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The Lighthouse: Metáfora sobre isolamento, paranóia, loucura e muito mais

by João Pedro

Numa metáfora de sonho frenético envolto de febre e em neblina sobre isolamento, paranóia e loucura, “The Lighthouse” é o segundo filme da carreira de Robert Eggers. Ambientado na década de 1890, o filme aborda a vida de Thomas Wake e Ephraim Winslow, dois faroleiros. 

Em 2015, Robert Eggers surgia com o seu primeiro filme, The Witch. Embora o destaque primordial incidisse num senso desmesurado de malícia, a obra tornou-se um marco cultural pela mensagem espelhada. Em The Lighthouse, Eggers confirma de forma brilhante esse seu gosto pelo diabo.

É uma história sobre fantasmas encharcada de precisão, e manchada de água salgada em fábulas marítimas de advertência, mas com um tom embriagado, amoroso e sombrio que pode remeter para The Birds ou A Field in England

Thomas Wake perde pouco tempo a estabelecer dinâmicas de poder e hierarquia: na sua condição de veterano, é o único autorizado a cuidar da luz do farol, enquanto que Ephraim é responsável por colocar o carvão na fornalha, arrancar a cisterna, transportar barris de petróleo, entre outras tarefas. 

À noite, Thomas bebe uma garrafa de rum, degusta um dos seus cachimbos enquanto lamenta o seu triste fado no matrimónio – “thirteen Christmases at sea, little ones at home, she never forgave it” – ao passo que Ephraim é atormentado por sonhos de corpos lavados e gritos de sirenes com caudas de sereia.

À medida que os dias vão passando, uma tempestade brutal ataca a ilha, e os dois homens começar a partilhar a garrafa de rum ao jantar. Aquelas noites de folia, com os dois a dançar ao redor da cabana em ruínas e a cantar as marés, produzem camaradagem a princípio, contudo, gradualmente, a diversão transforma-se num aglomerado de suspeitas. 

Ephraim é extremamente cauteloso a revelar o seu passado, e Thomas sabe que o jovem esconde algo. Em contrapartida, Ephraim também suspeita que o diário de bordo do seu camarada veterano está cheio de segredos. Para si, levanta-se a seguinte questão: “que mistério existe no topo do farol que Thomas faz tanta questão de guardar para si mesmo?”. 

Filmado numa proporção quase quadrada de 1,19: 1, que acentua os lugares apertados da ilha, e que empresta uma sensação quase claustrofóbica ao público, The Lighthouse é uma obra-prima que apresenta dois homens travados numa competição de vontades.

Fotografia: © 2019 A24 Films

Dafoe não é propriamente estranho neste tipo de cenário de mastigação, mas aqui devora-o positivamente com explosões violentas e rancores de olhos selvagens, atados com um sotaque forte. A sua oração de alguns minutos para o Deus do mar atingir Ephraim, uma vez que o jovem recusa elogiar o seu método de culinária, é um dos meus momentos cinematográficos favoritos do ano de 2019.

Pattinson pode interpretar Ephraim como o mais reservado da dupla, mas, efetivamente, o seu desempenho não quer intensidade, principalmente porque as visões noturnas tornam-se mais vívidas, dando espaço a questões relacionadas com o término da realidade e o controlo das alucinações.

O filme em si é bastante ambíguo a esse respeito, e até a passagem do tempo é algo que os detentores perdem de vista. 

À medida que a tensão entre os dois homens começa a fervilhar, Eggers efetua a junção entre o suspense psicológico com a loucura em todo o seu esplendor, com uma boa dosagem de humor negro. 

Tal como sucedeu em The Witch, a matéria prima de The Lighthouse é inigualável. Com os seus efeitos sonoros industriais (incluindo a banda sonora ameaçadora de Mark Korven), e a fotografia sufocante a preto e branco, o filme evoca Eraserhead, o pesadelo monocromático de David Lynch, e o cinema expressionista e silencioso de F.W. Murnau (não há dúvida que Eggers é um fã incondicional de Nosferatu).

Não obstante, em termos de história, The Lighthouse peca em certa medida. Não existe uma história concreta que sustente o enredo, e o ritmo do filme acaba por sofrer com isso. 

Por fim, a interação entre Dafoe e Pattinson é simplesmente mais envolvente do que as tentativas de The Lighthouse em convencer os espectadores a questionarem o que é real ou imaginário. O problema é que o filme gasta muitos esforços nesta tentativa, e acaba por negligenciar cada vez mais alguns temas a que se propôs abordar. 

Desta feita, quando volta a existir a abordagem sobre a ideia de que os personagens estão travados numa luta por poder, isso exalta mais um pensamento secundário do que propriamente uma grande conclusão.

The Lighthouse é um daqueles filmes que vai dividir opiniões, e talvez seja por isso que a Academia não lhe tenha entregue tanto crédito como se esperava. 

Acima de tudo, é mais uma comédia de terror por meio de uma homenagem ao cinema mudo. Eggers ainda tem o problema de favorecer o estilo em vez da clareza no seu trabalho, mas é bom vê-lo a desenvolver uma voz distinta apenas com dois filmes no currículo, e a encontrar maneiras de explorar temas sobre género que, embora imperfeitos, são convincentes da mesma forma.

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