The Blackening é um filme que se alimenta de décadas de clichês que têm vindo a definir o género do Terror. Tim Story, que já assumiu a cadeira de diretor em grandes produções como Ride Along e Quarteto Fantástico, apresenta desta feita um cenário mais modesto que combina horror e comédia de uma forma fluida e bastante criativa.
Nesta curta longa-metragem, um grupo de amigos combinam passar o Juneteenth, data que assinala o fim da escravatura nos Estados Unidos da América, numa casa isolada, bem ao estilo daquilo a que os fãs de Terror já estão habituados. O que torna The Blackening único é a forma contraditória como encara os estereótipos estruturais deste tipo de obra. É o seu alimento primário. Tanto assim o é, que, o slogan do filme é We Can’t All Die First ( nem todos podem ser o primeiro a morrer), uma alusão à bem documentada história de matar personagens pertencentes a minorias primeiro. Sendo o elenco principal totalmente composto por actores Afro-Americanos, Tim Story acaba por não contribuir muito para a dissolução deste clichê em específico, mas fica a intenção. Por outro lado, isso também significa que todos estão em perigo, o que torna tudo mais imprevisível.
É assim que The Blackening está construído. Parte de uma aceitação gratuita dos estereótipos, mas pinta-os ao seu estilo com criatividade e carisma.
Ansiosos por se reencontrarem 10 anos depois, os nossos protagonistas chegam ao seu destino, partilham alguns pensamentos e fofocas bem ao estilo do início do popular Until Dawn, e prontamente se deparam com um jogo de tabuleiro que decidem experimentar. Peças montadas, jogadores prontos, e…..aparece o avatar do jogo, vestido e “maquilhado” de forma abusivamente racista. Mas num caso em que a curiosidade superou a indignação, o grupo decide ir a jogo. A regra é simples: ou respondem de forma correcta às perguntas ou morrem. Fãs do Saw ficarão certamente perplexos quanto à origem desta premissa. Esta não é de todo a única referência a clássicos de terror. Existem semelhanças estruturais notórias à saga Scream, e uma “pequenina” homenagem a Texas Chainsaw Massacre.
Após cada resposta, uma entidade que os acompanha através de câmeras, informa-os se a sua resposta está correcta. Todas as perguntas estão inteiramente relacionadas com a cultura Afro-Americana, quase como se o vilão estivesse a insinuar que os protagonistas desconhecem a sua própria cultura, e que, como tal, não merecem gabar-se da mesma. À medida que as rondas passam, e continuando sem perceber o porquê de tudo aquilo a que estão a ser sujeitos, o grupo começa a quebrar internamente, gerando um clima de suspeição entre várias partes.
Apesar de tocar em todas as notas certas no que toca ao timing cómico, a maior falência de The Blackening é a quantidade, e, por vezes, efectividade das cenas de terror. Cumprem, mas não fascinam. Isto apesar da tentativa por parte de um casting muito empenhado em torná-las assustadoras.
Não podemos contar com a presença desta obra na próxima promoção “2×1 clássicos” nas lojas habituais, mas The Blackening entretém do início ao fim, e tem argumentos mais do que suficientes para se infiltrar na lista de visionamento de qualquer dito fã de terror.