Fernando Meirelles está de volta à cadeira de realização para nos trazer “Two Popes”, que retrata diversos encontros entre o Papa Bento XVI e o atual Papa Francisco. Estreou na Netflix no final de dezembro.
A premissa do filme baseia-se essencialmente num/vários encontros entre o papa Bento XVI e o Cardeal Bergoglio, visto que se passa na altura antes da resignação de Joseph Ratzinger, algo que foi bastante falado, visto que a última vez que esta situação ocorreu foi em 1415.
Como Bento XVI, temos Anthony Hopkins e a interpretar Jorge Bergoglio (atual Papa Francisco), temos Jonathan Pryce, dois atores incríveis e veteranos do mundo do cinema. Eles são, sem dúvida, a alma deste filme pela maneira como trazem estas duas pessoas para o ecrã, pessoas que por vezes podem parecer inatingíveis, mas que aqui estão bem perto, quase como se fizéssemos parte das conversas que eles vão tendo ao longo do filme.
Melhor do que os atores, é a maneira como este filme é realizado, quase como se fosse um documentário mas sem a realidade dos factos a serem representados, visto que algumas situações não aconteceram na realidade. Mas a realização acompanha os dois papas de uma maneira intimista e com o qual o público se consegue relacionar melhor.
![](https://www.thegoldentake.com/wp-content/uploads/POPE_Unit_09129_rgb.jpg)
Fotografia: ©Peter Mountain
Para além disso, o cenário em que os dois papas tem as suas conversas como a Capela Sistina, a casa de férias do Papa e até o próprio Vaticano, são lugares icónicos e que nos liga ao filme.
O bom deste filme é que embora tenhamos dois lados completamente diferentes, sendo um mais conservador e outro mais progressista, eles transparecem uma humanidade como se, lá está, fosse fácil chegar aos mesmos. Eles comem pizza juntos e assistem à final do Mundial de 2014 mesmo com as suas duas equipas a defrontarem-se. Embora sejam diferentes, aceitam as suas diferenças em prol do que têm em comum: acreditarem em Deus.
Embora na altura o motivo da resignação de Bento XVI tenha sido a idade, o filme dá a ideia de que foi feita por ele achar que a Igreja precisava de uma mudança, alguém que visse as coisas de forma diferente e que ele considera ser Bergoglio, que quase foi eleito em vez dele pelo conclave.
Mas claro que isto também pode ser um dos pontos mais fracos do filme, vincarem em demasia esta dualidade de visões dos Papas em pequenas coisas como o Papa Francisco cantarolar ABBA e Bento XVI não. O facto de também os acontecimentos não serem tão fiéis à realidade pode empobrecer o filme, mas por outro lado temos momentos como o primeiro discurso do Papa Francisco que foi exatamente o que ele disse no dia em que ele foi eleito, e temos também um pouco do passado deste papa para o conhecermos melhor.
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Fotografia: © Peter Mountain
O filme dá várias vezes a sensação que era preciso mostrar esta relação para percebermos os acontecimentos aquando a resignação, tendo em conta que se não fosse (no filme) Joseph Ratzinger rejeitar a reforma de Bergoglio, este nunca poderia ter chegado a Papa. E isto torna-se interessante porque das primeiras coisas que o Papa Francisco pede no seu discurso é que todos orem por Bento XVI.
Este filme, portanto, contempla uma humanização destes dois papas ao nível de se saberem perdoar e reconciliarem-se consigo próprios mas acima tudo, de se aceitarem como humanos que erram, que precisam de assumir os seus pecados para proceder à mudança que Bergoglio representa ao longo do filme, a par e passo com Ratzinger.
“The Two Popes” está na Netflix e acho que merece ser visto, nem que seja para conhecermos um pouco melhor estes dois papas e sentir que podemos estar tão próximos deles, apenas com um ecrã de distância.
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