“Parasite” (Parasitas), o novo filme de Bong Joon-ho (Okja), traz-nos tudo o que existe de melhor no cinema. Ganhou o Palme D’Or 2019, o prémio mais prestigiado do Festival de Cannes, e já estreou nos cinemas portugueses.
“Parasitas são organismos que vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro, um processo conhecido por parasitismo.” (Wikipédia)
A história de “Parasite” começa por seguir uma família sul coreana em que o pai (Song Kang-ho), mãe (Chang Hyae-jin), filha (Park So-dam) e filho (Choi Woo-sik) vivem em condições de pobreza numa cave imunda.
As soluções que encontram para ganhar dinheiro são hilariantes, como dobrar caixas de pizza. Aliás, a primeira parte da narrativa é uma comédia inserida no contexto penoso daquela família que atravessa situações como tentar apanhar wifi da casa acima ou aturar o homem embriagado a urinar perto da única janela que tem visibilidade para a rua. Todos estão desempregados e a única forma de terem algum dinheiro é a dobrar caixas de pizza.
Por outro lado, é-nos também apresentada outra família com a mesma composição mas a situação financeira é totalmente o oposto. Têm uma casa maravilhosa, dinheiro, motorista, uma governanta e uma filha a precisar de explicações de inglês. E é a partir daqui que Bong Joon-ho nos mostra como um parasita pode destruir o seu hospedeiro.
“Coíbam-se – na medida do possível – de revelar o que acontece depois da entrada dos dois irmãos como explicadores”, lê-se no comunicado feito pelo realizador à imprensa e ao público no geral. Pode ficar descansado, Sr. Bong Joon-ho. A sua vontade será cumprida nesta crítica.
Quando assisti a este filme não tinha qualquer informação acerca do mesmo e ainda bem, porque consegui deixar-me levar na montanha russa de Parasite.
O elenco é espantoso, e conseguimos acreditar realmente nos seus sentimentos, na sua ligação e nos seus laços familiares.
O trabalho técnico de câmara e fotografia é utilizado de forma bastante pensada, com planos esteticamente muito bons e uma iluminação que vai alterando consoante a família que estamos a seguir.
É muito difícil categorizar Parasite num género. Consegue ser comédia, drama e thriller. E mesmo misturando estes três géneros, nunca deixa de ter consistência e naturalidade devido à óptima construção da narrativa, onde as piadas funcionam e o suspense fascina. É tudo utilizado com uma técnica impecável, com o objetivo de surpreender cada vez mais o espectador de formas inesperadas.
A história é simples mas cativante, e quando damos por nós estamos de boca aberta em frente do ecrã gigante. Parasite não decepciona, e apresenta-nos uma luta muito antiga: a luta entre classes sociais, onde os “parasitas” tentam com as formas mais criativas entrar num mundo que lhes tem sido negado.
Além disto, Bong Joon-ho trata todas as personagens de forma digna. Não é fácil escolher apontar dedos, os vilões mudam consoante a nossa perceção e todas as personagens estão cheias de simpatia. Não existe preto e branco mas existe uma grande palete de cores intermediárias que irão resultar numa explosão de vermelho sangrento.
Já nos foi mostrado de diversas maneiras como os ricos podem “comer” os pobres, mas neste filme é mostrado que os pobres podem ter um grande apetite.