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West Side Story: Spielberg em Modo Maestro

by João Borrega

É inegável que Steven Spielberg é dos realizadores mais versáteis de sempre na história de Hollywood. Com o início de carreira em 1971, ele já emprestou a sua visão aos mais variados géneros cinematográficos: desde thrillers (“Minority Report”) a drama (“The Post”), filmes históricos (“Lincoln”), passando por ficção científica (“E.t”), terror (“Jaws”), guerra (“Saving Private Ryan”) e até mesmo animação (“The Adventures of Tintin”). Spielberg já fez de tudo um pouco e sempre com excelência.

Porém, no meio de toda a sua filmografia, dos poucos géneros em que esta lenda ainda não tinha trilhado caminho era nos musicais. Portanto, foi com pompa e circunstância que se anunciou que isso iria mudar – Spielberg iria fazer um remake do clássico de 1961 “West Side Story”.

A história central de “West Side Story” é mais velha que o próprio tempo. Um amor proibido entre duas pessoas de polos diferentes, que têm de lutar contra tudo e contra todos para poderem ser felizes. Tal como Romeu e Julieta, A Bela Adormecida e até mesmo Edward Scissorhands, esta é uma história simples e emotiva, que tem todos os ingredientes certos para se ter tornado intemporal.

Ansel Elgort as Tony and Rachel Zegler as Maria in 20th Century Studios’ WEST SIDE STORY.

Com esta readaptação, Spielberg mostrou que é um maestro em pleno domínio das suas capacidades. Todos os momentos que estão escritos no argumento, Spielberg quis dar sempre o seu melhor para que nenhum segundo do filme fosse desperdiçado. Pegou no que o original fez de bom e elevou o material a um nível estratosférico.

A um nível técnico, e tudo o que isso engloba, “West Side Story” é irrepreensível. Desde a sequencial inicial, com um long shot a sobrevoar a destruição de uma parte do bairro onde o filme tem lugar, que podemos perceber que estamos nas mãos de um realizador que sabe perfeitamente aquilo que está a fazer.

Seja a nível de fotografia, montagem ou de fluidez de argumento, Spielberg e a sua equipa nunca perdem o foco da sua missão – fazer justiça ao original e dar a melhor versão que conseguem desta história. E é isso mesmo que o fazem, com uma naturalidade tanta que chegam a dar a sensação de que é fácil.

Longas sequências em planos amplos, para o espectador poder se maravilhar com as coreografias. Guarda-roupa que, para além de espelhar na perfeição as suas personagens e a facção a que pertencem, é rico em cores e vibrante. Uma mistura de som soberba que acasala na perfeição as músicas, falas e os sons do dia-a-dia, sem nunca baralhar o espectador.

O filme é povoado por personagens incríveis, composto por um elenco que dá sempre o melhor de si em cada ocasião. Um dos nomes mais falados é, sem dúvida, Ariana deBose, nomeada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária. Ariana oferece uma prestação formidável com a sua Anita, destacando-se num extenso elenco como um elo fundamental entre a história do casal principal e a audiência. E nunca é demais realçar que a sequência da música “America”, na qual ela é o centro, é dos melhores momentos do filme.

Ariana DeBose as Anita in 20th Century Studios’ WEST SIDE STORY.

Porém, Ariana não é a única a dar cartas neste filme. Igualmente formidáveis estão Mike Faist e David Alvarez, como os rivais Riff e Bernardo, ambos com uma presença tremenda e catapultando seriamente a sua carreira.

No que toca ao nosso par romântico, temos Rachel Zegler fenomenal no papel de María, conseguindo combinar a doçura e ingenuidade da personagem no início do filme com a mulher forte, independente e madura que se revela no final com uma subtileza eficaz e fascinante. E a sua voz é divinal, não admira que tenha sido escolhida para fazer de Branca de Neve no próximo filme live action da Disney.

No outro espectro do casal temos Ansel Elgort, um dos nomes mais reconhecidos do elenco e que, infelizmente, é o ponto mais fraco do filme. Ansel até demonstra que está a dar o seu melhor, mas considero que este seja mesmo um problema de casting. Seja na parte da interpretação das músicas, das coreografias e até mesmo de encaixar no papel de um rufia que aprendeu com os erros do passado e quer mudar a sua vida, Ansel não convence em nenhum destes pontos e destaca-se negativamente em relação aos actores que o rodeiam como um tubarão no meio de uma poça.

Contudo, “West Side Story” é um ataque a parte sensorial ao espectador, prendendo a nossa atenção ao longo de 2:30h, num misto de tensão entre altos e baixos, atingindo um climax que deixará qualquer espectador embasbacado com o filme (conhecendo ou não o desfecho do mesmo).

West Side Story” é formidável e um dos melhores exemplos de sempre de como readaptar um filme que já existe. Esta é a primeira jogada de Spielberg no campo de musicais e, tal como na maioria do que realiza, ele o fez com toda a maestria a que já estamos habituados. Mas é sempre bom destacar que estamos nas mãos de um dos melhores realizadores de sempre – e ele nunca nos deixa esquecer isso.

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