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Carta aberta de um fã sobre Terminator: Dark Fate

by Ivo Gonçalves

Terminator: Dark Fate não correspondeu às expetativas dos fãs e neste artigo abordo, como fã principalmente, o destino sombrio que este filme pode ter trazido para a saga.

(este artigo contém spoilers de Terminator: Dark Fate)

Como referido no título, eu sou um dos fãs desta saga criada por James Cameron. Como todos, gosto do primeiro, venero o segundo, mas ao contrário da maior parte das pessoas, eu gosto imenso do terceiro e do quarto no seguimento do anterior e entendo o porquê do quinto (o tal com a rainha e mãe dos dragões).

A saga Terminator já existe há quatro décadas e conta com seis filmes e uma série com duas temporadas (Sarah Connor Chronicles). Destes seis filmes, dois deles (Genisys e o que estreou recentemente) fazem questão de referir que são sequelas directas de Terminator 2, algo com a qual a série também compactuou… Mas valerá a pena?

Chegou então Dark Fate e como o nome indica, tinha tudo para ter um destino sombrio… e teve. Exterminador teve resultados tão despontantes que meteram em causa qualquer tentativa de reanimar a saga. O pior é que era mais do que expectável com todas as informações que recebíamos após os primeiros visionamentos do filme.

A critica generalizada disse que Dark Fate é o 3º melhor filme da saga, e apenas isso, o que é mau sinal visto que a mesma crítica nunca gostou de qualquer Exterminador após o 2º capitulo. Com Tim Miller (realizador do primeiro Deadpool) no leme, e com uma classificação de R-rated, o filme começava a ser apetecível e suscitava outra vez o interesse dos fãs.

Contudo, após o primeiro trailer, o interesse resfriou pois as cenas mostradas não eram nada de extravagantes, nada gore para R-rated e a interpretação dos actores ficou muito aquém de interpretações icónicas na saga, adicionando, claro, o uso banal da frase “I’ll be back” por parte de uma já idosa Linda Hamilton de forma quase gratuita.

E o mau presságio confirmou-se. O filme não inova a trama em nada e senti mais que isto é uma tentativa falhada de um reboot do que propriamente uma continuação directa do 2º capitulo da saga.

Logo no começo do filme, onde somos brindados com um momento quanto basta impressionante em CGI, vemos Sarah e John ainda a recuperar dos eventos do 2º capitulo numa praia até que de repente aparece um T-800 (modelo do Exterminador representado por Arnold Schwarzenegger) que mata o pequeno, cumprindo a sua missão.

Fiquei em choque, pois John estava morto. Ele era o foco central dos dois primeiros filmes e o futuro líder da resistência… morto sem uma única linha de dialógo… a Skynet vencia e o dia do julgamento final estava garantido se tivéssemos como base os eventos dos dois primeiros filmes e assim, o início parecia novo e prometedor.

Com a morte de John, achei que viria algo de novo e refrescante, mas estava redondamente enganado. Os produtores e realizadores aproveitaram isto simplesmente para trocar personagens antigas por novas, com um guião igual aos seus antecessores, mas com alguns upgrades para aproveitar ao máximo os efeitos especiais.

Podemos fazer vários exercícios de comparação entre os 3 filmes: Dois exterminadores vêm do futuro, um para matar, outro para proteger. Há sempre um primeiro encontro entre eles com o alvo no meio, e o que protege leva sempre a melhor.

Vejamos mais semelhanças: Nos dois primeiros, John é a ameaça por ser o futuro líder da resistência da humanidade e agora temos Dani, futura líder da resistência e uma ameaça para a Legion (a nova Skynet, que mudou de nome após a morte de John…)

Temos um exterminador, neste caso o Rev-9 que tem o objectivo de matar Dani (como queriam matar John nos dois primeiros e até em Rise of the Machines). Para defender Dani, temos Grace, que não é nada mais do que um misto de Kyle Reese (pai de John Connor) com T-800.

Após a primeira fuga, os heróis vão preparar-se para uma batalha final. O vilão mata toda a família do alvo. Na tentativa de fuga, os heróis ficam sempre retidos em algum lado pelas autoridades (polícia, hospital psiquiátrico, autoridades fronteiriças) onde conseguem fugir in extremis ao exterminador. O acto final acaba sempre com uma perseguição de enormes proporções (em Dark Fate são aviões) e culmina numa grande instalação mecânica onde o vilão é destruído ou derretido. E com o efeito cereja no topo do bolo, neste filme, o Rev-9 é destruído pela bateria de Grace, algo que vimos o T-800 fazer a T-X no malfadado Rise of the Machines.

