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Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem – Crítica Filme

by João Pedro

Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem traz as famosas tartarugas ninjas de volta ao grande ecrã, num filme de animação que surpreende.

No entretenimento há certas franquias que ultrapassam tendências e tornam-se intemporais, renovando-se a cada nova geração. As Teenage Mutant Ninja Turtles, ou simplesmente TMNT, são um impressionante exemplo disso mesmo. Dificilmente se encontrará alguém, cuja infância fora algures no últimos trinta anos, que não reconheça ou estime estas incontornáveis tartarugas ninja. Um pouco por todo o tipo de medias podemos encontrá-las, embora um tanto esquecidas no que a filmes a diz respeito, esta nova produção animada, de subtítulo Mutant Mayhem (Caos Mutante), com produção da Nickelodeon e distribuição da Paramount Pictures, é um retorno mais do que bem-vindo.

Se olharmos em retrospectiva, a trilogia de longas-metragens live-action da década de 1990s e as duas produções CGI de Michael Bay não fizeram propriamente jus ao verdadeiro potencial das personagens no grande ecrã, algo que somente as contrapartes das séries animadas conseguiram tamanha façanha. Consequentemente Jeff Rowe, o cineasta responsável por esta aposta, unido com alguns produtores de comédia como Seth Rogen, tinham em mãos uma margem substancial para agora sim reinventar a roda e trazer novamente o melhor que há dos vigilantes de carapaça.

Uma primeira impressão logo de início é o notável estilo visual definido, bastante remanescente dos primeiros passos dados por Into the Spider-Verse (2018). E isto não é de todo ao acaso, visto que o realizador trabalhou enquanto argumentista numa produção da nova leva de animações da Sony Pictures, da qual pertence o filme que referi. A animação é, por isso, fluída e rápida, o que permite traduzir precisamente a adrenalina dos movimentos e acrobacias que o imaginário coletivo associa aos quatro protagonistas mutantes. Algo que não é apenas visível em espaços abertos nas ruas noturnas de New York, mas igualmente em espaços fechados onde decorrem algumas das melhores cenas de combate marcial.

L-r, DONATELLO, MICHELANGELO, LEONARDO and RAPHAEL in PARAMOUNT PICTURES and NICKELODEON MOVIES Present
A POINT GREY Production “TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES: MUTANT MAYHEM”

Embora o design em si das personagens não seja de todo do meu agrado, particularmente o dos humanos, sei reconhecer que é refrescante não só dentro deste universo, como na animação como um todo, procurando por contornos faciais mais bizarros. fugindo às formas redondas e perfeitas de tantas outras apostas banais do género. Os mutantes antagonistas saem favorecidos por este rumo artístico, conseguem ter uma presença quase monstruosa digna de um filme de horror, sem nunca fugir de traços mais pitorescos juvenis. A novidade não fica só por aí, há momentos em que a estética muda para algo totalmente remexido, tendo instantes desenhados à mão, passando até pelo stop-motion. Uma jogada positiva pela diferença que tem vindo a ganhar cada vez mais peso e não é precisar puxar muito pela memória quando até há bem pouco tempo o Across The Spiderverse (2023) fez precisamente o mesmo.

Indo de encontro à narrativa, e tal como disse, é uma nova aposta em todos os sentidos, portanto há mais uma vez um recontar de história de origem. Uma mais atual, que coloca Leonardo, Donatello, Raphael e Michelangelo no seu primeiro contacto com o mundo humano, depois de vários anos isolados por insistência do seu mentor paternal Splinter. No decorrer do filme insiste uma evolução crescente de emancipação do grupo antropomórfico enquanto vigilantes, rejeitados por uma sociedade de que deles tem medo. Ao contrário de outras encarnações, esta afasta o icónico vilão da franquia, para dar lugar a novos e antigos personagens, como Bebop e Rocksteady, que já marcaram presença um pouco por toda a cultura pop.

