Depois de inúmeras versões de Sherlock Holmes, está na altura do público conhecer “Enola Holmes”, a rebelde e brilhante irmã mais novo do detective.
O nome Sherlock Holmes não é nenhum estranho para o público. Desde o seu primeiro aparecimento numa curta história numa revista em 1887, a personagem tem sofrido várias alterações e surgido em múltiplas plataformas, sejam estas é inúmeros livros, filmes e séries de televisão.
Porém, pouco é falado sobre Enola Holmes, a irmã mais nova do detective britânico. Sendo que o primeiro surgimento da personagem tenha ocorrido em 2006, é perceptível que a fama da mesma ainda não tenha nem um terço do impacto que a do seu irmão mais velho. Mas talvez isso esteja prestes a mudar.
“Enola Holmes” é o novo filme da Netflix que pretende aprofundar o nosso conhecimento sobre a família Holmes. Tendo como base o primeiro livro de uma série intitulada “The Enola Holmes Mysteries”, o filme conta-nos a história de Enola (Millie Bobby Brown), uma jovem irrequieta e inteligentíssima, que fará de tudo para descobrir o paradeiro da mãe desaparecida. Nesta jornada, ela terá ainda de escapar das garras do seu tutor Mycroft Holmes (Sam Claflin) e ajudar um jovem lord a sobreviver.
Comecemos então por falar sobre aquilo que mais se destaca neste “Enola Holmes” – o seu elenco.
Millie Bobby Brown está adorável no papel de Enola. A jovem actriz acrescenta uma áurea de diversão e jovialidade a cada segundo, nunca perdendo a energia e elevando sempre o material que lhe é dado, mesmo quando este tenta equilibrar o lado infantil e o lado adulto da história.
A acompanhar a jovem actriz temos ainda Sam Claflin, que nos dá um Mycroft tão irritante e conservador que quase se torna uma caricatura de si mesmo, e uma nova versão do famoso Sherlock pelas mãos de Henry Cavill, que nos oferece um Sherlock estóico, calmo mas perturbado, um homem em mudança como a própria sociedade que o rodeia. Aqui não existe a ironia de Robert Downley Jr. nem os frenesins de Benedict Cumberbatch. É uma versão que pode não ser o momento mais alto do filme, mas que tem uma presença forte e credível no meio do enredo e que terá espaço para ser expandida em futuras entradas nesta possível saga.
A realização de Harry Bradbeer está perfeita para o tipo de filme temos ao nosso dispor. Usando ao máximo o facto de ter uma menina de 16 anos como protagonista da história, “Enola Holmes” tem adrenalina para dar e vender, colocando o espectador bem junto de todos os pensamentos da personagem principal. Desde o primeiro ao último segundo, iremos desvendar vários mistérios à medida que lutaremos contra assassinos contratados, saltamos de comboios em andamento e corremos contra o tempo para poder salvar a nossa pele.
Contudo, considero que seja no argumento que reside aquela que pode ser o maior defeito do filme. Não é por este em momentos ser previsível, mas sim pelo facto de ter alguma dificuldade em equilibrar tudo aquilo que tem para nos contar.
Todo o enredo de “Enola Holmes” tem a tarefa de nos contar várias histórias: apresentar personagens e o mundo em que estas vivem; desvendar o desaparecimento da mãe; ajudar o jovem lord a salvar-se; desvendar o mistério que envolve a vida deste lord; o movimento sufragista em Inglaterra.
É no baralhar disto tudo que o filme tem dificuldades em salientar aquilo que será mais importante contar, deixando alternadamente para segundo plano histórias interessantes e dando primazia a outras que não parecem agarrar tanto o espectador nem causar maior impacto no mesmo. Porém, nunca deixa de perder o seu fôlego, o que ajuda a que passemos por cima destes obstáculos enquanto vemos o filme.
O filme não tem medo de arriscar, conseguindo equilibrar de modo inteligente o lado infantil do seu humor e o lado sério com os assuntos sufragistas e de mudança da sociedade, que podem muito bem serem colocadas no século XXI. Assim, consegue agradar a um público jovem e a um público mais maduro de igual modo.
“Enola Holmes” é rápido e eficaz, movido por uma Millie Bobby Brown imparável. Apesar dos sobressaltos no storytelling, nunca deixa de lado o entreter o espectador, revelando-se uma óptima primeira entrada para um futura saga e um óptimo filme para se desvendar.
Já podem ver o filme aqui.