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The Batman: Revolta na Adolescência

Com Spoilers

by Tiago Marques

Kurt Cobain canta “Something in the way…” numa das cenas de abertura do novo Batman; a aura grunge e urbano-depressiva evidencia-se desde o início do filme e continua pelos dias e noites chuvosos passados na cidade de Gotham, pelo reflexo da luz dos candeeiros de rua nas poças de água e culmina na personificação do morcego vigilante pelo ator-sensação do momento que é Robert Pattinson.

Este novo Bruce Wayne distingue-se marcadamente dos seus mais recentes antecessores. Christian Bale e Ben Affleck, no papel do Batman, eram montanhas de músculo, bilionários galantes e heróis confiantes na sua superioridade marcial e tecnológica suportada pelas dezenas de gadgets e veículos futuristas a que tinham acesso. Já Pattinson, em comparação, tem o porte de um adolescente franzino que está a ultrapassar uma fase emo-gótica e o seu apetrecho mais impressionante é uma intensa sombra para os olhos.

O meu tom pode parecer pejorativo, mas esse está longe de ser o caso. Com tantas diferentes iterações do Batman é de louvar que Matt Reeves tenha enveredado por um caminho diferente no que toca aos traços gerais da personagem, na fase da vida em que ela está e nos desafios internos que tem de superar. Bruce está apenas no seu segundo ano de combate ao crime e é um jovem cuja memória do falecimento dos pais é ainda fresca. Ele tenta dar continuidade ao legado da família ao fazer o melhor que pode e o que acha mais correto pela sua cidade, mas existem também traumas internos ainda por resolver.

Esta caracterização do protagonista encaixa bem no mundo em que se insere e na estrutura da história que Reeves usa neste filme. The Batman assemelha-se mais a um thriller dos anos 90 ou um neo-noir do que a um filme de ação com super-heróis modernos. Afinal de contas seguimos um detective ao longo de uma investigação em que vai gradualmente descobrindo uma teia de corrupção que se estende por todos os cantos da cidade e ao longo de várias gerações, à la Chinatown. Temos também uma femme fatale, com Zoë Kravitz no papel de Selina Kyle (Catwoman) que complementa perfeitamente Bruce Wayne como outra personagem forte, mas emocionalmente vulnerável que tenta sobreviver numa cidade implacável que não perdoa fraqueza.

A qualidade da representação do resto do elenco varia entre o medíocre e o aborrecido. Enquanto que Jeffrey Wright e Andy Serkis – nos papéis de Lt. Gordon e Alfred, respectivamente – estão aceitáveis, mas não memoráveis, John Turturro e Colin Farrell têm prestações pouco inspiradas e os seus vilões são muito pouco ameaçadores. Paul Dano consegue capturar um lado perturbador e desconcertante do Riddler que chega a invocar a memória do serial killer John Doe no filme Se7en (interpretado por Kevin Spacey). O melhor momento desta personagem é reservado para o final do filme, quando este partilha uma gargalhada demente com o companheiro de cela no asilo de Arkham… Apesar da sua presença no ecrã ser curta, confesso que Barry Keoghan me despertou o interesse sobre o que uma aparição do Joker poderá trazer à história de um próximo filme do cavaleiro negro.

Matt Reeves, como argumentista e realizador, fez um bom trabalho no que toca ao equilíbrio da narrativa entre o desvendar do mistério que envolvia o plano e a identidade do Riddler bem como a introdução de vários personagens importantes dos comics. Noutros aspetos não foi tão bem-sucedido; a progressão e o escalar da tensão com cada novo puzzle ou adivinha que o Batman tinha de resolver poderia ter sido mais cativante a um nível emocional, gostaria que cada um dos desafios que são propostos exigissem um maior sacrifício pessoal das personagens para serem resolvidos. Houve também alguns diálogos forçados e ocasiões que poderiam ter sido um momento de revelação para a audiência, mas que acabaram por induzir um enorme revirar de olhos (como a solução da charada que incluía as letras “U R El”).

O último destaque, desta vez pela positiva, vai para a banda sonora original composta por Michael Giacchino que não poupa na pompa (e circunstância) que confere a algumas cenas em que o Batman triunfa sobre os seus inimigos. A melhor utilização da música surge numa cena em que potentes instrumentos de sopro são usados em conjugação com um plano invertido que parte de dentro de um carro capotado e recorta a figura intimidatória do Morcego num mar de chamas que o rodeava.

The Batman não será para todos os espectadores uma experiência arrebatadora de se ver no grande ecrã, mas sinto que os fãs do homem-morcego não ficarão desiludidos com esta nova versão e, por isso, aconselho-o a todos os que queiram passar um bom bocado no cinema.

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