Há filmes que são uma caixinha de surpresas. Mestres na arte de ocultar, todo o seu marketing é cuidadosamente calculado para esconder algum conceito, um momento chave ou, até mesmo, um actor que pode mudar fundamentalmente a percepção que temos desse filme. Tudo isto para surpreender a audiência no momento da verdade.
E, no meio disto tudo, temos filmes como o “The Lost City”. Um filme que pega toda nesta ideia de mistério e joga fora, revelando logo todos os seus trunfos.
Realizado pela dupla de irmãos Aaron e Adam Nee, “The Lost City” conta a história de Loretta (Sandra Bullock), uma apaixonada por história antiga e escritora de romances novelizados, que se vê raptada por Abigail Fairfax (Daniel Radcliffe), que precisa da ajuda desta para ler hieróglifos de forma a encontrar o tumulo de um antigo faraó egípcio.
Para poder ser salva, Loretta apenas pode contar com a ajuda de Alan (Channing Tatum), o modelo masculino das capas dos romances da escritora, que pensa que esta pode ser a aventura que necessita para levar avante a paixão que nutre por Loretta.
Se ao verem o trailer o vosso primeiro pensamento for “Isto parece ser divertido”, então são o público-alvo de “The Lost City”. O trailer não engana em nada – este é um filme que tem somente como objectivo principal entreter o espectador durante quase 2 horas. E, de modo geral, é bem-sucedido na sua missão.
Muito deste sucesso advém da química inerente entre Bullock e Tatum. Uma veterana nestas andanças e um ainda aprendiz, ambos refletem o estado de espírito das duas personagens na perfeição e forma um excelente par de opostos ao longo da película.
Sandra Bullock não perdeu um único batimento desde o início da sua carreira no final dos anos 80. Continua a mesma actriz de sempre, com sorriso e olhos cativantes, multifacetada e com uma presença no grande ecrã que exige atenção. É uma mestre na sua arte e isso é inegável.
Channing Tatum continua a dar cartas no mundo da comédia e a revelar-se um dos actores mais versáteis que passeiam pelos corredores de Hollywood. Seja acção, comédia ou drama, Tatum evolui bastante enquanto performer e consegue mostrar os seus dotes com qualidade nos múltiplos géneros e papéis a que se dedica.
“The Lost City” consegue ainda ser uma boa combinação de todos os géneros cinematográficos que contém. Num piscar de olhos passa de comédia para acção, de aventura para romance, sempre num bom timing para nunca perder a atenção do espectador e sem perder a noção do rumo da história que está a contar.
Não é boa ideia ir para este filme com a percepção de que o mesmo vai ser uma novidade nunca antes vista a nível cinematográfico. Variados filmes já tentaram este género, desde “The Mummy” a “Romacing the Stone”. “The Lost City” é uma prima (às vezes até explicitamente uma cópia) destes filmes, o que faz com que se torne completamente previsível desde o primeiro momento. Conseguimos discernir o final do filme à distância, como se já o tivéssemos visto antes.
Porém, apesar da sua previsibilidade inerente e de nem toda a comédia resultar como seria esperado, o elo mais fraco recaí mesmo sobre Daniel Radcliffe. Não que o actor esteja mal. A personagem é que é pobre, um vilão pouco fundamentado que apenas quer levar a cabo aquela patifaria porque sim. Radcliffe tenta tirar o máximo partido de cada minuto que tem de antena, mas nunca lhe é dado o espaço suficiente para poder brilhar.
No fundo, “The Lost City” oferece exatamente aquilo que promete – uma aventura/romance já vista e revista imensas vezes mas que, com a química perfeita entre Tatum e Bullock, consegue entreter o espectador. É um filme algodão doce, que sabe bem nos primeiros momentos mas que se dissolvem rapidamente na boca. Não deixa sabor amargo, mas também não deixa sabor durador.
P.S – Para os fãs de Brad Pitt, só vos tenho a dizer que este é um dos melhores cameos do actor. Rouba cada cena em que aparece.