Home Cerimónias Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs The Reverend: Desilusão total

Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs The Reverend: Desilusão total

by Miguel Revel
Kimmy vs The Reverend

“Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs The Reverend” é um dos 5 nomeados ao Emmy de Melhor Telefilme. No entanto, a nomeação deste filme interativo é incompreensível.

Quando em 2018 a Netflix apresentou o filme interativo “Black Mirror: Bandersnatch”, os utilizadores da plataforma de streaming mergulharam em mais de 2 horas de mistério e ficção científica, que apesar de não estar ao nível do melhor que “Black Mirror” já ofereceu, não deixava de funcionar como uma experiência extremamente imersiva em que nos sentíamos culpados das consequências trágicas das nossas decisões sobre a vida das personagens.

Uns meses depois “Bandersnatch” acabou por ser premiado com o Emmy de Melhor Telefilme e um prémio especial de desenvolvimento criativo. Nessa mesma altura a Netflix começou a procurar outras séries que resultassem num formato interativo e a equipa de “Unbreakable Kimmy Schmidt” propôs-se à experiência.

No entanto, enquanto Tina Fey e a sua equipa criativa prometiam uma aventura interativa com 5 linhas narrativas interligadas, num desafio ainda mais complexo que “Bandersnatch”, o resultado é exatamente o inverso. Uma mentira total? Uma jogada de marketing? Uma tentativa falhada?

© Courtesy of Netflix

Mas antes, vamos recuar a 2015, à série original “Unbreakable Kimmy Schmidt”, nomeada a 18 Emmys. Criada por Tina Fey (“30 Rock”) e Robert Carlock (“Friends”), a série de comédia seguia uma mulher resgatada de um culto. Kimmy Schmidt (Ellie Kemper) foi raptada na adolescência e colocada em cativeiro num bunker subterrâneo, juntamente com outras três mulheres, aos cuidados de um reverendo que dizia que as tinha salvado do apocalipse. Quando décadas depois consegue fugir,  Kimmy Schmidt muda-se para Nova Iorque, onde começa uma nova vida junto do colega de apartamento Titus Andromedon (Tituss Burgess) e da senhoria Lillian Kaushtupper (Carol Kane).

As três primeiras temporadas da série conjugavam de forma excelente a emancipação feminina, com humor irreverente, numa versão colorida e ingénua de uma atualidade cada vez mais problemática. Abordando todo o tipo de temas, da crise económica à identidade de género, a série era extremamente relevante pela perspetiva como retratava a sociedade.

© Courtesy of Netflix

Acontece que, por alguma razão, após os escândalos sexuais que deram origem ao movimento #MeToo, a série levou uma remodelação tão grande na forma como retratava os temas, que a quarta e última temporada, em vez de se tornar ainda mais relevante, tornou-se simplesmente ridícula, sem piada e uma caricatura daquilo que antes fazia tão bem.

Dividida em duas metades, o resultado foi tão insípido que a metade final da última temporada nem foi nomeada a um único Emmy. Infelizmente, “Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs The Reverend”, em vez de aproveitar esta oportunidade única para regressar aos tempos glórios da série, segue exatamente na mesma linha sem inspiração da última temporada.

Acima de tudo, para um filme interativo, “Kimmy vs The Reverend” não dá bom uso às potencialidades da interatividade. Muito rapidamente percebemos que o formato é extremamente limitado, quando por múltiplas ocasiões obriga-nos a voltar atrás até escolhermos a opção que eles querem para seguir com a história.

© Courtesy of Netflix

Por exemplo, quando numa chamada telefónica de Kimmy temos três opções (Cyndee, Gretchen e Donna Maria) mas apenas uma permite continuar a história. Ou quando nos dizem ‘opção errada’ e obrigam-nos a ver de novo a cena anterior para escolher a ‘opção certa’. A situação mais absurda é quando Kimmy está frente-a-frente com o Reverendo e das quatro opções, três são ridiculamente violentas e desproporcionadas.

Por outro lado, muito cedo na história, as quatro personagens principais são separadas, seguindo por sketches extremamente simples e sem qualquer conteúdo ou contributo para uma história maior. Kimmy Schmidt e Titus Andromedon partem em busca do Reverendo fugido da prisão. Enquanto isso, Jacqueline White (Jane Krakowski) fica a empatar as filmagens do novo filme de Titus para não perceberem que ele está ausente e Lillian Kaushtupper acompanha o Príncipe Frederick (Daniel Radcliffe), que vai casar com Kimmy.

© Courtesy of Netflix

De todas as personagens, Titus Andromedon foi o único cujas escolhas inspiraram alguns momentos de humor, valendo uma nomeação a Tituss Burgess ao Emmy de Melhor Ator Secundário numa Minissérie ou Telefilme. Tudo o resto variou entre diálogos de Kimmy com a sua mochila irritante, o Príncipe a ser seduzido pela velha Lillian e uma cena extremamente insensível em que uma mentira de Jacqueline dá origem ao fim do #MeToo. A cena até podia ter servido como uma boa crítica à forma como o movimento perdeu o seu foco nos últimos anos, mas muito pelo contrário, o resultado é um momento ‘out of touch’.

Enfim, dificilmente se compreende como é que “Kimmy vs The Reverend” foi nomeado ao Emmy de Melhor Telefilme, numa categoria que deixa de fora “Togo”, com Willem Dafoe (e uma pontuação de 8,0/10 no IMDb!) e “The Clark Sisters: First Ladies of Gospel”, com Aunjanue Ellis (e uma pontuação de 7,7/10 no IMDb). E já que menciono as pontuações do IMDb (que não confirmam nem anulam a qualidade de um filme mas permitem ter uma perceção da reação do público), não compreendo também como é que este filme interativo tem 7,2/10 – uma nota que se pode considerar alta e, curiosamente, exatamente a mesma que o bem superior “Bandersnatch”.

“Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs The Reverend” está nomeado a 2 Emmys e encontra-se disponível na Netflix. Aconselho, no entanto, a que optem pelas primeiras 3 temporadas da série 😉

You may also like

Leave a Comment

-
00:00
00:00
Update Required Flash plugin
-
00:00
00:00