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The Apprentice – Crítica Filme

by Francisco Barreira

The Apprentice leva-nos numa viagem ao passado, diretamente para os anos 70 em Nova Iorque — uma época em que os fatos tinham golas enormes, as cabeças tinham mais laca do que bom senso e o mercado imobiliário era um verdadeiro faroeste urbano. Ali Abbasi consegue, de forma imponente, representar a cidade que nunca dorme com um realismo impressionante, ao impor um tom retro na sua cinematografia. Consegue assim fazer-nos sentir mesmo no coração de uma Nova Iorque decadente, mas cheia de vida, esperança e oportunidades.

No centro da história está um jovem conhecido como Donald Trump (lembrem-se deste nome), ainda tímido e sem aquela confiança excessiva que mais tarde se tornaria a sua marca registada. Sebastian Stan tem aqui um das grandes interpretações da sua carreira: trabalha muito bem as pequenas expressões faciais e maneirismos muito próprios do agora presidente dos Estados Unidos e mistura-os bem com a sua inocência jovial, quase como se estivéssemos a ver uma versão beta do Trump que todos conhecemos. Mas calma, essa timidez não dura muito.

The Apprentice_©️ APPRENTICE PRODUCTIONS ONTARIO INC._PROFILE PRODUCTIONS 2 APS_TAILORED FILMS LTD. 2024

Tudo muda quando entra em cena Roy Cohn (Jeremy Strong), advogado, mestre da manipulação e um verdadeiro “Yoda” da lei para o jovem Trump. Interpretado brilhantemente, Cohn é a personificação das suas próprias três regras de ouro: Atacar, atacar, atacar; nunca admitir nada e negar tudo; e, claro, reclamar a vitória, mesmo quando se perde. A partir daí, o filme torna-se quase uma aula prática sobre como fazer inimigos e influenciar advogados.

Um dos momentos centrais é o confronto com o Departamento de Justiça, que queria usar os apartamentos de Trump para habitação social ao abrigo do Fair Housing Act. Donald, sem saber muito bem como sair dessa embrulhada, recorre a Cohn — que não só resolve o problema, como ainda o transforma numa mediática vitória pessoal. É nesta altura do campeonato que vemos Trump a absorver as lições de Cohn como uma esponja, ganhando a confiança que lhe faltava e começando a aplicar as táticas do mestre.

Mas nem tudo é um mar de dólares para o jovem Donald. Vendo-se dentro do círculo eclético dos maiores poderes de Nova Iorque, Trump apercebe-se que é um outsider. Longe da sua mente estão as festas luxuosas, drogas e álcool que serviam de combustível para os seus “colegas”. The Apprentice retrata bem como essa recusa em mergulhar nos excessos da elite nova-iorquina cria uma espécie de barreira invisível entre ele e o círculo social em que se tenta enquadrar. Em várias ocasiões, são-nos apresentados ambientes onde jovens empresários, advogados e políticos a afogarem-se em todo o tipo de álcool e substancias relativamente ilícitas. E lá estava Trump, a vaguear com um copo de água com gás, provavelmente a pensar no preço por metro quadrado do edifício ao lado. Ali Abbasi não é subtil no que toca à sua mensagem. A única foça que move Donald Trump é o deus verde, e não estou a falar do Shrek.  

© APPRENTICE PRODUCTIONS ONTARIO INC._PROFILE PRODUCTIONS 2 APS_TAILORED FILMS LTD. 2024

Mas talvez o maior trunfo de The Apprentice seja a narrativa clássica do aprendiz que supera o mestre. Cohn dá-lhe as ferramentas, mas eventualmente é Trump quem afia as lâminas. É uma dinâmica interessante — quase como Karate Kid, só que as chapadas são dadas no sistema judicial americano. A história pretende retratar a ascensão do jovem magnata e concentra-se nos momentos chave (exceto o cameo no Home Alone 2) que realmente ajudaram a moldar a figura que mais tarde dominaria os reality shows e a política americana.

The Apprentice é, no fundo, uma aula sobre ambição, poder e o quão longe se pode ir quando se tem o advogado certo ao lado.

7/10

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