“Hollywood” é a nova série criada por Ryan Murphy, produtor que já por várias vezes foi galardoado nos Emmys e que esteve por trás de séries como Nip Tuck, Glee e American Horror Story.
contém spoilers
A história passa-se durante o pós-guerra dos anos 40/50 e tem como pano de fundo a era de ouro em Hollywood, em que a cidade atraía hordas de aspirantes a atores cujos sonhos de se tornarem grandes estrelas do cinema pareciam estar à distância de uma única e frutuosa audição.
Como protagonista desta história temos Jack Castello (David Corenswet), veterano que volta da guerra e ambiciona agora ser ator e entrar numa grande produção cinematográfica. É através dos olhos de Jack que conhecemos Hollywood de 1947 e nos são apresentadas as restantes personagens que constituem o nosso ensemble.
A primeira é Archie Coleman (Jeremy Pope), argumentista negro e homossexual que submeteu o seu guião intitulado “Peg” a um dos maiores estúdios da cidade, mas fê-lo sem revelar a sua etnia, por saber que a sua obra não seria julgada pela qualidade mas sim pela sua cor de pele.
Rock Hudson (Jake Picking) é outro jovem esperançoso que almeja ser ator e é uma de várias personagens criadas à imagem dos seus homónimos da vida real. Rock está apaixonado por Archie e ambos têm de esconder a sua relação se querem singrar na indústria do cinema.
Os dois restantes intervenientes centrais da nossa história são Raymond Ainsley (Darren Criss) – realizador principiante de ascendência filipina que tenta dar os primeiros passos no percurso da realização com um filme que pretende fazer renascer a carreira da (até então ofuscada) atriz asiática Anna May Wong (Michelle Krusiec), e a sua namorada e atriz negra Camille Washington (Laura Harrier) que, apesar de já ter contrato com a Ace Pictures, vê-se incapaz de obter o protagonismo que deseja, sendo consistentemente relegada para papéis secundários que, nesta época, eram vistos como os mais adequados para atrizes negras.
O enredo desenvolve-se quando os caminhos destes jovens se cruzam durante a produção do filme “Peg” e dos desafios que surgem e terão de ultrapassar com esta aventura. O guião desta série não tem uma estrutura linear e, por isso, temos várias cenas, especialmente nos episódios intermédios, cujo foco se afasta da trama principal. Isto é algo que, à primeira vista, pode ser considerado confuso ou sem rumo, mas aqui é empregue de uma forma única ao permitir mostrar aos espectadores diversas situações e eventos da sociedade da época que, por sua vez, são um dos pontos fortes desta série.
Esta é uma produção cujo excelente uso de guarda-roupa, cenários, adereços e maquilhagem brilha ao criar uma imagem idílica desta tão célebre cidade e nos faz maravilhar com o seu encanto. Ao inserir o nosso ensemble neste mundo, nas situações acima descritas, obtém-se uma forma orgânica de contar a sua história sem descurar no aspecto visual da narrativa.
Em “Hollywood” não há vergonha em abraçar o cliché e as ambições das suas principais personagens não fogem à regra: elas perseguem os seus sonhos até ao fim e são (quase) sempre bem-sucedidas. Esta escolha é intencional e faz parte da visão do próprio criador da série, Ryan Murphy. O autor disse, em entrevista, tencionar “fazer justiça” para os actores reais ilustrados na história (Rock Hudson, Hattie McDaniel, Anna May Wong) ao conceder um “final feliz” às personagens que os representam.
Este seu desejo, apesar de bem intencionado, acaba por chocar com o que foi a dura realidade pela qual estes artistas passaram, em que tanto sofreram às mãos de uma cidade e de uma indústria que os discriminou pela sua etnia e orientação sexual. Este aspecto foi criticado por muitos espectadores e gerou polémica pelo desfasamento entre o que é representado na série e o que de facto aconteceu na realidade.
Polémicas à parte, “Hollywood” é uma mini-série que recomendo fortemente e que se destaca pelo glamoroso e elegante ambiente, forjado de forma exímia, e pelas fantásticas performances de todo o elenco.