“Chilling Adventures of Sabrina” (“As Arrepiantes Aventuras de Sabrina”) acaba de ver estrear a sua terceira temporada num reboot à série sobre a bruxinha adolescente que tem vindo a ganhar fãs quer pelos comics quer pela aclamada sitcom. Contudo, será esta nova versão da história algo que faça jus a quem gosta destas histórias de magia?
Para muitos, a primeira coisa em que pensam quando ouvem o nome “Sabrina” é na sitcom protagonizada por Melissa Joah Hart que foi emitida durante os anos 90 indo até aos começos dos anos 2000. Contudo a bruxa já conta com um longo histórico na área dos comics desde os anos 60 que conta com uma longa linhagem de histórias e aventuras. A série em causa é baseada numa nova série publicada pela Archie Horror (parte da Archie Comics), numa tentativa de dar um tom mais sombrio à bruxinha adolescente e à sua história. A Sabrina de Kiernan Shipka é toda uma personalidade muito diferente da interpretação de Joah Hart, o que torna uma comparação um tanto injusta porque ambas as atrizes conseguem criar uma boa versão da sua personagem (uma com mais humor, outra com mais seriedade).
“Chilling Adventures of Sabrina” conta-nos uma nova história na qual Sabrina, mais uma vez perto de fazer 16 anos, está para se juntar à Igreja da Noite de modo a seguir a tradição da sua família. A jovem, sendo meia bruxa e meia mortal ver-se-à confrontada com o dilema de escolher entre duas vidas. Irá Sabrina abraçar totalmente o seu lado de bruxa e a aceitar o seu destino ao lado do Senhor das Trevas, ou irá o apego à sua vida mortal ser um obstáculo constante?
Não irei revelar demasiados spoilers de modo a não estragar a experiência do espectador. Contudo, quem mostrar queda por séries de fantasia ao estilo de “Buffy the Vampire Slayer”, certamente irá encontrar nesta série algo com que se identificar. Mesmo sendo um reboot, esta série aos poucos apresenta-nos ao mundo (e à religião) com os quais a protagonista terá que ir lidando ao longo do enredo.
A série é visualmente bem-conseguida com uma narrativa que leva o seu tempo a guiar-nos pelo mundo mortal e pelo mundo por detrás da Igreja da Noite. Vemos a história através de Sabrina, dos seus amigos mortais, das suas tias Hilda e Zelda, do seu primo Ambrose entre outras personagens que irão aparecendo. Os cenários coloridos dos primeiros comics e da sitcom são substituídos por cenários mais negros, góticos e sinistros, algo que se nota até no liceu de Greendale.
No entanto, o drama da escolha entre duas vidas acaba por ser um tema muito persistente ao longo das duas primeiras temporadas, assim como as regras ríspidas, retrógadas e misóginas da Igreja da Noite. Em “Chilling Adventures of Sabrina” somos introduzidos a um culto com regras ríspidas, num ambiente muito menos familar em relação à série dos anos 90, e mais parecido com o de Buffy. Há momentos de humor (incluindo humor negro), mas esta definitivamente é uma abordagem arriscada mas eficaz em certos momentos no estilo de história.
Como pontos negativos tenho a apontar alguns plots da primeira temporada (especialmente as side stories passadas no mundo mortal), bem como a duração dos episódios. Algumas tramas não justificam a longa duração dos episódios e alguns dos dilemas prolongam-se em demasia a ponto de quase parecerem filler. Outras pequenas tramas tais como os temas ligados ao feminismo, no mundo humano acabam por cair um pouco em orelhas moucas, quase como se a série quisesse passar uma moral rápida relativamente ao tema, algo que felizmente é mais bem explorado no mundo dos bruxos.
“Chilling Adventures of Sabrina” chegou à sua terceira temporada e embora eu não tenha ainda conseguido ver todos os episódios, sem dúvida que é uma série que tem mantido uma qualidade consistente. Pode não ser algo que agrade a todo o tipo de públicos (ou até aos mais “agarrados” a uma Sabrina mais cómica); no entanto, a nível de história e estrutura tem-se mantido leal ao conceito, melhorando aos poucos no que toca à complexidade dada à narrativa. Sim, há revelações surpreendentes e um bom desenvolvimento de personagens ao longo dos episódios e a maior parte das personagens não se revelam demasiado unidimensionais. É evidente que isto é direcionado a um público mais adolescente, ainda assim, mesmo os mais velhos com gostos mais liberais podem encontrar nesta série algo que apreciar.
Esta versão de Sabrina pode não ser para todos, mas é certo que está de momento a fazer o seu melhor para fazer jus ao comic no qual é baseado, bem como para criar um mundo que certamente é envolvente para quem quiser dar uma chance à série. Eu mesmo sentindo grande nostalgia pela sitcom dos anos 90, dei uma hipótese e apesar de não me fascinar, certamente tenho-me sentido incentivada a continuar. Experimentem dar uma olhada pelo menos à primeira temporada e quer seja a vossa “cena” quer não, certamente está uma adaptação interessante e feita com esforço.
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