The Haunting of Bly Manor: Do pior para o melhor episódio

Mike Flanagan conseguiu outra vez. Depois do tremendo sucesso que foi “The Haunting of Hill House”, e depois de vários sucessos no grande ecrã como o recente “Doctor Sleep”, Flanagan voltou ao formato televisivo para nos dar “The Haunting of Bly Manor”, um género de sucessor a Hill House. 

Apesar de permanecer o criador desta nova levada de episódios terroríficos, Flanagan apenas realiza um único episódio – o primeiro -, dando a atmosfera e impulso inicial para a história e as pegadas pelas quais os outros realizadores têm de seguir. 

Apesar das suas semelhanças aparentes, Bly Manor é totalmente diferente de Hill House. Enquanto que é mais focada em aterrorizar o espectador a cada oportunidade que tem, Bly Manor é um drama sombrio, um romance gótico, um slow-burn que compensa em termos de personagens e de atmosfera aquilo que lhe falta em termos de terror propriamente dito. 

Em Bly Manor, Flanagan está mais preocupado em mostrar que a realidade é, muitas vezes, mais traumatizante que fantasmas e maldições. Esta é uma história sobre perda, amor, saudade, remorso. Apesar de não ser tão consistente e coerente como Hill House, continua a ser uma excelente entrada na filmografia de Flanagan

Depois de ver a temporada completa, decidi reunir todos os episódios de Bly Manor e fazer uma contagem dos mesmos, do menos bom para o melhor de todos. Nenhum dos episódios é mau por si, mas claramente que existe uma discrepância entre cada episódio e gostaria de dar a minha opinião sobre o assunto. 

Portanto, comecemos. E, atenção, avizinham-se spoilers de Bly Manor. Caminhem com cuidado. 

(Podem ler a crítica à série aqui: The Haunting of Bly Manor: Romance Gótico em Bom)


9º lugar – The Romance of Certain Old Clothes (episódio nº8)

Realizado por Axelle Carolyn, o penúltimo episódio é aquele que mais se destaca em todos os aspectos dos seus companheiros. Com o intuito de contar as origens da maldição que reside na mansão, este episódio vai a séculos anteriores e, com uma fotografia a preto e branco, conta uma história de época sobre poder e amor triangular entre duas irmãs. 

Apesar de nos dar respostas sobre o que existe na mansão e, especialmente, sobre  a Senhora do Lago, a verdade é que o episódio em si cobre pouca história e mastiga o seu enredo até chegar a uma conclusão. Como um fantasma, o episódio 8 arrasta-se um pouco e deixa a desejar na sua execução. 

THE HAUNTING OF BLY MANOR (L to R) CATHERINE PARKER as PERDITA and KATE SIEGEL as VIOLA in episode 108 of THE HAUNTING OF BLY MANOR Cr. EIKE SCHROTER/NETFLIX © 2020

8º lugar – The Two Faces part 1 (episódio nº 3)

Pelas mãos de Ciarán Foy, este é aquele em que começamos a ter algumas respostas sobre o que se passou com a parte serviçal da mansão, enquanto olhamos para o passado e vimos o início da relação de Quint e de ama Rebecca. 

Apesar de um final surpreendentemente emotivo com a morte da mãe do cozinheiro Owen, o episódio prolonga-se um pouco em certas minúcias entre o casal que não seriam necessários para percebermos o impacto da relação deles. Não deixa de ser realizado de forma competente por Foy, mas não é um dos episódios mais marcantes da temporada. 

7º – The Beast in the Jungle (episódio nº 9)

O último episódio, realizado por E. L. Katz, consegue ser bonito, poético, eficaz no desfecho da história, mas anti-climático e pouco cativante ao mesmo tempo. Todo o enredo sobre a mansão e os seus demónios tem uma conclusão um pouco apressada, enquanto que a relação entre Dani e Jamie (não sendo a relação mais interessante da temporada), demora a chegar aos seus momentos finais. 

Apesar de ter uma conclusão perfeita para a história, poderia ter sido ligeiramente mais limado e obteria um maior impacto emocional para com a audiência. 

6º – The Pupil (episódio º 2)

“The Pupil” é a primeira amostra que temos de como a série irá brincar com as nossas perspectivas e com o desenrolar temporal da história. Novamente nas mãos de Ciarán Foy, este episódio acompanha o rapaz Miles e o que ele fez no colégio interno para regressar a casa. Num estilo de “The Omen”, aqui entrecruzam terror com dúvidas religiosas, terminando com um jogo de esconde-esconde que termina de forma fantasmagórica. 

“The Pupil” é um forte indicador daquilo que a série tem para oferecer em termos de tensão, mas ainda não consegue atingir os patamares mais elevados. 

THE HAUNTING OF BLY MANOR (L to R) VICTORIA PEDRETTI as DANI and BENJAMIN EVAN AINSWORTH as MILES in THE HAUNTING OF BLY MANOR Cr. EIKE SCHROTER/NETFLIX © 2020


5º – The Great Good Place (episódio nº 1)

O único realizado por Mike Flanagan, este episódio-piloto é uma óptimo exemplo de execução a la Hansel e Gretel – oferece-nos as migalhas da história para conseguirmos seguir o enredo, sem nunca desvendar em demasia, colocando o mistério no ar e deixando-nos desejosos de perceber o que raio se passa aqui (desculpem a minha linguagem!). 

