“The Devil All the Time” é um dos filmes mais aguardados do mês de Setembro da Netflix, não só devido ao elenco, mas ao mistério todo em volta do trailer que deixou os fãs a quererem ver mais.
Desenganem-se num aspecto: Não é o estilo de filme que vemos quando “não temos nada para ver” nem se calhar quando não estamos muito no mood. É um filme que tem quase tanto de tenso como de intenso, com um ritmo lento e semelhante a um thriller que nos deixa a refletir sobre o que acabámos de ver porque toca em assuntos como a crença em algo, a violência/ a necessidade de vingança e sem dúvida, a escuridão interior que pode existir dentro de cada um.
A história é inspirada no livro homónimo de 2011 e começo já por dizer que adorei a escolha de Campos ao colocar Donald Ray Pollock’s, o autor do livro, a narrar o filme. Dá-nos contexto e intensidade ao que está a ser contado à medida que vamos acompanhando o filme e evita também com que nos percamos em tantas storylines que acabam por ser um ciclo sem fim, até porque acaba por estar tudo ligado de forma inevitável, centrando-se a narrativa nas duas cidades das quais se falam no início do filme: Coal Creek, em Virginia Ocidental e Knockemstiff, Ohio. Aparentam não ter nada a ver uma com a outra mas estão mais ligadas do que pensamos.
Tocando no elenco e nas suas personagens, Bill Skarsgard é o primeiro que conhecemos com o seu Willard, regressado da guerra. Ele acaba por se apaixonar por uma rapariga num café, Charlotte (Haley Bennett), embora a mãe dele o quisesse casar com Helen (Mia Wasikowska) – mas esta fica rendida ao pregador Roy (o nosso querido Dudley, Harry Melling).
Helen e Roy acabam por ser pais de uma menina, Lenora, e Charlotte e Willard têm um filho, Arvin, que se vai tornar o centro da história de uma maneira inusitada. Ambos não sabem o quão o destino deles vai acabar por estar ligado.
É com Willard que temos os primeiros vislumbres do que o filme é. Vindo da guerra, ganha a vontade de rezar, ainda mais quando a sua mulher é diagnosticada com cancro. Quando as suas orações não parecem surtir efeito, começa-se a perceber que se vai a extremos para que realmente se surta um efeito mas nem sempre é sinal que as coisas vão resultar por isso.
Arvin acaba por ir viver com a avó e cruzar caminhos com Lenora, que sofreu as suas próprias tragédias, fazendo com se tornem meios irmãos. E aqui começo por dizer que o trabalho de casting é maravilhoso. Logo desde início, conseguimos perceber as semelhanças de Michael Banks Repeta com Tom Holland e mais tarde, as de Eliza Scanlen com Mia Wasikowska. Para alem disso, Tom e Eliza representam de forma bastante semelhante os seus pais no filme e as suas escolhas, o que nos deixa mais envoltos neste loop da história.
Tom Holland é o centro do filme e acolhe esta responsabilidade da melhor forma para um ator da idade dele, merecendo todos os elogios que tecerem à sua representação aqui, especialmente visto que a sua personagem tem muitos momentos sombrios. Com este filme (e não só), conseguimos entender a versatilidade do ator e as cartas que vai começando a dar na sua, esperamos, longa carreira.
Robert Pattinson tem pouco tempo de antena mas ainda assim consegue entregar-nos uma personagem dentro do tom do filme, mostrando o seu amadurecimento como ator, que é algo que já temos vindo a assistir nos últimos anos e que esperamos ver ainda mais em Batman. Sebastian Stan, interpreta um xerife corrupto num papel até diferente do que tenho visto dele ultimamente e Riley Keough e Jason Clarke, interpretam Sandy e Carl, um casal que vive pelos seus propósitos e que, da suposta bondade ao dar boleia a estranhos, o caso muda rapidamente de figura.
A realização de António Campos acompanha muito bem estas personagens, com ângulos que criam muita tensão e mistério sem nunca descurar a humanização das mesmas, visto que há algumas que têm mesmo uma transição a olhos vistos no filme. E a cinematografia acompanha toda esta narrativa de forma impecável, dando o tom ao filme e fazendo-nos sentir, lá está, tensos e inquietos.
Há sempre algo superior a cada uma das personagens que as leva a fazer o que fazem. Seja por vingança, seja a crença de um Deus ou utilizarem essa crença para justificar os seus actos, seja por dinheiro, o faz com que este filme seja mais uma reflexão sobre algumas decisões e atitudes que tomamos na vida. É um filme que vale a pena ver nem que seja pela óptima escolha e representação de todo o elenco.