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Until Dawn – Crítica Filme

by Ricardo Brito
Until Dawn

Quatro amigos, perdidos numa casa isolada no meio de uma floresta densa, com a única missão de aguentar a pele até o sol raiar? Se esta premissa vos soa familiar é porque, de facto, já navegámos por estas águas do terror cinematográfico vezes sem conta.

A fórmula é tão gasta quanto um tapete de entrada mas, caramba, continua a atrair-nos para a sala escura, armados com baldes de pipocas e a esperança de um bom susto. Until Dawn, o filme, tenta agarrar-se a esta estrutura batida, mas será que chega à alvorada com honra ou fica pelo caminho?

O realizador David F. Sandberg, conhecido por nos tirar o sono com Lights Out e Annabelle 2, junta-se ao argumentista Gary Dauberman para nos apresentar esta nova iteração do universo Until Dawn. É importante sublinhar que não estamos perante uma cópia carbono do jogo de PlayStation; é mais um primo distante que pede emprestado alguns traços de família. O elenco traz caras conhecidas do género, como Ella Rubin, Michael Cimino e o sempre intrigante Peter Stormare, prometendo um bom conjunto de vítimas.

A narrativa arranca sem meias medidas, atirando-nos para dentro de um carro com cinco amigos a refazer o último percurso da irmã desaparecida de Clover, a nossa protagonista. As apresentações são tão breves quanto um match no Tinder, e a profundidade das personagens parece ter ficado noutra paragem. Depressa percebemos que a resposta para o mistério reside numa mansão que parece guardar mais segredos do que um político em campanha. Se o prelúdio poupa no build-up, a trama principal compensa com um ritmo frenético e um rasto de sangue que dificilmente se apaga.

Se no jogo as vossas escolhas ditavam quem sobrevivia ou perecia, aqui o terror é democrático e atinge a todos. O menu é vasto e generoso, servindo desde o terror slasher mais visceral, passando pelo sobrenatural arrepiante, o psicológico que nos rói a mente, até ao gore explícito. As mortes são, de facto, fantásticas e algumas até permitem um piscar de olho humorístico, o que, confesso, quebra um pouco a tensão, mas adiciona um sabor extra a este festim de horrores.

Os nossos cinco heróis, com uma perspicácia que por vezes desafia a lógica (sim, a “estupidez inata das personagens” marca presença), depressa percebem que estão num sarilho e que a melhor estratégia é simplesmente sobreviver até à bendita madrugada. Entre monstros variados e adversários que parecem sair diretamente dos nossos pesadelos, a missão torna-se titânica, quase impossível.

Apesar dos tropeços na construção das personagens e da falta de aproveitamento do conceito de time loop – que podia ter sido um motor narrativo fascinante e uma forma de explorar o trabalho de equipa –, o filme cumpre a sua promessa de entretenimento. É rápido, violento q.b., e sim, divertido.

As personagens, como referi, vestem a camisola do estereótipo sem grande esforço. Clover (Ella Rubin) é a heroína resiliente mas algo perdida, em busca de respostas para o desaparecimento da irmã, com uma determinação que por vezes roça o descabido. Ao seu lado, Max (Michael Camino), o amigo (e ex-namorado?) preso numa friendzone digna de medalha de bronze nos jogos olímpicos e que transforma a dor de Clover na sua cruz pessoal. Temos o casal, Nina e Abe (Odessa A’zion e Belmont Cameli), que oscila entre a paixão ardente e uma indiferença fantasmagórica que, sinceramente, é cringe. E depois há Megan (Ji-young Yoo), talvez a personagem com mais brilho, cuja espiritualidade parece casar bem com a aura caótica do filme.

Visualmente, Until Dawn consegue pedir emprestado o suficiente ao jogo para nos fazer sentir num mundo familiar. Os cenários estão bem pensados, contribuindo para a atmosfera. A direção é competente, mantendo o ritmo elevado, e os efeitos sonoros cumprem o seu papel, embora não se destaquem na arte de sublinhar momentos cruciais ou construir tensão rítmica.

Em suma, Until Dawn é aquele filme para assistir no cinema à noite com muitas pipocas, onde as mortes são tão espetaculares quanto as criaturas são assustadoras. Distrai, entretém e faz-nos esquecer as notificações do telemóvel por um bom bocado. Só não entrem nesta casa isolada à espera de uma cópia fiel do jogo original!

6/10

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