Com estes aspectos, era difícil o novo Exterminador vingar porque não nos oferece nada de novo, parecendo mesmo que é apenas o mesmo filme com novos efeitos especiais, já para não falar na falta de originalidade (mas isso é o grande problema de Hollywood neste momento de fazer reboots invés de ideias originais).

O filme tem também a quase obrigatoriedade de respeitar os padrões de ter uma líder feminina, dando mesmo a sensação de que a morte de John é simplesmente para trocá-lo por Dani que, para além de ser uma futura líder, é também uma mexicana da classe operária.

E, enquanto Mackenzie Davis faz um bom papel como Grace, Natalia Reyes não está (ainda?) talhada para este. Para além da sua estrutura de 1.55 metros de altura, que faz as armas parecerem todas enormes na sua posse, Dani não parece ser nem comportar-se como uma futura líder. Simplesmente não é convincente e custa muito para um fã da saga ver John “morrer” por Dani, ao contrário de Star Wars, em que a Disney fez um excelente trabalho de casting com Daisy Ridley (porque viu nela potencial para ser a personagem principal desta nova saga). Natalia Reyes não cria nenhuma empatia com o espectador e pior, não vislumbra uma evolução para este tipo de filmes.

Outro erro de casting é Gabriel Luna, que, para um exterminador, tem expressões faciais a mais. De referir que Robert Patrick, T-1000 em Exterminador 2, treinou (por auto-recriação) para disparar uma arma de olhos abertos para dar um ar de máquina à sua personagem.

Contudo, o REV-9 está espectacular e toda a ideia de termos 2 exterminadores em um é brutal. Ele mal vê Dani, corre directamente para ela com o intuito de a matar independentemente de esta estar protegida por Grace e Sarah.

Linda Hamilton e Arnold Schwarzenegger, por outro lado, fazem todos os possíveis para a revitalização da saga mas eram necessários após sabermos que isto é mais um reboot que uma continuação? Não. São precisos para fazer a ligação aos antigos? Sem dúvida.

Linda Hamilton continua com o mesmo ar de badass e Arnold tem um papel surpreendentemente maior do que o esperado, dando-nos mesmo a perspectiva da vida de um exterminador após concluir a sua missão e, pior, mostra-nos que exterminadores e cães pelos vistos podem coexistir. O filme é simplesmente uma panóplia de soluções apresentadas nos antecessores, incluindo o Rise of the Machines, o que sustenta o que já referi, Tim Miller não procurou inovar mas sim apresentar o que já foi inventado com os meios que tem ao dispor nos dias de hoje.

O filme estreou com uns modestos 29 milhões de doláres no Box office, o que é um péssimo presságio para a saga e ao invés de Genisys, Dark Fate não foi um sucesso na China, o que ainda agrava mais a situação. As contas são simples, 200 milhões gastos a fazer o filme mais 100 milhões na divulgação do mesmo. E não esquecer que esta saga já faz parte da Disney.

O mais certo é entrar no hiato visto que a Disney não dá grandes hipóteses a falhanços comerciais. Prova disso vale a pena relembrar que o filme Solo da saga Star Wars foi considerado um flop e este teve, no primeiro fim de semana, receitas na ordem dos 400 milhões de doláres de bilheteira, algo que está ao alcance de poucas sagas.

Após este “flop” a Disney repensou toda a sua estratégia para a saga Star Wars. Eu como fã da saga, acho que a solução passa pelo regresso de James Cameron como realizador a exemplo dos dois primeiros filmes desta, embora ele tenha estado envolvido na produção deste.

Podiam validar o 3º e 4º capitulo e fazer uma nova abordagem num mundo apocalíptico como se fosse uma continuação directa de Salvation e, quem sabe, trazer de volta Christian Bale para o papel principal. Para isso acontecer, o realizador só estará disponível em 2027, altura em que chegará aos cinemas a 4ª sequela de Avatar.

A saga necessita sobretudo de ideias novas e aí acho, como fã, que o Rise of the Machines e Salvation não foram tão maus quanto isso. Simplesmente avançaram na história, algo que Genisys e Dark Fate não conseguiram aceitar e aí foi o principio disto tudo.

Uma ideia que era simples, máquinas do futuro a tentarem matar o seu maior inimigo, e acabamos por ter 4 linhas temporais diferentes, simplesmente porque não conseguem aceitar o final de TROMachines e isto torna tudo demasiado confuso. Não sabemos se o mundo ainda precisa de mais Terminator, mas, se voltar a haver mais algum, não pode apagar o passado e terá que se adaptar ao futuro.

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