Jack Nicholson celebra hoje o seu octogésimo terceiro aniversário. O ator americano não participa num filme há mais de uma década. Todavia, as suas performances continuam a vigorar na memória dos fãs de cinema.
Nascido em 1937, na cidade de Nova Iorque, Jack Nicholson foi criado pela avó depois de ter sido abandonado pelo pai. Consequentemente, foi criado a acreditar que os avós eram, efetivamente, os seus verdadeiros pais, e não sabia que a “irmã” era, de facto, a mãe.
Nicholson frequentou a Manasquan High School em Nova Jersey e aos 17 anos, decidiu que queria ser ator. Desempenhou alguns papéis de menor relevo em produções teatrais antes de participar no seu primeiro filme – “The Cry Baby Killer” (1958).
Os desempenhos em “Easy Rider”, (1969), e “Five Easy Pieces” (1970) deram-lhe notoriedade na indústria do cinema, mas foi a performance em “One Flew Over The Cuckoo’s Nest” (1975), que o catapultou para o mundo da fama.
Em homenagem a Nicholson, escolhi destacar cinco representações do seu vasto currículo, e que, a meu ver, podem ter escapado dos holofotes do público.
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“The King of Marvin Gardens” (1972)
Jack Nicholson e Bob Rafelson já se conheciam de outras aventuras cinematográficas. Em 1968, Rafelson realizou “Head”, filme cujo o argumento foi co-escrito por Nicholson. Mais tarde, produziu “Easy Rider”, obra que entregou alguma notoriedade ao ator em ascensão. Posteriormente, em 1970, Rafelson tornou-se um dos cineastas mais promissores da indústria, com “Five Easy Pieces”, que recebeu várias nomeações aos Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator.
Dois anos depois, com o seu novo filme, não foi tão bem recebido. Segundo o percebi, “The King of Marvin Gardens” foi totalmente arrasado pela crítica naquele ano de 1972. Todavia, mais tarde, recebeu algum prestígio que, na minha opinião, é justo.
O filme é baseado na mesma dinâmica familiar disfuncional de “Five Easy Pieces”. Nicholson interpreta David, um apresentador de rádio que enfrenta uma depressão profunda. Jason (Bruce Dern), o seu irmão, é um vigarista de espírito selvagem, e acaba por envolvê-lo numa fraude imobiliária em Atlantic City, com conseqüências inevitavelmente trágicas.
A longa-metragem apresenta cenas surreais e estridentes, com destaque para a relação entre os dois irmãos, ancorado no trabalho de alto gabarito de Nicholson.
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“Reds” (1981)
Por mais impressionante que consiga ser o centro das atenções, Nicholson sempre demonstrou uma disposição admirável para ajudar colegas de elenco a brilhar. Um dos melhores exemplos dessa excelência está em “Reds”, de Warren Beatty.
O enredo gira em torno de John Reed (Beatty), o jornalista norte-americano que foi enterrado junto à muralha do Kremlin, a curta distância do que viria a ser o mausoléu de Lenine. A dada altura, Reed envolve-se com Louise Bryant, uma socialite que se torna ativista.
Um dos destaques indiscutíveis do filme é Nicholson, que interpreta o dramaturgo Eugene O’Neill (escritor de “Jounrey Into Night”), que teve caso tumultuoso com Bryant. A personagem boémia faz com que o desempenho de Nicholson seja o contraste da representação séria de Beatty. O’Neill está perdido numa melancolia alcoólica, e embora esteja ciente de quão destrutivo é a relação com Bryant, revela-se incapaz de fazer algo para mudar.
O filme está repleto de performances colossais ( recebeu nomeações ao Oscar nas quatro categorias de representação, com Beatty, Keaton, Nicholson e Maureen Stapleton), mas a de Nicholson é a que vai permanecendo na memória.
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“The Border” (1982)
“The Border” é, para mim, o filme que espelha uma das performances mais underrated de Jack Nicholson. A longa-metragem foi lançada entre “Reds” e “Terms of Endearment”, que receberam nomeações aos Oscars, e, por conseguinte, tornou-se uma jóia esquecida.
Nicholson interpreta Charlie, um agente de patrulha de fronteiras que se muda para o Texas a pedido da esposa. A dada altura, descobre que os colegas – Cat (Harvey Keitel) e Red (Warren Oates – num dos últimos papéis da sua carreira) – estão envolvidos em esquemas de corrupção.
O filme peca no último ato, onde parece que tudo foi desvirtuado. É difícil acreditar que o plano original incidisse na opção simplista que apresentou. É um final comercial demasiado flagrante, servindo até de personificação a alguém que se veste de palhaço para ir a um funeral.
Seja como for, vale pela história, mas, indubitavelmente, por uma das melhores performances de Nicholson, que escapou provavelmente a alguns fãs do ator.
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“Mars Attacks!” (1996)
“Mars Attacks!” é um excelente filme? Claro que não. Mas é deliciosamente estranho. Esta adaptação de Tim Burton surgiu logo após a polémica de invasões dos anos 90, iniciada com “Independence Day”.
É uma sátira tão cínica quanto divertida, ao apresentar uma humanidade que realmente não vale a pena salvar. Esta foi a segunda colaboração de Nicholson com Burton, a seguir a “Batman”, e numa abordagem ainda mais alucinante.
Nicholson sabia exatamente o tipo de filme em que estava, e parecia estar mesmo a divertir-se nas cenas em que participou.
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“The Pledge” (2001)
Numa época mais avançada da carreira, os papéis de Nicholson pareciam relegados a dois pólos: 100% da Jack Persona (“The Departed”) ou uma versão divertida da Jack Persona (“About Schmidt”). Todavia, no início do século XXI, ofereceu um trabalho curioso.
Seis anos depois de terem colaborado em “The Crossing Guard”, Nicholson voltou a reunir-se com Sean Penn (enquanto realizador) em “The Pledge”, um conto sombrio de morte e vingança, no qual o ator interpreta Jerry Black, um detetive na idade da reforma que investiga o homicídio de uma rapariga de oito anos.
Embora a realização de Penn seja um pouco pesada, reuniu um elenco surpreendente que nunca aparece (destaque para as pequenas participações de Helen Mirren e Vanessa Redgrave), mas Nicholson é quem carrega o filme.
É, facilmente, a performance mais subtil e menos educada do ator, que surge quase irreconhecível na pele de um homem assombrado, que ainda quer dar provas do seu potencial no fim da jornada profissional e até pessoal.