Era uma vez em Watership Down: uma boa tentativa da Netflix

“Era uma vez em Watership Down” foi uma das últimas apostas da Netflix ao tentar re-adaptar a história clássica de Richard Adams. Contudo, a minissérie de quatro episódios acerta em cheio em certos detalhes e desaponta um pouco noutros.

“Era uma vez em Watership Down” conta a história de um pequeno grupo de coelhos que fogem do seu lar original em busca de uma nova casa. Os coelhos ver-se-ão confrontados com vários obstáculos e ameaças na busca por uma nova casa. Esta é uma história que inspirou diversas outras narrativas sobre animais terem que encontrar um novo lar, quer por catástrofes naturais ou por interferência humana.

A história lida com temas muito negros (sobrevivência, religião, política, morte, etc), sendo bastante debatível a história se adequa a crianças ou não. Contudo, a série conseguiu transmitir uma boa parte da mensagem e essência da história original. Apesar de não ter nem metade da violência e imagens perturbadoras do filme de 1978 (com John Hurt como protagonista) ainda assim sentem-se os temas mais negros da narrativa. Certos momentos na história foram claramente estendidos e temos até algumas personagens novas. Isso ajudou a ter espaço para aprofundar certas partes da história em relação ao filme mas muitas vezes acertou outras fracassou.

No elenco contamos com talentos como James McAvoy (Hazel), Nicholas Hoult (Fiver), John Boyega (Bigwig) e até Ben Kingsley (General Woundwort). Aqui começam os primeiros pontos positivos desta série porque, de facto, as vozes são convincentes e conseguem render performances sólidas mesmo as personagens tratando-se de animais retratados de forma realista. Se há falhas na história certamente não é culpa deste voice acting sólido.

No que toca a temas principais, “Fire on Fire” de Sam Smith é uma boa alternativa a “Bright Eyes” de Art Garfunkel (embora essa música seja um eterno clássico). Aliás, a banda sonora em geral está bem conseguida transmitindo quase o mesmo feel que o filme.

Convém salientar que eu não li a obra clássica, mas vi o filme de 1978. Por isso, no que toca a comparações algumas serão inevitáveis, especificamente na história e na animação. No caso da animação, apesar de o CGI estar aceitável, o filme animado tinha uma vantagem por ser desenho à mão: a de poder caracterizar determinadas personagens de formas mais personalizadas (especificamente os protagonistas e os antagonistas) e que visualmente nos ajudassem a distinguir quem é quem no plot. Na minissérie, infelizmente, acabamos a não conseguir distinguir certas personagens umas das outras, especialmente nos momentos mais “escuros”. Dei por mim a não conseguir distinguir antagonistas de certos protagonistas perto do fim até.

Apesar dos meus elogios à história anteriormente, tenho que salientar que certas mudanças em relação à adaptação anterior para mim foram um pouco confusas. Por exemplo, nesta história ao terem dado os papéis importantes a mais que uma personagem tiraram muita da importância a Hazel como líder. Sim, o coelho não queria ser líder em nenhuma versão, mas digamos que no original a personagem endureceu mais cedo e mais eficazmente, enquanto que nesta versão o papel dele acabou muito “dissipado”.

É certo que há muitas personagens que têm papéis mais relevantes, ou extensos ou até alterados em relação ao filme (e talvez ao livro). No entanto, achei que algumas personagens talvez tenham tido demasiado tempo de antena em relação aos protagonistas mais relevantes (Hazel, Fiver e Bigwig). Isso para mim criou algumas partes um pouco desnecessárias na narrativa, embora o essencial na história tenha sido mantido.

A meu ver a minissérie poderia ter estado um pouco melhor em determinados aspetos. Esteve  bem como adaptação, mas digamos que no filme houveram momentos (especialmente falando em animação) que deram mais “alma” à narrativa visual. Quem leu o livro, certamente irá encontrar mais aspetos com que ficará desapontado, mas, no meu caso, há determinadas partes que talvez tenham sido melhor conseguidas no filme animado do que na série e o maior exemplo que tenho a apontar é o final (do qual não darei spoilers).

Definitivamente recomendo que vejam ambas as versões, mas a minissérie da Netflix é o suficiente para entreter por uma tarde. Com um bom elenco, história interessante e animação aceitável esta parceria entre a Netflix e a BBC acabou por trazer (alguma) justiça ao conto original de Richard Adams.

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