Once Upon a Time… in Hollywood (Era uma Vez… em Hollywood) é conhecido como o nono filme de Quentin Tarantino (e até ver, o penúltimo filme) e mostra-nos o percurso de um ator e do seu duplo em Hollywood nos anos 60. Desde que foi anunciado o filme teve bastante hype.
Este hype resultou em sete minutos de ovação de pé no Festival de Cannes quando o filme foi apresentado. E depois de vermos o filme percebemos totalmente o porquê.
Certamente que já viram escrito em mais sítios que esta é uma carta de amor de Tarantino a Hollywood dos anos 60, que é quando se passa esta nova longa-metragem. E é mesmo. Todos os pormenores fazem com que sejamos submersos no ambiente da época e é quase como se estivéssemos a ver o livro de memórias do realizador porque, como ele próprio referiu em entrevistas, este filme está repleto de momentos que ele se lembra de ter passado quando era apenas uma criança.
A história segue a vida do ator Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) que começa a sentir-se fracassado na sua carreira porque sente que não tem evoluído nos papéis que faz, ao mesmo tempo que a par e passo seguimos a vida do seu duplo, Cliff Booth (Brad Pitt) que se torna seu amigo e assistente nestes devaneios. E deixem-me só dizer que é maravilhoso ver estes dois atores juntos no ecrã.
Ao mesmo tempo, quase como num universo alternativo, conhecemos um dos elementos verídicos desta narrativa, que é Sharon Tate (Margot Robbie), que chega a Los Angeles com o seu marido realizador Roman Polanski, mas nunca conhecemos a fundo estas personagens. Ambos são os novos vizinhos de Rick Dalton em Hollywood.
Durante o filme, acompanhamos muito Rick e como é que ele se prepara para as cenas e como decora os seus diálogos enquanto bebe garrafas de whiskey para além de como ele se recrimina quando falha uma cena mas também como consegue arrasar na sua performance. Essencialmente, vemos muito o backstage de Hollywood, mais concretamente em filmes western e como as coisas são feitas.
Com Cliff, vemos as ruas de Los Angeles, a partir do carro de Rick. Tarantino em entrevista também referiu que algumas cenas desta personagem a passear, fazem lembrar a visão que ele tinha do carro a olhar para todas as paisagens. E claro, Cliff tem um espírito muito mais aventureiro e também uma maneira diferente de olhar para as coisas, o que torna a personagem dele interessante. É por ele ser assim que ele nos entrega diversas cenas engraçadas, sendo uma delas com Bruce Lee.
Quanto a Sharon, temos uma cena que também se assemelha a um episódio da vida do realizador, que é quando ela vai ao cinema ver o seu próprio filme. Vemos que a carreira dela ainda estava a começar ali e queremos conhecê-la melhor mas sem sucesso mas ligado a ela conhecemos outros elementos como Jay Sebring.
Como há Sharon Tate presente no filme, temos presente a personagem de Charles Mason, que embora não apareça muito, deixa a sua marca e temos uma visão do rancho George Spahn onde personagens como Pussycat, Tex e outras pessoas do grupo de Charles moram.
O filme entrega-nos performances impressionantes. Diria mesmo que Leonardo, com todas as suas cenas em que está chateado e do nada fica sensivel, assim como Brad Pitt com o seu ar mais descontraído mas muito engraçado devem ser nomeados.
E Margot, que embora não tenha tido tanto tempo de antena, também nos entregou um pouco de Sharon Tate suficiente para querermos mais. Mesmo com a distância de Sharon Tate no filme, acho que a personagem dela é sobretudo simbólica devido à sua história e a como a história principal foi criada de forma a ligar com a dela.
Por causa disto é que também o título do filme faz todo o sentido quando assistimos ao final do mesmo, mas não é altura de dar spoilers por aqui, mas que é um final à moda de Tarantino, lá isso é!
Não nos podemos esquecer de referir o restante elenco como Al Pacino, Kurt Russell, Luke Perry, Austin Butler, Margaret Qualley, Emile Hirsch, Timothy Olyphant, Dakota Fanning, que embora com menos tempo de antena, com as suas personagens ajudaram a construir o todo do filme pela sua interação com as personagens principais.
E claro, é sempre óptimo ver que alguns atores que já participaram em filmes anteriores de Tarantino, voltam para outro!
Os figurinos também estão muito bons, mesmo em pormenores como Rick usar o seu casaco de cabedal castanho, Margot usar alguns acessórios de Sharon Tate e Cliff com a sua t-shirt havaiana que é o que dá mood às personagens.
Em termos de cenários, incríveis também, como disse, toda a produção faz nos sentir que estamos nos anos 60, especialmente quando vamos para o backstage de filmes western. Para além de pormenores ao longo da cidade de Los Angeles.
E tal como os detalhes são importantes, há outros momentos que à primeira vista podem não dizer muito, mas que são tão visualmente bem construídos que ajudam a que o filme se torne bastante bom. Dou o simples exemplo de todo o processo de dar comida a Brandy, a cadela de Cliff.
A banda sonora não falha e a realização também não. Tarantino continua-nos a surpreender de filme para filme. Ele consegue transpor as suas memórias para a história que está a contar como também nos consegue fazer rir até doer a barriga. Só tive pena que ele não aparecesse no mesmo.
Algo bastante interessante também no filme é parecer que estamos a assistir a vários “episódios” ou “mini filmes” dentro de um todo que tem lógica. Quase como cenas desfasadas umas das outras que se juntam na perfeição para dar um seguimento à história a ser contada.
O filme só tem uma falha que é demorar tanto a chegar onde quer chegar mas se somos fãs do Tarantino, deixamos-nos levar porque estamos encantados a apreciar os pormenores que ele coloca ao longo das três horas em vez de estarmos a pensar muito em quanto a história demora a ser desenvolvida.
Certamente que haverá muito mais para dizer sobre esta longa-metragem mas, em suma, ver Once Upon a Time… in Hollywood é, sem dúvida, uma experiência que eu recomendo, mesmo que o filme seja longo. Vale totalmente a pena.