Apesar de estar alguns furos abaixo dos anteriores, The Conjuring 3: The Devil Made Me Do It acaba por ser algo refrescante numa fórmula que já estava desgastada.
Observação prévia: Esta critica é escrita por um fanático de filmes de terror que viu em The Conjuring um pequeno milagre, uma vez que é um blockbuster e ao mesmo tempo um excelente filme de terror… Muito raro nos dias de hoje, onde as ideias inovadoras de blockbuster parecem cada vez mais uma miragem e onde a indústria do cinema prefere reboots a arriscar novas ideias.
Dito isto, confesso que desde que foi apresentado senti alguma apreensão por este Conjuring 3: A obra do Diabo. Primeiro porque o filme baseia-se no caso de Arne Cheyenne Johnson, que ficou conhecido mundialmente por alegar estar possuído pelo diabo quando matou uma pessoa, o que me fez pensar que o filme iria focar-se no julgamento e não tanto no factor supernatural. O outro factor, e este bem mais preocupante para mim, é que pela primeira vez James Wan não estava na realização, mas sim Michael Chaves, que para quem não sabe é o realizador daquele que por muitos (incluindo eu) é o pior filme deste universo paranormal, falamos claro de The Curse of La Llorona. De salientar que a outra obra de terror de James Wan, Insidious, correu bem até este sair da realização.
Para além destes receios, havia outro, não tão preocupante, mas presente, que é o facto que ao longo de sete filmes e mais de dois mil milhões de receitas, a fórmula de sustos e elaboração das cenas mais tensas estivesse gasta e isso sentiu-se em Annabelle 3. Um filme bastante competente, mas sofreu por não apresentar nada de inovador.
Apesar destes receios, a verdade é que este Conjuring acaba por ser uma agradável surpresa e parece que realmente pode ter encontrado uma espécie de elixir para a saga inteira e mantendo-a preponderante para os futuros filmes deste universo.

© 2019 Warner Bros. Entertainment Inc.
O filme tem lugar em 1981 e arranca logo com uma das cenas pré-creditos mais assustadoras e pesadas de que há memória com Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) a exorcizar uma criança, ficamos logo com aquele nervoso miudinho de que realmente estamos perante um pré-salto da cadeira. Forte, pesado e sem contemplações, esta cena inicial terá também fortes ramificações para o que resta do filme.
Com a temática causa e efeito bem presente na dita cena pré-créditos, o jovem Arne(Ruairi O’Connor) mata uma pessoa como consequência, sem saber como e porquê. Este entrega-se à polícia e já na prisão, Ed e Lorraine prometem ajudar o jovem a provar que estava com uma presença demoníaca no corpo na altura do assassinato.
É neste momento que o filme distancia-se dos seus antecessores, tornando-se mais numa longa metragem de detectives e investigação criminal. Contudo a vertente paranormal continua bem presente, mas não com o mesmo impacto ou talvez sem tanta relevância para a progressão da história. É de salientar que o trailer dava muito foco a toda a vertente de tribunal mas desenganem-se, este está longe de mostrar o que o filme realmente é.
É evidente as diferenças entre Wan e Chaves, enquanto o primeiro consegue transportar-nos para um ambiente mais obscuro, de construção pausada e suspense, o segundo promove uma abordagem mais directa, com mais acção e pondo o casal Warren à prova mais fisicamente do que mentalmente, sobretudo a personagem de Vera Farmiga. Há também outros elementos que são novidade na saga, como os pequenos toques de humor e flashbacks do casal quando se conheceram, recorrendo a actores novos com traços semelhantes a Patrick Wilson e Vera Farmiga e sem recorrer a CGI.

© 2019 Warner Bros. Entertainment Inc.
Claro que há espaço para os famosos jump scares, contudo estes não são tão emblemáticos como os filmes anteriores e decididamente, à medida que o filme avança, estes não são o foco. O objectivo aqui é encontrar respostas o mais rapidamente possível e não libertar alguém de algo demoníaco. Com isto perde-se também aquele lado mais vil da saga, mas decididamente senti que este caminho tem de ser percorrido para reformular o futuro desta, indo por um trilho mais real. As cenas de afecto do casal também são bem vindas,pois para além de servirem como calmantes, dá outra profundidade a estas personagens, dando um ar mais amoroso e não tão sinistro…
Para mim o principais problemas do filme são parte final algo abrupta e ironicamente a falta de cenas de tribunal. Quando vemos um filme de investigação queremos sempre saber as motivações para o crime, algo que aqui é incrivelmente bastante linear. Não deixa de ser estranho termos um filme inteiro à procura de provas para comprovar a inocência de alguém, era no mínimo expectável ver a defesa apresentá-las em tribunal, sobretudo quando está relacionado com um caso paranormal… mas tudo fica resumido a um texto antes dos créditos finais.
Em suma, The Conjuring 3: A Obra do Diabo não está ao nível dos seus antecessores, contudo não significa que seja um mau filme, longe disso, é bastante competente e promove bem a arte que é fazer terror. Tomara a muitas trilogias terem o seu capítulo mais fraco ao nível deste. São filmes especiais e que têm de ser bem formalizados e isso fica patente quando The Conjuring é dos poucos projectos de sucesso em que as sequelas não saem de dois em dois anos. E acredito que muita coisa ainda está para vir no livro de casos dos Warren!
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