No papel, “Self Made: Inspired by the Life of Madam C.J. Walker” aparenta ser um sucesso estrondoso. É a história, carregada de significado, sobre Madam C.J. Walker. Esta afro-americana construiu um império relacionado com produtos de beleza, tornando-se milionária e uma inspiração para muitos durante a sua carreira. Porém, o resultado final desta série de quatro episódios não é tão próspero quanto poderia ser expectável.
“Self Made” aborda a história de Sarah Breedlove, uma mulher que tenta criar os seus próprios produtos direcionados para os cuidados a ter com cabelos.
Efetivamente, o que se segue é uma história que catapulta a pobreza para a riqueza, enquanto Sarah muda o seu nome para Madam C.J. Walker e começa a construir um império do zero. É claro que, ao longo do caminho, há vários problemas que ameaçam tirá-la deste objetivo, mas, eventualmente, as rasteiras levam-na à glória com a filha ao seu lado.
“Self Made” aposta na verdade nua e crua. Os homens irritam-se com o facto de Sarah ambicionar construir uma empresa própria, ou seja, era visto como um conceito estranho no início do século XX. Walker é uma personagem interessante, já que naquela época era inédito uma mulher, ainda para mais uma mulher negra, forjar um negócio próprio e ter sucesso.
Tudo começa quando o stress de ser lavadeira, no seio de um casamento infeliz, faz com que Sarah perca o cabelo por completo. Addie (Carmen Ejogo), que tinha um produto inédito para estas situações, acaba por resolver o problema.
Sarah percebe que todas as mulheres negras desejariam um produto assim, e, desta forma, começa a vender uma versão aprimorada do produto. Posteriormente, aumenta a produção, e cria outros produtos, e arranja dinheiro para construir uma fábrica em Indianapolis.
Sarah não aceitava o “não” como resposta. Era uma mulher negra e, acima de tudo, não tinha tido oportunidades para uma educação digna. Nada a deteve. A ambição impulsiva levou-a a abrir salões em todo o país, para, assim, tornar-se uma mulher muito rica.
É certamente uma história inspiradora, mas, tal como tantas outras narrativas deste género, o drama vem da ressonância emocional com os personagens.
Octavia Spencer faz um bom trabalho a retratar a protagonista, não obstante, a meu ver, é Tiffany Haddish (que interpreta Lelia, a filha de Sarah) que acaba por destacar-se verdadeiramente. Seja como for, parece-me que as duas atrizes cooperam bem ao longo dos quatro episódios.
“Self Made” tem a tendência de incluir várias escolhas surrealistas que obstruem o sentido, ou o caminho, para a mensagem preponderante da história. Numa cena em questão, surge a representação literal de um ringue de boxe para exaltar a luta que Madam CJ Walker tem que enfrentar. Por conseguinte, a série apresenta este tipo de cenas de forma sistemática, quando, efetivamente, talvez um retrato simples e humilde da época fosse algo mais adequado.
Todavia, a banda sonora é uma escolha criativa, já que apresenta canções pop e indie modernas de nomes como Santigold e até mesmo uma abordagem diferente de ‘Seven Nation Army’ dos The White Stripes. Já que a escolha de diálogos incide numa abordagem mais atual do que da época em questão, a música cimenta essa decisão para os movimentos femininos modernos que vivemos.
Desta feita, é sempre necessário ter em mente que a história é “Inspirada” na vida de C.J. Walker. Especialmente quando se desenrolam histórias que, evidentemente, são feitas para fomentar dramas, atritos e rivalidades.
“Self Made: Inspired by the Life of Madam C.J. Walker” pode tomar liberdades questionáveis ao contar a sua história, mas as performances são valerosas, e, embora as escolhas do enredo possam ser estranhas, o conteúdo espelhado exalta uma personalidade que merece ser homenageada.