The Greatest Showman traz-nos a história do magnata do espetáculo Phineas Taylor Barnum, num musical ao estilo da Broadway, com o imaginário sobre como “o impossível se torna realidade” quando se está disposto a arriscar tudo.
“Ladies and gents, this is the moment you’ve waited for”
Mas se estão à espera de uma biografia fiável de PT Barnum, desenganem-se. PT foi conhecido por enganar o público e ganhar dinheiro à conta disso. Aliás, foi a principal falha do filme: a veracidade da pessoa cuja vida é exposta no grande ecrã.
Se o Grande Showman fosse uma espécie de La La Land em que a história não é verídica e não temos termos de comparação, ou se simplesmente desconhecermos a biografia da pessoa, até conseguimos gostar do filme porque é um verdadeiro espetáculo musical e tudo puxa para isso. Ainda por cima, em Portugal a estreia vem no seguimento do Natal. Ainda estamos todos a transbordar de espírito natalício e de magia e a fazer as resoluções para 2018. Tinha tudo para dar certo.
E sejamos sinceros: quem é que não gosta de ver Hugh Jackman, o eterno Jean Valjean (Les Miserábles) e Wolverine (X-Men) de volta à dança e à cantoria? Se há um showman neste filme é sem dúvida ele e não a personagem que ele carrega às costas. Temos também o prazer de rever Michelle Williams que dá vida a Charity Barnum, uma eterna sonhadora como o seu marido.
Barnum efetivamente do nada e arriscando tudo, alcançou a fama e o sucesso que tanto desejava. Construindo um espetáculo que tivesse “coisas que as pessoas nunca viram antes”. Fê-lo expondo pessoas de todos os tamanhos e feitios para dar vida ao mesmo e, dessa forma, vender bilhetes. Um verdadeiro empreendedor, podemos pensar nós. Mas a verdade é que ele era mestre a enganar o público, que gostava de ser enganado, claro.
Entre as pessoas que no filme Barnum ludibriou com a mítica frase “Eles ainda não sabem, mas vão adorar-te”, há de tudo: um homem super peludo (Homem Cão), uma mulher barbuda chamada Lettie Lutz, um anão que passa a ser o General Tom Thumb, o “homem mais pesado do mundo”, o Gigante Irlandês, entre outros. Tudo pessoas com características que em pleno século XIX não eram de todo bem aceites. Como tal, nesta história, elas encontraram uma família com o criador do circo. Mas na vida real não foi bem assim.
Contextualizando um pouco da biografia do magnata, Joice Heth foi a primeira pessoa a ser exibida por Barnum. Ela era uma escrava africana que ele dizia que tinha 161 anos e que tinha sido babysitter de George Washington. Tom Thumb, cujo nome verdadeiro era Charles Stratton, foi chamado para o circo quando tinha 4 anos. Annie Jones, tinha não mais de um ano quando foi exposta ao público pela sua aparência barbuda. E não se ficou por aqui o lado mau da exposição das pessoas de Barnum ao longo dos anos que o filme não mostra, nem faz questão de mostrar completamente.
Para além destas personagens, é nos apresentada Jenny Lind (Rebecca Ferguson), a cantora de ópera sueca, que no filme canta “Never Be Enough”, marcando o início da digressão que fez com Barnum pela América, que efetivamente aconteceu mas não bem como é contada.
O filme ainda acrescenta duas personagens que não existiam na vida real: Annie Wheeler (Zendaya) e Phillip Carlyle (Zac Efron), sócio de PT Barnum. Estes dois apaixonam-se e até têm direito a uma música sobre o romance – Rewrite the Stars.
Ora, tendo em conta o ano em que estamos e a maneira como o filme está feito a pensar na magia, no elogio dos que são diferentes, em que o preconceito é criticado… Como não aplaudir?
A banda sonora é o mais brilhante deste filme, digamos. Composta por músicas de John Debney e John Trapanese, com letras assinadas por Benj Pasek e Justin Paul. Estes últimos também participaram na banda sonora de La La Land (tendo sido premiados com um Óscar). Estão todas bem encaixadas e contextualizadas nos momentos. E sim, por muito cliché que possa parecer, fazem com que a história pareça um conto de fadas. Até nos faz sonhar um bocadinho, seja com This is Me, uma música claramente de afirmação contra o preconceito (nomeada para os Globos de Ouro para melhor música original), como A Million Dreams, From Now On ou até mesmo a música que nos dá as boas vindas e encerra o espetáculo – The Greatest Show.
Apesar de tudo isto e embora os acontecimentos estejam um pouco em modo acelerado, fazendo com que falte background em algumas coisas, a escolha do realizador Michael Gracey foi a de nos dar um espetáculo musical, como já dito acima, em vez de nos dar o lado pior do magnata do show business. Esta decisão não faz do filme algo mau mas também não o torna em algo excelente.
Mas verdade é que, resumindo, o filme consegue entreter-nos durante quase 2 horas. Faz com que saiamos da sala de cinema com vontade de sorrir e de cantar. Não é por acaso que está nomeado para Melhor Comédia ou Musical nos Globos de Ouro de 2018. É mesmo nesta categoria que ele conquista crédito. Pelas coreografias bem ensaiadas; Pelas músicas cantadas; Pela representação dos atores perante um desafio diferente; Por todo o encanto e magia que um espetáculo é suposto dar-nos. É um filme de entretenimento musical puro mas contas feitas, mal pode contar como filme biográfico.
Curiosidade: Hugh Jackman revelou que este projeto foi a sua “passion piece”, e que já trabalha nele há 8 anos. Diz que o mesmo nos dá a essência de Barnum de que é preciso superar os limites.