The Trial of Chicago 7: O julgamento em que não conseguimos desviar o olhar

THE TRIAL OF THE CHICAGO 7 (L to R) SACHA BARON COHEN as Abbie Hoffman, DANNY FLAHERTY as John Froines, EDDIE REDMAYNE as Tom Hayden, JEREMY STRONG as Jerry Rubin, MARK RYLANCE as William Kuntsler in THE TRIAL OF THE CHICAGO 7. Cr. NIKO TAVERNISE/NETFLIX © 2020

“The Trial of Chicago 7” chega amanhã à Netflix e traz-nos o julgamento de sete pessoas que foram acusadas de iniciar o motim em Chicago, na Convenção Nacional Democrática de 1968. Quando dizem que é um potencial candidato aos Óscares, sem dúvida que têm razão.

Inspirado em eventos reais, Aaron Sorkin traz-nos um olhar sobre este julgamento que durou 151 dias. Não sei até que ponto dizer o desfecho desta história verídica pode ser um spoiler para vocês se não souberem nada dos acontecimentos, mas o que posso dizer é que, após ver este filme, dá muita vontade mesmo de ir pesquisar sobre o assunto, perceber o que aconteceu, e tentar conhecer melhor as personagens.

Digo isto porque nós não temos propriamente uma apresentação das mesmas, neste caso dos arguidos. O filme demora mais ou menos 15 minutos a levar-nos até ao interior do tribunal onde os testemunhos são dados e as acusações são feitas, o que acaba por surtir este efeito de pesquisa após acabarem as duas horas de duração, nem que seja para percebermos o que realmente aconteceu.

Posso dizer que está aqui um grande candidato aos Óscares, especialmente num ano em que vemos muitos dos filmes a serem adiados e em que não temos ainda bem a certeza de outros potenciais candidatos. Histórias reais adaptadas para o grande ecrã são sempre boas apostas mas a maneira como são contadas é realmente o que acaba por se tornar ainda mais interessante.

THE TRIAL OF THE CHICAGO 7 (L-R) YAHYA ABDUL-MATEEN II as BOBBY SEALE, BEN SHENKMAN as LEONARD WEINGLASS, MARK RYLANCE as WILLIAM KUNTSLER, EDDIE REDMAYNE as TOM HAYDEN, ALEX SHARP as RENNIE DAVIS. NICO TAVERNISE/NETFLIX © 2020.

E Aaron Sorkin faz um óptimo trabalho nisso. Ao longo do julgamento vamos percebendo o que aconteceu através de flashbacks, o que está em causa, e sem dúvida que assistimos a alguns momentos que nos deixam de coração na boca… às vezes por serem tão semelhantes à nossa atualidade, algo que o próprio realizador já tinha comentado numa entrevista ao Hollywood Reporter dizendo:

“Eu nunca quis que este filme fosse sobre 1968. Nunca quis que fosse um exercício de nostalgia ou uma lição de história. Queria que fosse sobre os dias de hoje. Mas nunca imaginei que hoje se parecesse tanto com 1968.”

Durante o filme e muito graças à realização e argumento, nunca conseguimos retirar os olhos do ecrã. Se tiverem aquele pensamento de que só vão ver um pouco agora e o resto mais tarde, esqueçam, vai ser muito complicado não continuarem a ver. Fiquei muito surpreendida porque a primeira aventura como realizador de Aaron Sorkin foi em “Molly’s Game”, enquanto só o tínhamos visto como argumentista em “Social Network”, “Moneyball” e “Steve Jobs”, entre outros, e aqui acaba por ter uma realização impecável e essencial, tendo sido até mesmo utilizadas imagens dos eventos reais.

É como disse, o julgamento não pára, e com o passar dos dias, vamos também entendendo que a disposição do mesmo já não é igual. Se no início nos é mostrado uma vontade em querer mostrar a razão pela qual eles estão a ser acusados, resultando em diversas acusações de desrespeito ao tribunal por parte dos arguidos, a meio já temos quase um ambiente em que se faz uma questão ao juíz e já respondem todos em conjunto a resposta que sabem que vão ter, chegando mesmo a um momento em que eles já sabem que vão ser acusados de uma maneira ou outra e como tal já não têm nada a perder.

É daqueles filmes em que, sim, vemos violência e vemos as coisas a acontecer através da mesma por vezes, mas a maior arma utilizada são as palavras, as expressões e as citações.

THE TRIAL OF THE CHICAGO 7 (L-R) CAITLIN FITZGERALD as DAPHNE O’CONNOR, ALAN METOSKIE as ALLEN GINSBURG, ALEX SHARP as RENNIE DAVIS, JEREMY STRONG as JERRY RUBIN, JOHN CARROLL LYNCH as DAVID DELLINGER, SASHA BARON COHEN as ABBEY HOFFMAN, NOAH ROBBINS as LEE WEINER. NICO TAVERNISE/NETFLIX © 2020.

O elenco também não podia ser melhor. Fazem todos um trabalho incrível na representação desta história mas os grandes destaques vão para Eddie Redmayne como Tom Hayden que brilha o filme todo (especialmente na cena final), Sacha Baron Cohen como Abbie Hoffman, que acaba por se tornar o comic relief do filme juntamente com Jeremy Strong que interpreta Jerry Rubin, e Mark Rylance como o advogado deles (William Kunstler), que é a voz do público. Gostava de ter visto mais de Joseph Gordon Levitt, que interpreta Richard Schultz e de Yahya Abdul-Mateen II como Bobby Seale.

Também há que dar destaque ao próprio ator que interpreta o juíz Hoffman, Frank Lagella. É aquela personagem que vão sentir muita tensão ao assistir ao julgamento mas não podemos negar que a performance do ator está realmente incrível por nos fazer sentir todo o tipo de coisas. E claro, Michael Keaton que, embora apareça pouco, brilha sempre em cena.

A banda sonora de Daniel Pemberton é fundamental neste filme. Os crescendos que ela vai tendo em momentos mais tensos e as músicas escolhidas para os acompanhar, ajudam a que desde cedo estejamos dentro do mood que o filme tem.

Esta é, sem dúvida, uma das melhores apostas da Netflix do último ano e, como já referido mas reforçado agora, um grande candidato aos Óscares em 2021. Aaron Sorkin fez um belíssimo trabalho e espero, muito sinceramente, ver mais trabalhos dele brevemente.

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