Comparações com o trabalho de Bryan Cranston na pele de Walter White podem parecer banais, mas a sombra de “Breaking Bad” paira definitivamente sobre “Your Honor”. Tanto é assim que, na verdade, não posso deixar de questionar a opção de Cranston surgir neste registo. Ao interpretar um homem moralmente justo, que se vê forçado a abraçar a criminalidade por causa da família, o ator é – obviamente – exemplar. Contudo, é impossível não fazer analogias desfavoráveis com a série de Vince Gilligan.
O artigo contém spoilers
Com Peter Moffat (“Criminal Justice”) a chefiar o navio, “Your Honor” vai desgastando a premissa de forma lenta, durante dez horas bastante indulgentes.
O primeiro episódio, escrito por Moffat, é poderoso. Converge gradualmente num acidente fatídico – uma cena construída de forma sublime, com camadas de desorientação que, a meu ver, têm o engenho deixar o público em estado de choque.
Numa tensão crescente e sufocante, o elenco apresenta-se numa Nova Orleães caótica e bastante desorganizada, antes de chegar ao acidente que estará no centro dos episódios subsequentes. Adam Desiato (Hunter Doohan), filho do juiz Michael Desiato (Bryan Cranston), tem um acidente de carro e, infelizmente, acaba por matar o motorista da outra viatura.
A realização é exímia, e parece convidar-nos a observar cuidadosamente o que acontece para, mais tarde, juntarmos todas as peças com bastante precaução. Portanto, seria legítimo esperar uma descida ao inferno para compreender os extremos da verdade a serem construídos num tribunal.
Contudo, Michael Desiato dá um passo em falso: prestes a fazer o que está certo, ao incentivar Adam a contar o sucedido às autoridades competentes, fica a saber que o rapaz que perde a vida no acidente é filho de Rocco Baxter (Michael Stuhlbarg), um dos maiores criminosos da cidade. A partir daí, é todo um “adeus” à justiça.
Desiato consegue sabotar a investigação de forma hábil, ao destruir múltiplas evidências, e, desta feita, ao perverter o curso da justiça. Todavia, quando outra pessoa acaba por ser presa pelo crime, as consciências começam a pesar, e é a partir daí que o plano vai por água abaixo.
Doohan faz um bom trabalho a lutar com a turbulência da culpa, enquanto que Adam, de forma subconsciente, une esforços para sabotar as investidas do pai.
Seja como for, “Your Honor” é uma série que Cranston carrega aos ombros de forma extenuante. Por vezes, temos vislumbres claros do desespero e determinação que tornaram Walter White uma autêntica lenda.
Com as variações necessárias sobre o tema e um termo de comparação tão incómodo, a série transforma-se num guerra de trincheiras no campo da ética e da natureza, com sub-tramas que pretendem ampliar a questão não só para o caso em si mas também para a própria humanidade.
É justamente desta forma que a obra de Moffat perde o brilho. Assim que se afasta da ratoeira gigante que prende verdadeiramente o público, surgem variações sobre um tema interessante, mas que não é original. Efetivamente, “Your Honor” conta com um campeão do género para se manter à tona e não afundar completamente.