Jodie Foster continua a provar a sua versatilidade no misterioso e lúdico novo filme francês de Rebecca Zlotowski, “Vie Privée”.
Educada numa escola francesa em criança, Jodie Foster aprendeu desde cedo a falar fluentemente em francês. De tal maneira que quando “Taxi Driver” foi selecionado para Cannes, e sem viagem paga pelo estúdio, Foster (com cerca de 14 anos) e a sua mãe meteram-se num avião para não perder a oportunidade.
Quando Scorsese e De Niro ficaram pelo hotel mesmo após a Palma de Ouro, Foster tornou-se a revelação do festival percorrendo toda a imprensa francesa, numa jornada mediática que a levou mais tarde a participar em vários programas televisivos, publicidades e até pequenos papéis em filmes franceses no final dos anos ’70.

No entanto, o apelo de Hollywood foi mais forte e a carreira continuou do outro lado do Atlântico, em inglês e com vários Óscares à mistura. A exceção à regra ocorreu em 2004 quando aceitou um papel secundário em francês no romance de guerra “Un long dimanche de fiançailles”, primeiro filme de Jean-Pierre Jeunet após o êxito estrondoso do icónico “Amélie”. Mas tão longe dos anos do liceu francês, Jodie Foster sempre ficou reticente em aceitar um papel principal numa longa metragem francesa… até agora.
Rebecca Zlotowski, que há pouco tempo realizou o muito bem recebido “Les enfants des autres” convenceu a atriz de que ela estava à altura e que era a pessoa ideal para interpretar o papel de uma psicóloga americana a viver em França há muitos anos, com uma missão inusitada: provar que o suicídio da sua paciente foi na realidade um homicídio.

“Vie privée” vale sobretudo pela performance de Jodie Foster, exemplar no seu papel e com um sotaque francês irresistível. Mas também pelo seu parceiro de cena em grande parte do filme, o veterano Daniel Auteuil, no papel do seu ex-marido que acaba por relutantemente ajudá-la na investigação. A química entre os dois é notável e adorável, sendo o ponto forte de um filme que à parte disso fica aquém no mistério em si.
Os atores secundários que compõem a família da paciente (Virginie Efira, Mathieu Amalric e Luana Bajrami) têm papéis que podiam ter sido mais explorados, sendo que o argumento perde-se um bocado em hipnoses e mentalismos que ficam numa névoa que pouco acrescenta à história.
No fim, o que funciona melhor são os momentos peculiares e caricatos da vida real, e neles Foster e Auteuil são uma dupla formidável a que vale a pena assistir e desejar por mais.
