Ao longo do mês de Junho, o canal Hollywood vai dedicar uma emissão especial dos oito filmes de Harry Potter. Por conseguinte, todos os sábados e domingos, a partir das 22h, é exibido um dos filmes da saga do feiticeiro mais célebre do mundo. A par e passo, à medida que os filmes são transmitidos, vou partilhar a minha opinião sobre cada um deles. Desta feita, hoje começo então por Harry Potter and the Philosopher’s Stone.
O primeiro filme de Harry Potter arrecadou 31 milhões de dólares no dia da estreia, quebrando, desta feita, um recorde de números em bilheteira.
J.K. Rowling criou um dos personagens fictícios mais influentes do século XXI. Harry é uma criação literária moderna digna de Roald Dahl e Charles Dickens.
Ambos os autores conceberam o arquétipo do herói ocidental; um jovem que nasce numa situação desfavorecida, mas que acaba por triunfar através do trabalho e da virtude moral. Aliás, até é possível escrever uma dissertação, em jeito de comparação, sobre Harry Potter, Charlie Bucket e David Copperfield.
Com o auxílio dos executivos da Warner Brothers Studio, Chris Columbus juntou um elenco totalmente britânico para a adaptação cinematográfico “Harry Potter and the Philosopher’s Stone”. Columbus efetuou uma amálgama interessante, entre atores veteranos e muito sangue novo.
Alan Rickman, na pele de professor Snape, profere cada palavra de forma tão sublime, que parece que foram concebidas de propósito para o ator jogar com elas da melhor forma. Maggie Smith, ainda no auge dos tempos de Jean Brodie, é a professora Minerva McGonagall. Richard Harris é o diretor Dumbledore. E John Hurt é um célebre vendedor de varinhas mágicas.
A naturalidade da representação dos jovens atores é preponderante. A amizade entre os três protagonistas parece calorosa. Em tempos de crise, os três amigos apoiam-se, e não procuram a humilhação. Emma Watson interpreta Hermione Granger, com um coração de ouro escondido. Rubert Grint, de cabelos ruivos, é o amigo leal do personagem principal.
O peso do filme e a lenda de um nome – Harry Potter – caem sobre os ombros de Daniel Radcliffe, de 11 anos. Radcliffe faz um trabalho bastante razoável (embora não encontre um pico de excelência), e faz com que tomemos a decisão de sentir empatia pelo herói.
É um papel difícil, porque Radcliffe precisa irrevogavelmente de ser o centro das atenções, mesmo quando é espetador. Confesso que uma das cenas onde Radcliffe consegue sempre surpreender-me pela positiva neste filme, é quando decorre o jogo de Quidditch.
A meu ver, ele não é (e nunca foi) um ator sublime, mas nos momentos de maior suspense, é possível evidenciar um certo carisma cinematográfico semelhante a Harrison Ford, se me permitirem a analogia.
Antes de “Harry Potter”, Radcliffe já tinha trabalhado em “David Copperfield”, uma mini série da BBC, onde, por curiosidade, também contracenou com Maggie Smith.
Deixado à sorte, aconchegado por mantas, à porta de uma casa, Harry é criado pelos tios, no seio de uma relação que nunca foi boa. Todavia, o destino tinha-lhe reservado algo melhor do que uma vida de negligência.
Desta feita, o protagonista recebe a oportunidade de frequentar Hogwarts, porém, esta não era uma escola qualquer. Hogwarts era uma escola para feiticeiros, algo que Harry nunca imaginaria que seria possivel existir.
O nosso primeiro vislumbre de Hogwarts, define o tom dos efeitos especiais do filme. Ao erguer-se por entre um lago iluminado pela lua, Hogwarts parece tão real como Xanadu em “Citizen Kane”.
Os efeitos especiais fornecem uma aparência plausível nas cenas de ação que desafiam a gravidade.
Se já fiz menção a Quidditch, posso também ressalvar um jogo de xadrez com peças mortais e em tamanho real. Uma sala cheia de chaves voadoras, uma floresta escura onde uma criatura repugnante ameaça Harry, e as sombras escuras da biblioteca de Hogwarts, onde um manto de invisibilidade pode mantê-lo fora de vista de outras pessoas, mas não fora de problemas.
Chris Columbus (realizador de “Home Alone” e “Mrs. Doubtfire”) e o argumentista, Steven Kloves, tiveram o cuidado de não enfatizar apenas os elementos da trama, mas também de criar um universo místico benevolente.
E isso significa que o público tem algum tempo para conhecer recantos importantes, como as salas de aula em Hogwarts, ou o Salão Nobre, um espaço iluminado por centenas de velas que flutuam acima de dez metros.
Estes detalhes permitem-nos conhecer algumas das maravilhas de Hogwarts, que são, por vezes, mais importantes que o enredo.
Quanto a mim, é uma obra-prima de direção de arte e cenografia (graças ao designer de produção, Stuart Craig, e ao supervisor de efeitos visuais, Rob Legato) que evoca um mundo mágico e imaginativo.
Já muitos falaram sobre a “intolerância religiosa” em relação a “Harry Potter”, devido à relação com bruxaria. De facto, existem vários conceitos de magia que fornecem alguma textura à história, não obstante, “Harry Potter and the Philosopher’s Stone” não incide em qualquer tipo de propaganda para o diabo.
Efetivamente, os temas que este filme enfatiza, acabam por ir ao encontro das coisas que o diabo mais odeia: honra, lealdade e amor.
“Harry Potter and the Philosopher’s Stone” vai ser transmitido no canal Hollywood às 22h de sábado, dia 6 de Junho de 2020.