Pieces of a Woman estreia dia 7 de janeiro na Netflix e apresenta-nos um drama que retrata o luto de um casal. Conta com duas atrizes que são candidatas fortes à temporada de prémios deste ano.
O filme que conta a história de luto de um casal, Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), após perderem a sua bebé num parto em casa, teve a sua estreia no TIFF e é das primeiras estreias do ano na plataforma de streaming.
Pieces of a Woman surpreende logo no início com um cold open (antes do título do filme/créditos iniciais), gravado num take contínuo que é capaz de ter sido dos mais intensos emocionalmente que já vi nos últimos tempos, arrebatando-nos logo de início, porque retrata os vários momentos num parto desde que as primeiras contrações começam até que o bebé nasce – e o que foram quase 30 minutos, pareceram horas. E claro, sentimos o momento da perda como se o estivéssemos a ver, embora não o vejamos.
Realmente, durante todo o filme, não precisamos de grandes coisas para passar emoções como a alegria de um casal que está prestes a ter um bebé como a fase do luto que acaba por ser de cada um deles, mas que afeta a relação porque enquanto um exterioriza os seus sentimentos, o outro fica mais vazio sem saber bem como se expressar e sofrendo internamente. E nós sentimos tudo com eles porque estivemos presentes naquele momento importante da vida deles, mas também dos mais trágicos.
Vanessa Kirby já tinha brilhado nas primeiras temporadas de The Crown no papel de Princesa Margaret, já nos tinha mostrado que a acção também pode ser o barco dela em Hobbs & Shaw e Mission Impossible mas nunca a tinha visto num registo mais de drama, entregando-nos uma interpretação fantástica aqui. Acredito fielmente que ela será uma candidata forte aos Óscares deste ano e se não o for, é porque não viram o mesmo filme que eu. Ela mexe com os nossos sentimentos ao não saber como lidar com os seus da maneira que as pessoas esperam que ela o faça.
Shia LaBeouf entrega uma interpretação igualmente boa, em que a sua personagem expõe mais os sentimentos na fase de luto, mas que nem sempre toma as melhores decisões. Contudo, embora tenha sido espetacular a interação dele e da Vanessa na primeira meia hora, após isso ele acabou por ficar ofuscado por ela, também devido ao facto de não ter tido tanto destaque no argumento como ela.
Ellen Bursty, que podem reconhecer de Requiem for a Dream e The Exorcist é, como Vanessa, uma séria candidata para as cerimónias de prémios deste ano, mas na categoria de Melhor Atriz Secundária. As duas têm uma cena fantástica, em que Ellen tem um monólogo emocionante e de deixar-nos de boca aberta ao contar a sua história, a sua realidade.
Não conhecia nenhum trabalho de realização de Kornél Mundruczó mas fiquei rendida ao modo como ele realizou este filme especialmente logo no início que, embora tenha muito mérito dos atores, fez com que nós estivéssemos na mesma sala a vivenciar aquele momento. Juntamente com o óptimo trabalho de Benjamin Loeb na cinematografia. Os planos fechados em certos momentos-chave e sem ser apenas na cara dos atores mas mais em certos detalhes do corpo como unhas, pescoço e assim, também ajudaram a que o filme se tornasse mais intimista.
Para além disso, fui gostando de alguns elementos ao longo do filme que também tocaram à parte do argumento como a utilização da ponte que Sean está a construir (sendo esta a sua profissão) que vai sendo finalizada ao longo do filme (e que de certa forma marca o passar do tempo) como a explicação que esta personagem dá numa cena.
Pieces of a Woman é então um filme com muito impacto emocional, com interpretações muito boas e uma realização que acompanha o brilho dos mesmos, mas não sinto que seja um filme memorável daqui a uns tempos. Lá está, é marcante até porque para além de haver casos destes diariamente, acabámos de passar por um ano muito complicado (como a própria Vanessa comentou numa entrevista à EW).
Veremos se Kirby leva o seu primeiro Óscar!