Para os fãs do suspense que esperam pelo regresso do príncipe prometido, um M. Night Shyamalan que vagueia pela bruma com o guião para o próximo grande thriller debaixo do braço, este novo filme, Old, chega como uma enorme desilusão. Não só se mostra incapaz de encher as medidas dos entusiastas pelo género, como é, objetivamente, uma péssima maneira de desperdiçar quase duas horas.
A história, baseada numa banda desenhada suíça da autoria de Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters com o nome de Sandcastle, passa-se numa praia idílica e recôndita, aninhada entre enormes e misteriosos rochedos mas que esconde um terrível segredo – os banhistas que a escolhem como destino veem-se presos num espaço em que o tempo passa por eles a um ritmo desenfreado, chegando a envelhecer dois anos numa hora. Incapazes de regressar pelo caminho por onde chegaram, o grupo pensa em como pode escapar enquanto tenta perceber o que se está realmente a passar com os seus corpos…
Ao conceito base não falta originalidade nem espaço para o desenvolver de mil e uma maneiras criativas, mas é na execução que M. Night tropeça sobre as suas próprias armadilhas.
No decorrer do filme há uma constante incapacidade de fazer com que a audiência se importe com o destino de qualquer uma das personagens, quer pela sua caracterização esquelética que dispensa apenas um traço de personalidade por pessoa – temos um atuário que recita uma estatística relevante para cada situação e uma psicóloga que quer, constantemente, “falar sobre os seus sentimentos” – quer pelos horríveis diálogos a que somos sujeitos por atores que sabemos que são competentes, mas a quem parece ter sido pedido que esqueçam tudo o que aprenderam ao longo da carreira.
A maneira como as cenas são filmadas é também perplexante: por um lado temos um enquadramento interessante de alguns planos, muito dinâmicos na sua apresentação, mas por outro, sentimos que esse efeito é puro produto do acaso, visto que noutras instâncias a câmara é como uma entidade singular com desejos próprios que, por vezes, chega a afastar-se da ação a decorrer em cena para captar outra coisa que lhe pareça mais interessante. O que, em parte, se percebe, porque tudo o que está a acontecer fora do ecrã é mais cativante do que Shyamalan nos quer mostrar.
No fim, ficamos com a sensação que, em todas as escolhas que o realizador podia ter feito, ele optou pela pior opção, como uma criança impulsiva que, assim que pensa em algo, resolve fazê-lo de seguida. Será também M. Night um adolescente, preso no corpo de um adulto depois de umas férias numa praia misteriosa? Provavelmente não, será apenas falta de talento mas, na verdade, nunca o saberemos.
Fica uma réstia de esperança para os mais otimistas que ainda acreditam no retorno aos filmes de qualidade por parte de M. Night Shyamalan e, para os outros, fica o consolo de que nada os vai obrigar a voltar a ver um filme tão doloroso para as personagens como para os espectadores.