O The Golden Take esteve presente no evento dedicado à comédia “Portugal Não Está à Venda”, onde falou com o realizador André Badalo e parte do elenco do filme, incluindo Rita Pereira e Maria Vieira.
André Badalo, o realizador
Eu costumo dizer que não é um filme político. É um filme anti-corrupção. Quando eu me vi a despedir-me de amigos de longa data que infelizmente tiveram de emigrar, a reação foi escrever esta comédia que, como numa história de “Pedro e o Lobo”, segue a única família que descobre que nos vão roubar o país… só que já enlouqueceram de tal maneira que ninguém acredita no que dizem. Acho que é uma coisa muito portuguesa.
O que nos fez adiar a estreia do filme foi a necessidade de esperar que passasse um pouco mais o período da crise, porque não queríamos a choradeira, queríamos a reação. Adiámos para que os portugueses possam olhar agora para trás e dizer “Basta! Já não nos enganam mais. Somos capazes de dar nas trombas a quem nos tentar enganar outra vez.”
Quando estava a escrever o argumento já tinha alguns atores pensados, sobretudo aqueles com quem já tinha trabalhado, como a Dalila Carmo, a São José Correia, a Isabel Ruth e o Paulo Pires. Outros fui procurar precisamente para a personagem.
Por exemplo, o Sebastião foi a personagem mais difícil de encontrar, porque não queria um cómico a mandar piadas. Precisava de alguém que resultasse nos momentos dramáticos e o Pedro Teixeira conseguiu isso. Por outro lado, a escolha da Rita Pereira foi porque precisava de alguém com uma presença tão forte que provocasse ataques de pânico a este Sebastião que apareceu numa manhã de nevoeiro.
Queria uma linguagem que chegasse às gerações mais novas, como realizador e professor queria levar a um debate sobre a cidadania. Os nossos direitos e deveres enquanto cidadãos. Como professor deparo-me diariamente com gerações mais novas desinteressadas de temáticas determinantes para o futuro deles.
Rita Pereira
Eu gosto de novas apostas, de realizadores que não têm já tudo completamente pré-concebido na cabeça. O André deixou-me arriscar, brincar, apresentar o meu lado da personagem e com um argumento tão contemporâneo.
Eu adoro fazer novelas mas estou cada vez mais apaixonada pelo youtube. Sempre que aparecer um convite de cinema, obviamente que será aceite. Mas se aparecer um convite de um filme ou ‘webseries’ para o youtube já vejo com uma perspetiva completamente diferente, porque hoje em dia as pessoas estão muito mais adaptadas aos formatos propostos na internet. Acho que é um caminho novo super interessante.
Relativamente ao Pedro Teixeira, já tínhamos feito de casal nas novelas. Estamos sempre na brincadeira. Às vezes é difícil separar as águas e interiorizar que é um momento mais sério… mas tudo é possível!
Maria Vieira
“A Gaiola Dourada” é uma comédia fabulosa que já é um clássico. Foi um sucesso enorme na Europa e não só. Este filme, por sua vez, é uma sátira à realidade dos dias de hoje, sobre corrupção e emigração, sobre os jovens que acabam os cursos e são obrigados a procurar uma vida melhor lá fora e sobre as pessoas que são desalojadas de uma maneira desumana.
A minha personagem, Leonor Dias, não deixa de ter muito da Maria Vieira, é uma mulher que não tem medo e vai à luta e eu sou uma mulher que também não tem medo de dizer as verdades, doa a quem doer. Apontar o dedo a um governo que nos desgoverna. Infelizmente ainda há muita gente que acredita que tudo está bem. Acho que como portuguesa tenho o direito de apontar estes factos.
Portugal é um país com um dos ordenados mínimos mais baixos da Europa e que sobrevive à custa de dinheiro injetado pela comunidade europeia. O dia em que a torneira fechar, não vamos estar preparados e a situação rapidamente vai ficar muito má.
O que me surpreende é que ainda há pessoas que mesmo estando a viver uma situação bastante difícil, deixam-se ficar numa inércia. Ou por medo ou por cobardia, acho que até é mais o ‘deixar estar’ e o “Portugal Não Está à Venda” não deixa de ser um alerta.
Phillipe Lecroux
Eu e o André somos amigos. A comédia é sempre um atrativo muito grande e quando ele me convidou, aceitei. E logo para interpretar um chefe francês, chamado Escargot, prestes a abrir um restaurante de topo.
Nos próximos meses vou participar no filme “Quero-te Tanto” e na série com a Lúcia Moniz, “Solteira e Boa Rapariga”, ambos projetos do Vicente Alves do Ó. No filme é uma participação pequena, mas gosto imenso de trabalhar com ele.
“O Divã de Estaline” foi um reencontro com a Fanny Ardant depois de “Cadências Obstinadas”. Adorei estar com ela e com o Gérard Depardieu. Só fiquei triste que muito trabalho meu acabou por ficar de fora durante a montagem da versão final.
Ana Zanatti
O entusiasmo com que o André me falou do filme, a forma como me apresentou esta proposta… Achei que era muito interessante e fez-me aceitar participar no projeto.
Todas as personagens apresentam-nos sempre desafios. São personagens novas, precisam de tempo para reconhecer, estudar, meditar e conversar com o realizador. Foi um trabalho muito agradável, bem disposto e divertido. O ambiente nas filmagens foi muito bom e nos intervalos das filmagens também e isso é sempre uma mais valia.
Não me inspirei em ninguém para a ministra maquiavélica. Tirei um bocadinho aqui e ali, mas tinha alguns dados sobre a personagem, uma mulher do panorama político americano, poderosa e sem escrúpulos.
“Portugal Não Está à Venda” estreou a 21 de Fevereiro e encontra-se em exibição nos cinemas