Nick, possuído pelo Senhor das Trevas, pai da jovem. Entretanto uma nova ameaça chega à fragilizada Academia das Artes Ocultas: uma feira comandada por deuses pagãos que prometem ser uma ameaça nova a Greendale e ao mundo da bruxaria. Irá a Igreja da Noite , liderada por Zelda Spellman, sobreviver a esta nova ameaça sem a proteção de Lúcifer?
Ao longo dos episódios a história promete ser mais negra e a introdução a mais detalhes deste mundo sombrio. Achei interessante a introdução dos pagãos como ameaça à narrativa. As jornadas de algumas personagens no começo prometiam ser interessantes, algumas personagens pareciam estar a ir para um rumo que prometia apelar a mais emoções e tornar certas personagens mais complexas. O carisma de muitos dos atores certamente ajuda a manter o interesse nos seus arcos, bem como a mantermos muita ou alguma simpatia por cada um.
Infelizmente partimos para os contras que senti no começo. Apesar do plot desta temporada ser claro, senti toda uma falta de foco numa trama principal. São tantas side stories a decorrer em simultâneo que a ausência de um problema “principal” acabou por me fazer sentir perdida relativamente ao que estaria em causa. As personagens vão em tantas jornadas ao mesmo tempo que muitas vezes perde-se o fio à meada. No último episódio houve inclusive um momento na história em que houve uma grande batalha entre os pagãos e os bruxos… que nos é relatado duas vezes de forma breve e não mostrada (o que me fez rebobinar essas partes para processar o que deveria ser sido mostrado e não contado)!
Outro grande defeito que senti foi o desenvolvimento exagerado e apressado que deram a certas personagens. O arco de Nick, por exemplo, torna-o de uma vítima de tortura a lidar com stress pós-traumático, para um autêntico parvalhão de um momento para o outro. Faustus Blackwood foi outra personagem que passou de um antagonista perspicaz e cínico a um mero “vilão de riso malvado”.
Por outro lado, há personagens introduzidas com muito potencial desperdiçado. Além de muitos dos pagãos (cujas histórias me deixaram a curiosidade muito insatisfeita), destaco o caso do Príncipe do Inferno, Calibã. O ator claramente tem talento e num guião mais organizado poderia ser mais olhado como uma verdadeira ameaça para Sabrina. Infelizmente a sua apresentação é tão vã que ele não passa de um antagonista “bonitão” lembrado como sendo a personagem “feita de barro”.
Os plotholes da história começam a ser mais berrantes a partir do momento em que a história vira para o cliché das viagens no tempo. Este é um tema complexo de executar em ficção e em muitos casos gera confusões na narrativa. Aqui, graças a uma decisão de Sabrina (que fez má decisão atrás de má decisão anteriormente) cria-se um nó no tempo cujas consequências ainda estão por apurar completamente. É certo que a dualidade da jovem com a sua escolha entre o Inferno e o Mundo Humano é um tema sempre presente, mas com os acontecimentos do fim da temporada 2, esperava mais maturidade, mesmo da parte de uma adolescente de 16 anos.
O mais grave da situação é a protagonista saber que teria que voltar atrás no tempo e voltar a um certo ponto na história de modo a evitar confusões. Infelizmente, mais por egoísmo do que por pouca inteligência, Sabrina faz uma escolha com a qual eu dificilmente simpatizo: consegue ser a rainha do inferno e uma adolescente normal ao mesmo tempo. A escolha cria um time paradox que não só confunde os espectadores, mas também que tem consequências que poderiam perfeitamente ser evitadas. Por muito que entenda o dilema da jovem, senti que ao longo desta temporada houve uma questão de responsabilidade que ela poderia ter assumido nesta temporada (sobretudo com as escolhas) que mostraria melhor o seu amadurecimento. Em vez disso, a ingenuidade da adolescência sobrepôs-se à lógica.
Esta temporada certamente correu riscos e experimentou várias coisas ao mesmo tempo na narrativa, mas infelizmente com tantas histórias não há uma principal que pegue até à dos últimos episódios que infelizmente foram marcados por plotholes. Muitos outros elementos foram muito mal aproveitados, mas foi a falta de uma trama de foco principal o que mais prejudicou esta S3. Talvez os eventos da S4 ajudem a juntar muitas das questões que esta deixou, contudo restam agora as especulações dos fãs que, apesar de tudo, certamente se poderão divertir a averiguar o paradoxo deixado por Sabrina.
Nota extra da autora: Li em várias críticas que outro dos fatores que prejudicou a sério foi o desejo de aproximar “Chilling Adventures of Sabrina” de “Riverdale”; contudo, como eu não vi a segunda série em causa (e provavelmente nunca verei), infelizmente não pude abordar esta questão da melhor forma.