The Worst Person In the World: É a promessa de vida no teu coração

Em 2006, quando o norueguês Joachim Trier entrou em cena com “Reprise”, o seu filme de estreia, encantou o mundo com um retrato eletrizante e convincente das alegrias, dores e ansiedades de três amigos na casa dos vinte anos. Com a possível exceção de “Louder Than Bombs” (2015), o seu trabalho continua dedicado aos jovens – aqueles que estão a começar a vida, ou por outra, a tentar encontrar o seu caminho. E agora, Trier fortaleceu esta abordagem com um filme melancólico, e que, provavelmente , é a obra mais bonita que concebeu até hoje.

“The Worst Person In the World” é sobre Julie (Renate Reinsve), uma jovem inteligente e inquieta que abandona o curso de medicina à beira de completar 30 anos. A verdade é simples: Julie não consegue decidir o que quer fazer da vida. Na faculdade, muda de curso para curso, experimentando-os à medida que avança e recua. Enquanto treina para ser fotógrafa, conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), que trabalha na criação de bandas desenhadas. Aksel tem 42 anos, é um homem bem sucedido e, por conseguinte, acaba por conquistar o coração da jovem. Depois de morar com Askel, no entanto, Julie percebe que a diferença de idades não é apenas um número. Também significa estilos de vida, objetivos e prioridades díspares. Desta feita, a longa metragem aborda todo um leque de escolhas e consequências.

Dividido em doze capítulos (mais prólogo e epílogo), “The Worst Person In the World” é um filme lírico, romanesco na sua forma e refinado, com todo o toque escandinavo por excelência. O que não quer dizer que evite ficar confuso. Na verdade, o filme deriva muito da autenticidade afiada da irregularidade, isto é, uma certa recusa em conformar-se com um arco narrativo limpo.

Conhecemos uma pessoa muito indecisa que se ocupa com as muitas distrações da vida e procrastina, dia após dia, a altura em que tem que se decidir sobre qualquer coisa. Alguns dos desvios que faz ao longo do caminho podem não parecer interessantes e significativos, mas é precisamente nesses momentos tranquilos de triunfos e derrotas que Trier descobre verdades sobre a abençoada e angustiada geração dos millennials. Não se trata de uma história de amadurecimento, mas sim sobre adultos que navegam na independência recém-descoberta e que aceitam, ou não, os primeiros arrependimentos.

Existe uma grande musicalidade na maneira como Trier realiza o filme. A ação move-se a um ritmo animado e cada capítulo é marcado por uma nota emocional distinta. E não posso deixar de mencionar a própria banda sonora: uma coleção de pop sintético, folk rock, bossa nova e orquestra clássica que faculta textura a tudo o que sentimos. Quando “Águas de Março” toca na cena final, é como se fossemos abraçados pelo sol e pela bondade.

Reinsve pode não ter sido nomeada ao Óscar de Melhor Atriz, mas pouco importa. Esta foi, prestando ou não atenção às prioridades da Academia Americana, uma das melhores performances femininas de 2021.

Não é muito frequente surgir um filme que consiga captar, de forma tão flagrante, uma geração inteira, mas à medida que os jovens ganham mais poder na sociedade e continuam a descobrir os seus próprios destinos, ao passar por demissões, mudanças de carreira e a abandonar relacionamentos por tédio, é revigorante observar este retrato tão cru e, mais importante ainda, nada ridicularizado.

Parabéns, Joachim Trier.

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