Em Poor Things (Pobres Criaturas), Emma Stone e Yorgos Lanthimos reúnem-se mais uma vez para criar uma comédia surrealista, desta vez com elementos futuristas.
Começo já por dizer que fiz questão de saber muito pouco sobre este filme antes de o ir ver. Não tinha qualquer expetativa e foi, sem dúvida, bem melhor do que o que esperava. E digo também que embora seja um argumento adaptado, a originalidade deste filme é tremenda e isso já fazia falta no cinema.
Somos apresentados a Bella Baxter (Emma Stone), que à primeira vista pode parecer perfeitamente normal mas há muito mais que se lhe diga, especialmente na relação “paternal” que tem com Godwin Baxter (a quem chama de God, que ironicamente significa Deus). Há muitos filmes que podem ter servido de inspiração para este filme desde a Bela e o Monstro (sim, o nome dela ajuda) a acabar no Frankenstein (mas em que o Frankenstein não é a Bella mas sim o God).
E nem vou estar com mais rodeios: Emma Stone é brilhante neste filme. Toda a postura que ela tem de adoptar, todos os diálogos, toda a viagem de autodescoberta que a sua personagem tem ao longo do filme é maravilhoso de assistir. Ao início, somos confrontados com o apego que Bella tem a God (Willem Dafoe) , que até pede a um estudante seu para o ajudar a estudar os desenvolvimentos dela. Aos pouco, ela foi percebendo o que a deixa realmente feliz, até que conhece o extravagante Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) que lhe mostra o mundo que nunca pôde ver, onde vão viver momentos (in)tensos.
Apesar de Emma Stone ser a grande estrela deste filme, o Mark Ruffalo também está surpreendente. Finalmente conseguiu fugir a alguns papéis típicos que já temos visto dele para interpretar uma personagem carismática e muito cómica, já para não falar na obsessão que a personagem do Duncan tem por Bella que é hilariante de assistir mas que também nos deixa a refletir. Willem Dafoe acaba por não aparecer tanto mas quando aparece também acaba por conquistar com o seu toque mais clássico.
Igualmente incríveis são todos os efeitos visuais e figurinos de Poor Things. Começando pelos efeitos visuais, embora já tenhamos viajado até Lisboa em alguns filmes este ano, aqui apresentam-nos uma Lisboa futurista deslumbrante, onde até tivemos a nossa Carminho a tocar uma música e o nosso belo pastel de nata a aparecer também. Também as cenas em que eles estão no barco acabam por ser muito bem conseguidas e esta junção dos efeitos visuais, com os cenários interiores, dão um ambiente totalmente exótico e criam o imaginário deste filme.
No caso dos figurinos, fiquei fã de toda a conjugação de roupas que a Bella foi usando ao longo do filme porque quando até podíamos pensar que não combinava a bota com a perdigota, ela estava simplesmente fantástica. E claro, tenho de mencionar o trabalho de maquilhagem em Willem Dafoe, também muito bem conseguido.
No que toca à realização de Yorgos Lanthimos, muitas pessoas poderão não gostar da escolha dos planos dele ao longo do filme, seja planos mais fechados, planos com câmaras fisheye e por aí em diante. Mas vamos lá ver, quem é que ainda fica surpreendido após tantos filmes dele? É desta forma que ele nos consegue puxar para este imaginário, onde a comédia acaba por assumir um grande papel e sem isto, não teríamos esta viagem de loucos (porque às tantas ponderamos mesmo o porquê de estarmos a ver aquilo) mas também vamos tendo a descoberta de um mundo novo à medida que temos a autodescoberta de Bella como mulher, mas acima de tudo, de libertação dos homens da sua vida que sempre a quiseram prender. Apesar de tudo, havia cenas que eu reduzia ligeiramente que, sem elas, passavam a mensagem na mesma – mas não foi porque me aborreceram, atenção!
Vou acabar a dizer que a Emma Stone merece sem dúvida ganhar o seu segundo Óscar com esta interpretação. Ela entregou-se de corpo e alma à Bella e sinto mesmo que poucas pessoas a conseguiriam interpretar e ela fê-lo de forma exímia. É uma personagem totalmente diferente de tudo o que ela já fez.
Em suma, Poor Things (Pobres Criaturas) é uma obra memorável de Yorgos Lanthimos mas, acima de tudo, de Emma Stone que deixa as portas abertas para mais trabalhos conjuntos dos dois (e já vai existir um em breve) e merece sem dúvida ser visto pela sua extravagância e porque merece o reconhecimento devido, seja pelos espetadores, seja pelos Óscares em Março.