Violet Evergarden é uma série da qual eu não esperava gostar tanto. Além da arte maravilhosa que compõe este mundo baseado na Alemanha pós-guerra, esta é uma série que definitivamente apela às emoções em vários sentidos. Com uma protagonista que aos poucos decifra o verdadeiro significado de “amo-te”, somos levados numa jornada que ajuda uma “Boneca Automática” a aceitar os seus sentimentos e cicatrizes do passado.
Este anime conta a história de Violet Evergadren, uma jovem que foi treinada e usada como arma militar durante um conflito entre duas nações poderosas. Separada do seu guardião o major Gilbert Bougainvillea (alegadamente desaparecido em combate), Violet é uma pessoa de poucas emoções, embora se sinta intrigada com as últimas palavras deixadas pelo seu guardião. Acolhida pelos Evergarden, parentes distantes do major, a jovem começa ainda a trabalhar na CH Postal Company como Boneca Automática. Este cargo, exercido por mulheres, implica a escrita de cartas que visam ajudar a população analfabeta e/ou iletrada a expressar os seus sentimentos aos seus entes queridos. Isto coloca a jovem numa jornada pessoal de descoberta e cura espiritual que a irá obrigar a enfrentar as cicatrizes do seu passado.
Sei que talvez muitas pessoas não se sintam atraídas pelo conceito de anime (e algumas por animação de todo), contudo que é otaku sabe que dentro deste ramo existe uma série para todos os tipos de gostos. Sendo eu muito picuinhas a escolher séries do género para ver (sou mais atraída por séries com um conteúdo ou arte mais “maduros”), ao ver as sugestões na minha playlist da Netflix, houveram vários fatores que me saltaram logo à vista e me convenceram a dar uma chance a esta série.
O primeiro e mais óbvio: a arte e o visual. Esta é capaz de ser uma das séries mais visualmente incríveis que alguma vez vi. As personagens têm os traços típicos em anime, contudo não são nem demasiado exagerados nem estapafúrdios o que me atrai mais. Além disso os cenários claramente inspirados na Alemanha pós-guerra notam-se, ao mesmo tempo que ajudam a criar um universo único (nas vestimentas, transportes, armas e até na terminologia vistas nas cartas) e um tanto nostálgico.
O segundo fator foi o facto de ser uma jornada pessoal de uma personagem que mal apresenta emoções no começo da narrativa. Violet Evergarden responde de forma muito mecânica ao contacto humano e o facto de ter dois braços metálicos pode fazer-nos olhar para ela mais como uma máquina do que como uma pessoa. O único fator que desperta alguma emoção em si é o Major Gilbert Bougainvillea, pelo qual nutre um forte sentimento que a própria não compreende.
Mais do que uma rapariga que visita várias pessoas e tenta compreender os seus sentimentos e expressá-los por cartas, Violet começa aos poucos a reconhecer as suas próprias cicatrizes internas enquanto que ajuda outras pessoas com vários outros dilemas. O desenvolvimento e a humanização da jovem tornam-se cada vez mais marcantes em cada episódio e a série bem ajuda o espectador a sentir o mesmo que a protagonista. Num episódio em particular (ep 10) eu própria quase chorei, não exatamente pela situação triste que foi apresentada, mas pela emoção expressada por Violet a uma certa altura (não darei spoilers, pois quem viu sabe do que estou a falar).
Mais do que um anime “bonito”, Violet Evergarden é capaz de ser uma das melhores séries que vi. Apesar de serem poucos os episódios e de haver um filme à vista (que infelizmente foi adiado várias vezes, estando a estreia prevista para 24 de abril deste ano) a série ganha pontos pela história profunda reforçada pela animação brilhante e banda sonora incrível. É uma série que permite um aprofundamento daquilo que compõe muitas emoções humanas. Temas como a perda, solidão, depressão, culpa, sonhos, amor e esperança são mostradas e bem expressadas quer através de cartas, quer através das personagens que ajudam Violet na sua jornada.
É uma série que nos mostra que há sempre um traço de esperança mesmo após as piores tragédias na vida de um ser humano. Aprendemos com Violet não só a decifrar e expressar muitas emoções, mas também que não é errado senti-las. Não é a típica série de anime popular carregada de ação, humor exagerado ou fanservice, porque mais do que ser mais uma série dentro desta indústria, Violet Evergarden definitivamente veio para marcar presença.