É do mesmo modo positivo ver que nesta re-imaginação se dá tanto ênfase à vertente mutante, como indica o título. Fazendo um paralelismo: os bulletpoints narrativos parecem quase que tirados de algo que se vê nas histórias dos X-Men da Marvel, numa realidade que os trata com desdém, medo e preconceito, encaixando Splinter, por isso, como manto do Professor X e Superfly, o iminente antagonista com uma visão mais radical, como Magneto. Ambos com idealismos separados, que a seu jeito acabam até por convergir em alguns pontos, o que dá até um momento interessante de fugaz tensão. É um aspecto que gostaria de ter visto ser bem mais explorado, mas o enredo, naturalmente, acaba por dar primazia a uma maior simplicidade na maneira como aborda esta temática, ajustando-se um pouco às exigências da demografia alvo do filme.

Além desta faceta que compõe as quatro palavras que resumem, e bem, as personagens para o público, há outro que ganha destaque em Mutant Mayhem, serem adolescentes. De todas as versões já vistas das TMNT creio que nenhuma deu tanta importância e desenvolvimento neste atributo como esta versão de Rowe. A escolha no elenco de vozes de quatro adolescentes encaixou muito bem, nota-se que trazem um dinamismo fluído, até porque gravaram as suas linhas de diálogo em simultâneo em estúdio, o que não é de todo uma prática muito comum na indústria. Mas voltando um pouco atrás, de facto são adolescentes, das piadas, às referências, às pequenas coisas que definem esta face de descoberta na vida, estão cá. Ainda que a obra tente agradar na generalidade quaisquer gerações das tartarugas, de facto tem em mente a camada mais jovem da geração Z: a forma como incorpora a metalinguagem organicamente nos diálogos é dos seus maiores trunfos e com certeza aposto que terá grande aprovação por parte da mesma um pouco por toda a internet.

L-r, APRIL O’NEIL, DONATELLO, RAPHAEL, MICHELANGELO and LEONARDO in PARAMOUNT PICTURES and NICKELODEON MOVIES Present
A POINT GREY Production “TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES: MUTANT MAYHEM”

Dentro do campo das temáticas, os dilemas adolescentes humanos estão aqui também encapsulados pela personagem de April, que tal como outras encarnações pretende vingar no ramo do jornalismo, a sua inclusão na história é importante de início, mas muito rapidamente perde norte quando os outros mutantes são incluídos no decorrer do segundo ato. Diferente das mudanças que elogiei até aqui, nesta não tenho o mesmo ponto de vista, é uma caracterização que fica aquém de tudo o que já foi visto da mesma, talvez por se tratar de um retrato adolescente reduza substancialmente o potencial que tem enquanto personagem, essencial da mitologia das tartarugas ninjas. Contudo, o desfecho deixa em aberto, margem de boa esperanças quanto ao futuro da personagem.

Futuro este que está longe de ser incerto, pois muito antes de sequer chegar aos cartazes das salas de cinema, já a produção da Nickelodeon confirmou uma sequela e uma série animada baseada nesta recém concepção. Outro ponto positivo, relacionado com esta informação, é que de facto o Mutant Mayhem aproveita uma mão cheia de vários elementos da franquia, como a presença da organização maligna Ultrom, por muito que não traga outros óbvios à mistura. Recuando uns parágrafos atrás na parte técnica, o elenco de voz é robusto em figurões da indústria do entretenimento que enriquecem e muito a experiência. Destaco Giancarlo Esposito como Baxter Stockman, o cientista lunático responsável pela criação da substância viscosa que dá origem às mutações, e claro, Jackie Chan como o mestre de artes marciais pai das quatro tartarugas ninja, que quem tomou tal decisão no casting sabia perfeitamente o que estava a fazer.

Em jeito de conclusão, TMNT: Mutant Mayhem termina com um saldo bastante positivo, para a surpresa de muitos (a minha inclusive). É daquelas súbitas pérolas, que ninguém dava nada por, que chega silenciosamente e torna-se rapidamente numa das mais inusitadas do ano no campo no seu género. Seja pela ação frenética dos combates mirabolantes, seja pela qualidade e explosão criativa da animação ou pelo apego nostálgico para todas as suas idades (especialmente para os adolescentes), há muito por onde escolher e elogiar, naquela que, até ver, é já a versão cinematográfica definitiva das tartarugas ninjas. Com poucas grandes apostas no horizonte no calendário de estreias, aliado a uma duração acessível, não há porque querer perder um dos pontos altos de 2023 no que toca a filmes de animação.

 

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