“Bobby Robson: More Than A Manager” é o documentário que conta com um conjunto de testemunhos de alto gabarito, e um pouco mais, em que Sir Bobby Robson é retratado como um homem simples e realista, que permanece na memória de muitos amantes de futebol.
Quem foi Bobby Robson?
Bom, num resumo muito tacanho, mas necessário para quem não é apreciador de futebol, e que, por consequência, nunca ouviu falar deste senhor, posso declamar que Robson foi “um dos melhores treinadores de todos os tempos”. Todavia, esta afirmação é, por si só, apenas um mero cliché.
Bobby Robson foi o treinador que levou a seleção de Inglaterra à meia final do Campeonato do Mundo de Futebol em 1990. Desfrutou de um sucesso fenomenal no Ipswich Town, PSV Eindhoven, Barcelona e, de forma preponderante, tocou a vida de milhões pela compaixão, humildade, decência e, acima de tudo, pelo entusiasmo quase infantil.
Foi um homem que tornou o futebol mais bonito. Desta feita, “More Than A Manager” é um trabalho inspirador, visto que, para além de ser uma homenagem ao que se passa dentro das quatro linhas, convida-nos a analisar a possibilidade de, tal como Robson, sermos mais generosos e um pouco mais compreensivos.
O documentário está repleto de imagens reveladoras, bem como de testemunhos de Pep Guardiola, José Mourinho, Gary Lineker, Alan Shearer, Gascoigne, Sir Alex Ferguson ou Ronaldo (o “Fenómeno), que partilham histórias tocantes sobre Sir Bobby, para pintar um quadro vivido de uma figura amada, mas que nem sempre foi tratada da melhor forma.
Ele foi mais do que um treinador. E ainda é. Pessoas como o Bobby Robson nunca morrem. É impossível “desaparecerem” porque, nessa liturgia profana que é o jogo da recordação, tal como Mourinho realça já no final do documentário, “uma pessoa só morre quando a última pessoa que o ama morre”.
Sir Bobby Robson colocou o Ipswich Town de volta no mapa. Chegou perto da glória com a seleção inglesa, deixou lembranças felizes pelos clubes onde passou em Portugal (Sporting Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto), Espanha e Holanda. Por fim, regressou ao seu adorado Newcastle, e ajudou o clube a recuperar o brilho de outrora.
Lutou contra o cancro cinco vezes. Criou uma fundação com o seu próprio nome que, quase dez anos após a sua morte (em 2009), arrecadou 12 milhões de dólares para combater a doença.
Inspirou Mourinho, ajudou Pep Guardiola a crescer, nutriu a lenda que é Ronaldo. Tinha a destreza de tranquilizar os jogadores com o calor de um abraço ou de um simples afeto (que o diga Paul Gascoigne).
Enfrentou a colisão de política interna no futebol em Barcelona, e travou outros tantos duelos com uma firmeza característica que, por vezes, veio a prejudicar a sua carreira.
“Bobby Robson: More Than A Manager” não apresenta grandes revelações, mas são 98 minutos reconfortantes e emocionantes. Ele já não está “cá”, mas a sua voz suave e distinta serve como uma espécie de narrador, que nos vai acompanhando e, ao mesmo tempo, faculta a noção que de, por uns momentos, ele está ao nosso lado a contar a sua história.
Robson significa coisas díspares, e é incrível como existem tantas pessoas que têm alguma história pessoal da sua relação com ele.
O documentário é muito bem conseguido, com um ritmo maravilhoso e cobre todas as bases. Por vezes, consegue invocar mais o homem que o treinador, e o reverso, mas sem se tornar demasiado melodramático.
Depois, surgem os testemunhos. As verdadeiras lendas do jogo falam de coração sobre um homem que estimam profundamente – e nada é forçado.
“Com ele, compreendi quão importante são os relacionamentos, a comunicação e os comentários para os nossos jogadores.” – Guardiola
“Por falar em figura de pai. O tipo foi fenomenal para mim. Com o Sir Bobby, eu sabia que estava seguro.” – Gascoigne
“Quando somos motivados como o Bobby e estamos num mau momento, não é tanto o número de vezes que nos deitam abaixo. É o número de vezes que nos levantamos e resolvemos o assunto. A manhã seguinte é a nossa mais importante.” – Sir Alex Ferguson
“O legado dele continua e vai permanecer vivo para sempre.” – Ronaldo
“Se considerarmos o que ele fez, eu diria que é o melhor treinador inglês de todos os tempos” – Lineker
“Lembro-me dele todos os dias e conto histórias sobre ele. Rimo-nos com as histórias. Recordamo-lo da forma certa. Uma pessoa só morre quando a última pessoa que o ama morre.” – Mourinho
E se, de alguma forma, chegamos ao fim do documentário sem a noção emocional do quão especial ele era, somos alertados para o facto de Robson preferir ser recordado pelo seu trabalho fora de campo, na luta contra o cancro, que considerava a maior das conquistas gloriosas:
“Apesar de eu ser recordado devido à minha vida através do futebol, o legado pelo qual preferia que me recordassem é o facto de ter angariado dinheiro, que, a seu tempo e por sua vez, irá salvar vidas”.
Eu ainda não era nascido quando o Ipswich conquistou a Europa, e tão pouco consigo entender a dor dos Mundiais de 86 e 90. Para mim, ele era um cavalheiro que marcou a história do futebol. O meu avô costumava contar-me que, na sua opinião, a “Mão de Deus” defraudou o ouro de um campeão genuíno.
É o futebol. E, acima de tudo, é a normalidade do que é estar vivo. Uma vezes ganhamos, e sentimos a alegria da vitória a pulsar nas veias. Outra vezes perdemos, e, embora nos possamos sentir defraudados pela vida, podemos escolher não deitar a toalha ao chão.
Robson também não era um anjo na Terra. Pela mensagem que o documentário passa, era um homem teimoso, que nem sempre deu a devida atenção à família, mas com a capacidade de fazer com que as pessoas pudessem sentir-se melhor consigo mesmas, mesmo quando estava doente.
Perto do fim, Bobby ainda dizia a Lady Elsie, a sua esposa, que estava em forma como um violino, e que nunca faltou ao trabalho por causa da doença. Bobby lutou contra cinco cancros, e venceu quatro. De facto, no jogo da vida, ganhou 4-1.
“Bobby Robson: More Than A Manager”, disponível na Netflix, é um documentário manuseado com sensibilidade e de uma forma profundamente comovente, que aborda a vida de um homem nunca deixou de driblar o adversário.