Esta é uma história sobre o fim de uma relação, amplamente capitalizada pela popularidade de uma saga cinematográfica que desbravou novos horizontes para os Muse. Esta é a história de Neutron Star Collision!
Filme: The Twilight Saga: Eclipse (2010)
Em 2006, os Muse editam o álbum “Black Holes and Revelations” que os transforma num fenómeno global. As arenas já eram pequenas para tanta popularidade e a banda começa a apostar em tocar em estádios. Desde cedo, o trio contou com uma respeitável legião de fãs na Europa e na Ásia, mais nomeadamente no Japão.
Contudo, a banda não conseguia chegar aos mesmos níveis de popularidade nos Estados Unidos da América, não só pela sua sonoridade fora do normal mas também, e sobretudo, por terem um 1º álbum (Showbizz) que muitos críticos americanos consideraram ser uma cópia barata de Radiohead.
Mas isto não demoveu os Muse, que tentaram a todo o custo promover o novo álbum em salas de espectáculo mais pequenas do território americano. Assim, tínhamos uma banda que tocava para 80 mil pessoas no velho continente e passados 2 meses, tocava para 3 mil pessoas no outro lado do Atlântico.
Sensivelmente um ano antes, Stephanie Meyer, escritora responsável pelos best-sellers da saga Twilight, consegue um acordo milionário para a adaptação da sua obra para o grande ecrã. A escritora criou algo que tinha captado a atenção de uma geração que dava pouco valor a ler livros e, ao fazer o contrato com os estúdios, Meyer teria o poder de decisão em vários aspectos.
Um dos factores no qual a escritora teria carta branca era a escolha de músicas para a banda sonora dos seus filmes. Meyer sempre afirmou, em encontros com fãs e em painéis dedicados à sua saga, que os Muse eram a sua banda favorita e desde cedo mostrou grande vontade de ter a banda aliada ao seu projecto.
Em 2007, os Muse recebem formalmente uma proposta para participarem na banda sonora da saga Twilight, que era simples, pois não obrigava à composição de músicas novas. Assim, a banda poderia ganhar protagonismo usando um tema já editado num álbum.
Em 2008, o filme Twilight chega aos cinemas e rapidamente transforma-se num dos mais rentáveis projectos de Hollywood e na banda sonora estava Supermassive Black Hole dos Muse, tema que tinha saído como primeiro single do álbum Black Holes and Revelations. Rapidamente a música começa a fazer um sucesso tremendo nas rádios americanas, isto quase 3 anos depois da sua edição.
Com isto, a banda começa a ganhar alguma projecção nos EUA, contudo, o foco agora era o novo álbum, Resistance, que veria a luz do dia em setembro de 2009. Antes do álbum sair, Meyer pretende que os Muse voltem a fazer parte da banda sonora da sequela de Twilight: New Moon. Desta vez, havia algumas nuances: a escritora queria uma música original, algo que a banda não poderia satisfazer visto que estava a trabalhar num novo álbum. Matt Bellamy (vocalista/guitarrista/pianista dos Muse) sugere então um arranjo de uma música já pronta para o novo álbum, arranjo esse que seria uma versão exclusiva para o filme e não seria lançada como single, a não ser associado à saga Twilight. Assim a escolha recai em I Belong To You.
Em Novembro de 2009 sai New Moon, que é um sucesso ainda mais estrondoso que o original Twilight. A música dos Muse volta a ser um sucesso mas desta feita apenas em território americano, visto que a banda não o promoveu. Continuavam assim a cimentar a sua popularidade neste território e ao mesmo tempo podiam promover outras músicas noutros continentes que não o americano, funcionando quase como publicidade gratuita. Para termos uma noção, em toda a tour mundial, os Muse quase só tocaram I Belong To You em território americano.
Na mesma altura da estreia de New Moon, Matt Bellamy separa-se da sua companheira de longa data. A relação durava há imensos anos e o vocalista utiliza a escrita para expressar tudo aquilo que sentia. Matt cria então Neutron Star Collision (Love Is Forever). A letra foi escrita escassas horas após o termo da relação, e nela, Matt tenta exprimir aquele sentimento que temos no início de um relacionamento que pensamos que vai ser para sempre, algo que o vocalista apelidou de verdadeiro amor. Outro significado dado pelo vocalista é que, por muito que a relação acabe, haverá sempre um elo de ligação.
