Home Novidades The Kominsky Method: Um vinho que merece ser degustado sem precipitações

The Kominsky Method: Um vinho que merece ser degustado sem precipitações

by João Pedro

Duas temporadas, dezasseis episódios, dois protagonistas e uma panóplia de situações que juntam as raízes da vida quotidiana, e que se ramificam em piadas e reflexões profundas. Com os seus episódios curtos (de apenas 30 minutos cada um, em média), “The Kominsky Method”, criada por Chuck Lorre, representa o produto moderno típico caracterizado pela velocidade e destinado às plataformas de streaming, projetado para a antítese da experiência rápida, todavia, incisiva.

Esta série narra o quotidiano de Sandy Kominsky e Norman Newlander, com um ritmo avassalador e uma sinceridade desmesuradamente interessante. São dois amigos na casa dos setenta anos, diferentes como o dia e a noite, mas unidos pelas dores e desilusões da idade.

Ambos enfrentam desafios complexos: Norman (Alan Arkin, vencedor do Oscar da Academia por “Little Miss Sunshine”), rude, mas franco, lida com instintos suicidas devido à morte da sua esposa, Eileen (Susan Sullivan), e ao relacionamento desastroso que tem com Phoebe (Lisa Edelstein), a filha viciada em drogas. Depois, temos Sandy (Michael Douglas, vencedor do Oscar da Academia por “Wall Street”), um ator imprudente, que divide o seu trabalho como professor de representação, e que, após três casamentos falhados, acaba por apaixonar-se por uma aluna.

Sandy não abraça a velhice como uma amiga, mas sente orgulho, embora com algumas lamentações, e livra-se da vergonha do passado, ao passo que Norman vai tentando colmatar as armadilhas da vida com humor negro e tons sarcásticos.

A química entre Douglas e Arkin é tão natural que, à medida que os episódios de 30 minutos passam, quase que oramos por mais.

O realismo que podemos avaliar na comédia, é desde logo admirado no primeiro episódio da série, já que Sandy é um ator idoso com alguma reputação. Com alguma frustração à mistura, testemunhamos o seu complexo desafio de ensinar toda uma nova geração de “talentos” a abraçar a representação, num mundo que é movido pelos social media e por tendências que não duram mais que alguns segundos.

© Ali Goldstein/Netflix

A série coloca em movimento uma panóplia de eventos que refletem a forma como nos relacionamos com os que nos são mais queridos, ao ponto de Sandy combinar um encontro romântico que culmina num hospital, para testemunhar a morte da esposa do melhor amigo.

Por conseguinte, as piadas sobre o abrandamento das funções corporais não escorregam para constrangimentos ou fatores ridículos. A visita de Sandy ao urologista (interpretado por Danny DeVito) é surpreendentemente divertida.

Adicionalmente, por vezes, Sandy e Norman surgem num automóvel, onde desenvolvem certos diálogos interessantes.

Inexoravelmente, o automóvel representa o lugar de partilha, abertura e abordagem por excelência, o fio condutor que une os episódios e até as duas temporadas. Entre confidências e provocações irónicas, o movimento perpétuo do carro parece encarnar a passagem incontrolável da vida, que continua mesmo diante das dificuldades e da dor, tornando possível, aliás, até natural, a evolução da amizade.

Os laços, como o carro em questão, são o motor da história e em plenitude – com uma metáfora bastante evidente – da existência. “The Kominsky Method” tenta transmitir exatamente isto: além do humor e da ironia presentes, é uma série doce e satiricamente melancólica.

© Mike Yarish/Netflix

Os pontos fortes para o sucesso de um produto original e de sucesso como este são: o argumento e a representação, liderada por duas lendas do cinema. Não é por acaso que a série recebeu dois Golden Globe Awards em 2019 (Melhor Série – Comédia ou Musical e Melhor Ator para Douglas).

Claro que, por meio de um truque inteligente, como a participação de convidados especiais, a atenção do público revitaliza continuamente.

Kathleen Turner (Ruth, a ex-mulher de Sandy) surge na segunda temporada para trabalhar com Douglas, com quem contracenou em “Romancing the Stone” (1984) e em “The War of the Roses” (Danny DeVito). Para além de Turner, também Allison Janney (que venceu o Oscar por “I,Tonya”) conta com uma participação especial na série.

“The Kominsky Method” é um vinho que merece ser degustado sem precipitações. Assistir a uma história sobre dois amigos íntimos que lutam contra a mecânica da vida é, provavelmente, um dos trabalhos mais espontâneos que podem ver atualmente na Netflix.

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