Quem diria, que de todos os realizadores norte-americanos, Richard Linklater poderia passar tão bem por um francês? Pelo menos é uma observação aleatória ao ver “Nouvelle Vague”, uma homenagem ao movimento cinematográfico homónimo dos anos ’60/’70 que levou ao início de uma nova era no cinema.
Para recontar esse período, Linklater toma por base as filmagens de “À bout de souffle”, a primeira longa-metragem de Jean Luc Godard numa altura em que o jovem realizador e crítico da revista Cahiers du Cinéma estava a sentir-se ultrapassado pelos colegas de profissão, todos eles com longas-metragens aclamadas enquanto ele continuava no circuito das curtas.
“O do meio é o Truffaut. À esquerda dele, o Chabrol. E o dos óculos escuros é o Jean-Luc… Godard. Ele é que é o génio. Pelo menos, é o que te dirá.”

Segundo conta a história, tudo o que é preciso é uma rapariga e uma arma. A arma seria carregada por Jean Paul Belmondo. A rapariga seria a norte-americana Jean Seberg. E o resto é história…
“À bout de souffle” conta a aventura de um vigarista, procurado por matar um polícia e roubar um carro, que tenta convencer uma estudante americana de jornalismo a fugir com ele para Itália. “Nouvelle Vague” retrata a aventura da produção desse filme, desde os dias que antecederam ao início da produção até à apresentação do filme, passando pelas filmagens de alguns dos seus momentos mais icónicos. Tudo num tom divertido que mistura o nostálgico, ao filosófico e ao melancólico.
Richard Linklater pega em todos os elementos característicos da época para fazer uma espécie de making of das filmagens de “À bout de souffle”, como se tivesse sido feito naquela altura. Imagem, som, montagem, tudo é pensado para nos mergulhar numa sessão de cinema em 1960.

E o facto de utilizar uma equipa francesa, habituada à evolução do material e da estética europeia, permite a certas pessoas como o diretor de fotografia David Chambille e a montadora Catherine Schwartz, ter aqui o trabalho mais distinto das suas carreiras e a outras como a diretora de guarda-roupa Pascaline Chabanme e a diretora artística Katia Wyszkop, mais um filme de qualidade nos seus repertórios.
Um dos trunfos mais fortes foi a decisão de “Nouvelle Vague” se apoiar num elenco quase todo ele composto de caras novas do cinema francês, muitas delas nos seus primeiros papéis como é o caso dos dois atores principais, Guillaume Marbeck (Godard) e Aubry Dullin (Belmondo), que caracterizam ao detalhe a voz, os maneirismos e o sentimento de quem representam.

E tal como no filme que Linklater recria, a atriz principal é uma jovem em ascensão vinda dos EUA, Zoey Deutch (“Before I Fall”, “Not Okay”), que transmite o magnetismo das estrelas de Hollywood da época, exigente com o realizador, maravilhada com o ambiente de Paris e desamparada pela produção francesa, tão diferente do ritmo dos estúdios norte-americanos.
“Nouvelle Vague” é assim uma justa homenagem, de um ponto de vista exterior aos franceses, mas tão enraizada quanto possível na época.
« Moteur, Raoul! »
