Os jantares de aniversário são tentadores a promessas vãs e difíceis de se fazerem cumprir. Muitas dessas promessas acabam esquecidas no lume da noite e são rebatidas com questões existencialistas quando as garrafas estão vazias e o dia começa a clarear.
Em Druk (nome dinamarquês) descobrimos quatro professores do ensino médio da Dinamarca que marcam passo em mais um jantar de aniversário. Entre conversas que não agarram o interesse de todos os intervenientes acaba por emergir a matéria à volta da qual irá orbitar toda a intriga da produção dirigida por Thomas Vinterberg.
(Thomas Vinteberg, o escritor e realizador do filme, confessa que encontrou nesta produção uma forma de homenagear a filha que, em 2019, morreu, tragicamente, num acidente de viação.)
É sugerido, em pleno clímax, do jantar de aniversário uma teoria sobre o défice de álcool no sangue do ser humano. Esta é a razão pela qual os quatro amigos e professores iniciam um estudo científico sobre a evolução dos seus desempenhos científicos mediante o álcool que têm no sangue.
As regras são simples, o álcool servirá apenas de catalisador para as melhores performances académicas e será apenas consumido durante a semana para este mesmo propósito.
É valiosa a abordagem de Vinteberg aos 4 protagonistas desta experiência. Não se inclina para nenhum campo moralista – seja para questões raciais, sexuais ou dificuldades financeiras. Aborda a vida e experiência de homens adultos cujos maiores fantasmas se alimentam da monotonia e inércia das suas vidas.
A classe média dinamarquesa é espelhada em moldes de solidão, problemas matrimoniais e incompetência laboral divididos pelos quatro professores.
Todos eles são embalados pelos efeitos iniciais da experiência e assumem que dela só poderão tirar efeitos positivos até chocarem com estrondo com as consequências que advêm do exagerado consumo de álcool e pelo dissipar da ilusão do fim dos seus problemas e inseguranças.
O filme é estrelado por Mads Mikkelsen que se apresenta a um nível soberbo e irrepreensível . É o ator principal que assumo o leme de uma trama que celebra a cultura do álcool nos países nórdicos e que tempera uma carga dramática com um condimento elegante do humor negro.
Ainda que o filme esteja regado por litros de cerveja e bebidas brancas o compasso moral não orbita à volta do alcoolismo. A abordagem é mais profunda e as latitudes do significado da obra dilatam-se desde as escolhas de vida até à inevitável decadência.
A nível de cinematografia, destaque para o trabalho de câmara que confere dinâmica e intensidade à grande maioria das cenas. A banda sonora é muito bem trabalhada, especialmente na cena final que enfatiza os dotes de dançarino de Mads Mikkelsen.
Até ao momento o filme está nomeado para o globo de ouro de “Best Motion Picture – Foreign Language” e foi vencedor numa série de categorias em vários festivais de cinema internacionais.
Druk é um must see e uma oportunidade para visitar uma realidade excecional do norte da europa. É um brinde à cultura e forma de ver a vida crua e sem subterfúgios. Skål!