Matt, ao reler o que tinha escrito, achava que todo o tema era demasiado lamechas e guardou-o para si pois acreditava que nada daquilo daria alguma coisa produtiva, pelo menos num curto espaço de tempo, especialmente porque tão cedo não haveria um álbum novo de Muse e quando houvesse, o vocalista achava que já teria ultrapassado esta fase.
No início de 2010, os Muse são novamente contactados para fazerem parte da banda sonora da saga Twilight, neste caso Eclipse. Mas desta feita juntamente com a proposta, vem uma carta de Meyer. A escritora agradecia a parceria mas pedia também se a banda poderia fazer uma música original para o filme e não o reaproveitamento de músicas editadas, simplesmente para ser algo especial para dedicar a todos os fãs da saga.
Os Muse ao princípio hesitaram, pois para além de estarem a preparar uma pausa, queriam gravar um álbum diferente de Resistance e Black Holes and Revelations e ainda não queriam mostrar a nova sonoridade, ainda para mais numa banda sonora.
Até que Matt decide mostrar a letra de Neutron Star Collision (Love Is Forever) aos outros membros da banda. Para dar ênfase à sua ideia, usa o pretexto que se esta música não saísse nessa ocasião poderia nunca mais ver a luz do dia pois não se enquadrava no que a banda queria para o seu futuro.
Os restantes membros da banda aprovam a ideia de Matt e decidem então compor a música, sobretudo para celebrar um fim de um ciclo auspicioso dos Muse.
O processo de composição foi fácil, pois uma das características dos Muse é terem trechos, riffs que são meros improvisos entre músicas nos concertos. Estes improvisos, se forem realmente bons, são reaproveitados para comporem futuras músicas. Com Neutron Star Collision, o processo foi idêntico.
Matt sabia de antemão que muitos fãs da banda iam achar a música demasiado lamechas, logo, decidiu dividi-la em duas partes aproveitando os tais trechos de improviso. A primeira parte seria com base num trecho usado em 2003 onde o vocalista só usa o piano como introdução a Sunburn (música do primeiro álbum da banda), que está bem patente no primeiro minuto. A segunda era um solo de guitarra fortemente inspirado nos genéricos de séries de anime que tinha surgido em 2004, aquando a passagem da banda por terras nipónicas, que é bastante evidente a partir do minuto 2:10. Os solos e riffs de guitarra seriam sobretudo para a banda ter um elo de ligação com os fãs mais puristas.
O principal problema deste processo prendeu-se com os produtores do filme, pois à medida os Muse praticavam a música, estes diziam que queriam usá-la para os créditos finais. Após os ensaios, os produtores mudaram de ideias e comunicaram à banda que afinal queriam numa cena específica, fazendo a banda mudar características na música. Feita a mudança, disseram que a música afinal já era para ser utilizada noutra cena, fazendo com que a banda alterasse novamente a composição… Esta indecisão fez com que os Muse emitissem um comunicado a dizer que não iam alterar mais e que podiam fazer o que quisessem com a música…
Após este episódio, a produção do filme decidiu dar total liberdade ao processo criativo, sobretudo depois de Meyer pedir aos produtores para deixarem a banda trabalhar na música como se fosse uma faixa de um CD dos Muse e não um processo que servisse para preencher tópicos para uma cena específica do filme ficar bem.
Como forma de agradecimento, a banda deu a Meyer a primazia de ser ela a anunciar a música nova. Assim, em Maio de 2010, o site oficial da escritora anunciava Neutron Star Collision, tema exclusivo de Muse para o filme Eclipse, 3º da saga Twilight!
Como seria de esperar a reacção foi mista por parte dos fãs, mas o que contou é que esta combinava na perfeição com toda a temática da saga Twilight e com o romance principal desta, onde por muitas coisas que acontecessem, o amor prevalece. A música chegou ao top 10 dos Estados Unidos e comprovou que os Muse apenas precisavam de uma segunda oportunidade em território americano e isso nunca teria acontecido se não fosse a Saga de Meyer ter apostado, desde o início, em contar com o trio no seu projecto!
Durante uma digressão dos Muse pelos Estados Unidos em 2010, Matt conhece uma rapariga que se confessa fã de Neutron Star Collision: a actriz Kate Hudson… com quem viria a ter uma relação!