Ao longo de dois dias, o filme de culto conhecido por ser “tão mau que é bom”, “The Room,” esteve em exibição no Cinema Passos Manuel nos dias 7 e 8 de Fevereiro, tendo conquistado as atenções de muitos portuenses. Quase 20 anos depois, o que parecia ser um projeto fracassado de Tommy Wiseau, tornou-se num fenómeno que continua a atrair atenções a nível mundial. O fenómeno esteve por duas vezes em Lisboa, mas agora foi a vez da cidade Invicta de dizer em coro “Oh Hai Mark!” ou “You’re Tearing me Apart Lisa!”.
“[The Room] não tinha quaisquer ingredientes para ter sucesso na altura. Fui ator em LA durante anos, tinha feito alguns projetos e estive perto de pessoas que tinham feito projetos relevantes. E este filme era na realidade sobre um pária, daquele tipo de pessoas que Hollowood não queria. E naquela altura pensei ‘ Não vai haver maneira deste filme chegar a alguém, não há hipótese!’.” – Greg Sestero
Esta é a história improvável de um filme com uma produção conturbada que ironicamente se tornaria num filme de culto à moda de Ed Wood. O filme de 2003 tem gerado atenção particularmente com o filme de “The Disaster Artist” dos irmãos Dave e James Franco) e desde então Tommy Wiseau passou de pária a uma figura, de certa forma, acarinhada pela legião de fãs formada um pouco por todo o mundo. A sua representação a sua interpretação polvilhada por falhas e falas caricatas, acabou por o tornar numa “estrela do desastre”.
“‘The Room’ é o que é, obviamente não é notado por ser um bom filme. Mas pensei que a história por detrás disto poderia dar um bom filme. Por isso pensei ‘Hey vou escrever um livro e contar uma história que se pode tornar num filme por conta própria.’ ” – Greg Sestero
Ao entrar no Cinema Passos Manuel o ambiente estava preparado quer para quem conhecesse o filme, ou não. Ao entrarem, as pessoas receberiam um conjunto de “regras” essenciais para antes de verem “The Room”. Pouco antes da entrada no filme o ambiente esteve montado com um pequeno bar ao som da banda sonora do filme. Greg Sestero, uma cara bem conhecida pelo menos para quem conhece o filme esteve presente o tempo todo acompanhado de elementos como o seu romance “The Disaster Artist”, o guião original de “The Room”, o seu último filme com Tommy Wiseau (“Best Friends”), assim como algum merchandising com citações que os fãs bem conhecem (“You’re Tearing me Apart Lisa!”).
“Eu escrevi e produzi ‘Best Friends’ e achei que seria interessante dar [ao Tommy Wiseau] um papel de representação, ver o que ele conseguia fazer e levá-lo a sério. Sempre senti que ele era uma personagem fascinante à qual nunca tinha sido dada a oportunidade de mostrar aquilo que ele é. ” – Greg Sestero
Após a entrada acompanhada com shots de scotchka, durante os dois dias no Passos no Escuro, a sessão começa com a apresentação de um documentário de Sestero. Com declarações do resto do elenco de The Room, bem como alguns momentos reais do behind the scenes, muitos já se riam com os relatos, os quais pareciam sátira (mas que eram reais) mas que deixavam as pessoas cada vez mais curiosas pelo filme.
“[Estivemos] em muitos e muitos países e todos falam o mesmo ‘idioma de filme’. Todos estão excitados por lá estar, todos têm perguntas, todos estão intrigados, todos querem saber mais! – Greg Sestero
Greg Sestero entra em cena após a exibição do documentário com o guião original de “The Room”. O ator de 41 anos aparece com uma naturalidade e uma simpatia incondicional para com os fãs, estando muito habituado a várias perguntas que os fãs colocam até fora de palco. O ator inclusive convidou durante os dois dias vários fãs a subir ao palco e a porem-se na pele de Johnny, Mark e Lisa numa versão exclusiva do guião original do filme.
“Por alguma razão este filme, ‘The Room tinha algo como que… uma certa magia para com ele, se é que se pode chamar tal, que faz com que as pessoas se atraiam para ele. E acho que isso é uma grande lição como eu disse, e espero que é algo que eu possa continuar a fazer: coloca o teu coração naquilo que tu faças e com sorte uma audiência universal irá recebê-lo” – Greg Sestero
No início do filme, começa um ritual improvável entre os fãs. As tais regras que foram entregues aos fãs à entrada entram completamente em jogo num serão animado. Os espectadores citam o filme, insultam e gozam com as personagens, arremessam colheres ao ecrã sempre que aparecem retratos com colheres e atiram bolas de râguebi a toda a volta sempre que os personagens jogam à bola. Durante dois dias, quer se conhecesse o fenómeno de “The Room” quer não, a experiência, além de única, é sem dúvida marcante.
É uma experiência comum em que tens a liberdade de ir até a uma sala de cinema e fazer aquilo que tu quiseres. E precisamos disso, de sermos capazes de não ter regras! É um caos organizado: há um conjunto de regras, mas podes fazer o que quiseres. Há uma certa liberdade ali que é interessante.” – Greg Sestero
Assim terminaram dois dias dedicados a um filme que tem um tipo de sucesso similar ao de Ed Wood. O “caos organizado” deixou muitos espectadores com uma experiência que lhes permitiu desfrutar de um filme mau. Greg Sestero, atualmente com 41 anos, abraçou este projeto como uma parte da sua vida que sem dúvida se tornaria memorável de forma coletiva. No entanto, “The Room” definitivamente abriu-lhe várias portas no mundo da representação, estando o ator para aparecer na Temporada 2 de “The Haunting of Hill House” da Netflix (a ser lançado durante este mês na plataforma de streaming).