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Unbelievable: Um pedaço de arte educacional

by João Pedro

Para além de espelhar uma história verídica, “Unbelievable”, da Netflix, aborda um tema preponderante que deve ser analisado com maior sagacidade na sociedade. Por vezes, é quase irrisório que atos de violação possam ser abafados nos tempos em que vivemos. E, efetivamente, a partir do momento em que uma série se propõem a destacar o que as vítimas de agressão sexual passam, então, estamos perante um pedaço de arte excecional. E é verdade. “Unbelievable” é educacional. 

“Unbelievable” conta a história de Marie (Kaitlyn Dever), uma adolescente que cresceu num orfanato, e que, certa noite, é violada no seu apartamento. No primeiro episódio da série, Marie fica traumatizada com os acontecimentos; tem de repetir a história indefinidamente e seguir os processos policiais e médicos para abrir o caso.

Na verdade, este episódio é provavelmente o capítulo mais crítico da série, pois revela o resto da história. Parece que Marie mentiu sobre o caso de violação, devido à formação e avaliações psicológicas.

O que me leva ao próximo ponto; esta noção de que uma vítima de violação deve agir de determinada maneira depois de vivenciar algo horrível é irreversivelmente errada. Não há uma maneira científica ou comprovada de prever o comportamento de uma vítima de agressão sexual, e “Unbelievable” focaliza esse aspeto desde o início; a série apela a que o público entenda as variáveis e o trauma causado a milhões de vítimas em todo o mundo.

A premissa restante lida com as consequências da suposta “mentira” de Marie; as lutas das consequências da sua retratação, mas a história acende-se quando somos apresentados à detetive Karen Duvall (Merritt Wever) e a Grace Rasmussen (Toni Collette), depois de um caso de violação semelhante surgir à tona vários anos depois.

© Beth Dubber/Netflix

“Unbelievable” tem a sua voz própria para destacar a pressão mental que ocorre quando uma vítima está tentar contar a sua história. No caso de Marie, as câmaras são posicionadas de forma a que os investigadores se sintam maiores e agressivos, aproximando-se de Marie para que ela se sinta claustrofóbica e pressionada a ceder e remover a sua versão dos acontecimentos.

As performances são brilhantes; Kaitlyn Dever e Toni Collette são sublimes e garantem que o público consegue ficar bem informado.

Em termos de ritmo e progressão narrativa, os primeiros episódios podem parecer um pouco lentos, especialmente o primeiro e o segundo, todavia, mais tarde, as coisas tornam-se muito mais dramáticas e emocionantes.

O que é particularmente impressionante é a maneira como a série aborda o assunto. Nunca se esquiva das grandes questões e parte do trabalho da polícia parece ser retratado de forma realista. Os detetives trabalham de uma forma verdadeiramente exaustiva para chegar ao fundo da resolução em casos como este.

© Beth Dubber/Netflix

É algo lento e metódico e quando surge uma nova evidência, parece que também conseguimos sentir o alívio e a euforia que passa pela mente da polícia com as pequenas vitórias. É uma forma inteligente de mostrar esta linha de trabalho, juntamente com o diálogo e os vários termos usados ​​na gíria policial.

No fundo, porém, “Unbelievable” é um “abre olhos” (perdoem-me a expressão) comovente e relevante de como a agressão sexual pode ser devastadora. Uma palavra de advertência: embora eu não classifique nada na série como desmesuradamente gráfico, é uma história pesada que trata esta realidade sem pudor.

Desde a escrita de alto nível, as performances excecionais e a ótima realização, “Unbelievable” é impressionante. É uma série que eu espero que ressoe nos próximos anos.

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