Baseado em “Guantánamo Diary”, o livro de memórias de Mohamedou Ould Salahi, “The Mauritanian” destaca a injustiça e o sentido de desumanidade que os detidos enfrentam no campo da Baía de Guantánamo. Estabelecida pela primeira vez em 2002, durante a administração do presidente George W. Bush, esta prisão militar ainda existe nos dias de hoje, com 40 pessoas detidas. Após a saída do presidente Trump, que assinou uma ordem executiva para manter este campo aberto indefinidamente, Biden declarou a intenção de encerrar as instalações.
Com a realização de Kevin Macdonald, “The Mauritanian” centra-se no caso de Mohamedou Ould Salahi (Tahar Rahim) que, depois de ser capturado pelo governo dos EUA sob suspeita de ter estado envolvido nos ataques do 11 de setembro, é detido por 14 anos (sem acusação ou julgamento) em Guantánamo.
Com dúvidas sobre os seus direitos humanos e civis, a advogada de defesa Nancy Hollander (Jodie Foster) e a associada Teri Duncan (Woodley) começam a trabalhar no caso, ao mesmo tempo que enfrentam vários obstáculos para que se possa fazer justiça. Desde cedo, enfrentam a oposição de Stuart Couch (Benedict Cumberbatch), uma tenente-coronel destacado para acusar o arguido.
O lado mais sombrio da “Guerra ao Terror” da América foi brevemente retratado neste filme, algo que tinha sido mais romanceado (numa perspetiva frequentemente tendenciosa dos americanos) em obras como “American Snyper”, “Zero Dark Thirty” ou “13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi”. “The Road to Guantánamo”, o trabalho que Mat Whitecross e Michael Winterbottom apresentaram em 2006, foi o primeiro a efetuar um retrato coeso e real em torno da tortura e dos maus tratos infligidos pelos militares no centro de detenção.
E agora, “The Mauritanian” segue-lhe o exemplo. No entanto, mesmo com as melhores intenções, existe algo um pouco clínico no enredo, já que os eventos expõem apenas a superfície da desumanidade e do preconceito que Salahi testemunhou.
A longa-metragem é impulsionada por um desempenho bastante competente do franco-argelino Tahar Rahim, que passa por uma transformação notável ao longo das duas horas. O seu retrato da luta por justiça é, sem dúvida, cativante, especialmente nas cenas em que a personagem conversa com ‘Marseille’, um companheiro de prisão, bem como as interações com Hollander e Duncan.
Talvez o ponto mais negativo resida no facto de não existirem “vilões” efetivos no filme. A dada altura, até pode existir um certo sentido de justiça quando Salahi consegue provar a sua inocência. Todavia, perdura a nota que alguns detidos ainda são mantidos no campo de forma injusta e, na maioria dos casos, em condições perfeitamente deploráveis.
“The Mauritanian” é um drama pertinente por evocar a reflexão sobre o caso que estuda, mas não deixa de ser conveniente, visto que só começa a questionar as ações da América após o 11 de setembro. Tahar Rahim é o grande destaque, juntamente com a performance segura de Jodie Foster (papel que lhe valeu, de forma um pouco exagerada, o Golden Globe para Melhor Atriz Secundária).