Com um profissionalismo já habitual vindo de Flanagan, consegue realizar um episódio competente, que serve de trajectória para os outros realizadores seguirem. Com toques semelhantes a Hill House, mas com sabor próprio suficiente para se revelar uma série totalmente diferente, este é um primeiro episódio perfeito para o que se aí se avizinhava. 

4º – The Way It Came (episódio nº 4)

Este episódio tem um pouco de tudo – momentos de terror, aprofundamento de personagens e um discurso tão puro por parte de Owen à beira da fogueira que quase me deixou lavado em lágrimas. 

Liam Gavin realiza este episódio de forma exímia, com um ritmo deliberadamente lento mas sem nunca arrastar a asa. Os momentos de terror são tão perturbantemente simples que nos arrepia até aos ossos. E a sequência das personagens à volta da fogueira é tão delicado que nos relembra que a realidade é mais crua e dura que os fantasmas que rodeiam estas pessoas. 

É a partir deste episódio que a Bly Manor começa a ganhar algum ritmo e a tornar-se cativante, tendo este merecido lugar nesta contagem. 

3º – The Two Faces part 2 (episódio nº 7)

É aqui que as cartas começam a ser reveladas. Começamos a perceber as mecânicas de como funcionam o universo fantasmagórico nesta série e as revelações começam a ganhar algum desfecho. 

Pelas mãos do duo Ben Howling e Yolanda Ramke, somos enviados a navegar pelo passado de Peter e as suas descobertas enquanto fantasma, tal como os seus planos para com a Rebecca para o futuro do casal, tal como o papel das crianças no meio disto tudo. Enquanto espectador, somos atirados para o sótão com a Dani e temos de presenciar momentos que nunca mortal deveria ver. 

Como muito bons filmes de terror compreendem, o mais terrorífico é o real e o que é implícito e não explícito. Este episódio percebe isso e consegue deixar uma marca profunda no seguimento do enredo e na nossa perspectiva da audiência. 

THE HAUNTING OF BLY MANOR (L to R) TAHIRAH SHARIF as REBECCA JESSEL and OLIVER JACKSON-COHEN as PETER QUINT in episode 107 of THE HAUNTING OF BLY MANOR Cr. EIKE SCHROTER/NETFLIX © 2020

2º – The Jolly Corner (episódio nº 6)

“The Jolly Corner” é um daqueles casos raros em que se consegue, em minutos, mudar a nossa opinião sobre uma personagem e criar um arco da mesma com um tremendo impacto emocional. 

Realizado novamente por Ben Howling e Yolanda Ramke, a personagem de Henry (Henry Thomas), o tio das crianças, dá uma reviravolta gigante, passando de desprezível e completamente quebrado, com problemas alcoólicos e emocionais e um peso sobre os ombros sobre a morte do seu irmão e cunhada que se manifesta por uma versão sua diabólica.

Apesar de ser mais despido em termos de acção, este é um episódio que nos contextualiza sobre a relação do tio com a sua família, como foi escorraçado da mesma e como não é o tipo de pessoa que pensávamos que era. Uma edição invejável e uma performance de Henry Thomas impecável, mesmo apesar de ser pouco utilizado durante toda a temporada, faz com que este deixasse uma marca gigante neste que vos escreve. 

1º – The Altar of the Dead (episódio nº5)

A meu ver, esta escolha não tem qualquer debate. “The Altar of the Dead” é, sem dúvida, o melhor episódio desta temporada, a competir como melhor episódio da série de Flanagan no geral. Pode até ser um dos melhores episódios que a televisão teve para oferecer este ano. 

Realizado por Liam Gavin, este é episódio está colocado no meio da temporada por algum motivo. Centrado na personagem da governanta Hannah (T´Nia Miller) – a melhor personagem de toda a temporada, convém afirmar -,este é o episódio em que começamos a ter revelações sobre o que está a acontecer, tal como acrescenta ainda um novo elemento que ainda não estava presente na história – poder-se voltar a presenciar memórias. 

A edição deste episódio é perfeita, conseguindo iluminar e confundir o espectador ao mesmo tempo. T´Nia Miller tem uma performance incrível, carregada de nuances e personalidade que incute à personagem. 

Todo a parte desconcertante do episódio culmina num final surpreendente, com uma revelação fenomenal e um murro emocional final que poderá colocar um espectador em lágrimas. Este não é apenas um grande episódio desta temporada – é um GRANDE episódio, ponto final. Vale a pena ver a série somente para poder absorver esta riqueza de 54 minutos do primeiro ao último segundo. 

THE HAUNTING OF BLY MANOR (L to R) ALEX ESSOE as CHARLOTTE WINGRAVE and T’NIA MILLER as HANNAH in episode 105 of THE HAUNTING OF BLY MANOR Cr. EIKE SCHROTER/NETFLIX © 2020

 

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