The Politician é a nova série da Netflix, da autoria de Ryan Murphy, que conta com Ben Platt, Lucy Boynton, Zoey Deutch, Jessica Lange e Gwyneth Paltrow. E sim, nós já fizemos binge-watching!
Payton (Ben Platt) sonha ser presidente dos EUA desde os sete anos e preparou-se para isso: leu tudo sobre os presidentes anteriores, (especialmente sobre Ronald Reagan que cita diversas vezes durante a temporada), frequentou todas as actividades curriculares e agora candidata-se para presidente da AE da sua escola para conseguir entrar em Harvard, universidade que ele escolheu por ter sido também a que formou sete dos presidentes.
E a introdução da série mostra-nos exatamente estas camadas do futuro político, ao aparecerem várias coisas que acabam por compor a essência da personagem enquanto ouvimos “Chicago” de Sufjan Stevens, que deixem-me que vos diga, é uma óptima escolha, porque acaba por fazer sentido a escolha quando a história se começa a desenvolver.
Quero realçar em primeiro lugar que se nota claramente que esta é uma série de Ryan Murphy em diversos aspectos. E não nos podemos esquecer das séries da sua autoria como “Glee“, “American Crime Story“, “POSE“, “American Horror Story“, entre outras, porque “The Politician” acaba por ter elementos de cada uma delas, daí também ser tão fácil associar a Ryan. Este é o primeiro projecto de cinco anos que tem acordados com a Netflix.
Payton concorre então para presidente da AE e tem consigo a sua namorada Alice (Julia Schlaepfer), McAfee (Laura Dreyfuss) e James (Theo Germaine) que o ajudam com a campanha. Tudo parece estar encaminhado até que o seu colega, tutor de Mandarim e amante River (David Corenswet), que namora com a sua arqui-inimiga Astrid (Lucy Boynton), também decide concorrer.
O elenco realmente é aqui o grande aspecto positivo de “The Politician”. Ben Platt entrega-se de corpo e alma à sua personagem que não tem facilidade em exprimir sentimentos e é desapegada de tudo, o que acaba por ser estranho porque Ben é certamente o elemento que ainda nos vai agarrando, senão teria sido fácil desapegar logo da série.
Como sua concorrente, Lucy Boynton volta a brilhar depois de “Bohemian Rhapsody” com uma Astrid fria e determinada, mas que não se sente feliz no seu seio familiar e que, à semelhança de Payton, não gosta de perder, mas não pelas mesmas razões que ele.
Temos Jessica Lange a dar vivacidade à personagem de Dusty, avó de Infinity (Zoey Deutch), uma rapariga com cancro. As duas são surpreendentes nos papéis que representam e muito é devido ao facto de a série apresentar a história delas a par e passo que conta a de Payton, visto que as duas se vão acabar por ligar de alguma forma.
Tenho também de realçar o quão bem Gwyneth Paltrow voltou aos ecrãs, incentivada pelo marido Brad Falchuk, um dos produtores da série, para interpretar a mãe adoptiva de Payton, Georgina. Todas as cenas que ela tem com o filho fazem-nos ficar agarrados ao ecrã devido à “química” que têm.
Indo à história em si tentando não dar spoilers. Payton veio de uma família pobre mas foi adoptado por uma família riquíssima, então ao mesmo tempo que vamos acompanhando a narrativa, percebemos que ele quer ao máximo tentar fazer as coisas com mérito e sem utilizar o dinheiro da família. Mas o principal aqui é que a série se foca na evolução dele como pessoa que não consegue demonstrar sentimentos e que acaba por só se preocupar com a campanha, até ao momento em que tem de aceitar que é um ser humano que erra, que sente, que ama.
Lá está, há vários momentos em que vemos que ele tem de lidar com as consequências dos seus erros enquanto tenta lidar com o amor que tem pela sua mãe e especialmente por River, daí as cenas com estas duas personagens com Payton serem mais emocionais e interessantes para o espectador, porque é quando vemos as barreiras dele de certa forma a caírem e vemos uma nova perspectiva desta personagem. Sem estes momentos, talvez ele fosse só um rapaz que queria ser político e que age consoante isso – muito devido ao facto de para ele, o seu futuro como presidente ser claro como a água – mas que não despoleta nenhum sentimento ao espectador.
Depois temos, lá está, a narrativa de Infinity que acaba por ser interessante, por ser a rapariga com cancro que Payton convida para Vice Presidente, já para não falar de toda a sua relação com a avó que parece estranha (não vamos dizer mais). Até conseguiu ser uma história coerente ao início, mas perdeu-se ali um bocadinho em dramas e confusões, reencontrando-se no fim com algumas explicações que tinham ficado para trás.
Cheguei mesmo a sentir que a meio da temporada, a série tinha ficado bem por ali, mas depois foi-se introduzindo mais alguns elementos nos últimos episódios e tendo um último episódio que é quase o primeiro de uma segunda temporada (e claramente é este o propósito desde que o episódio começa mas sem percebermos logo o que vem aí), vai fazendo sentido que não se tenha ficado por ali.
Há também alguns momentos musicais (toque de Ryan Murphy claríssimo) que não servem para mais nada a não ser mostrar o talento de Ben Platt que, don’t get me wrong, é sempre fantástico mas essas cenas acabam por ser um bocado forçadas. E claro, não seria uma série de Ryan se não houvesse toda uma produção nos cenários e figurinos que é impossível passarem despercebidos visto que dão muita vivacidade e cor à série.
No fundo, “The Politician” é uma sátira politica, utilizando o ambiente escolar para espelhar um pouco como as promessas e as acções que se tomam, podem despoletar situações que nem sempre se controlam. Aliás, a série começa com o mundo escolar mas rapidamente percebemos que é só uma preparação para o que aí vem.
Ainda assim, é uma série que vai entretendo e que acaba por não cansar muito, embora cada episódio tenha 45 minutos e muita coisa a acontecer nesse tempo. No final, tudo vai acabar por fazer sentido e deixar-vos a querer mais.