“Ma Rainey’s Black Bottom”, o último filme em que Chadwick Boseman entrou e o qual partilha palco com Viola Davis, chega à Netflix no dia 18 de dezembro e promete uma hora e meia muito bem passada!
Quando soube que este filme ia estrear, não sabia muito bem do que se tratava e não conhecia a história de Ma Rainey nem as suas músicas. Apenas soube que, após a morte de Chadwick Boseman, este seria o último filme do ator e que o mesmo ia contar com Viola Davis a interpretar a artista. E claro, começou também o burburinho de que é realmente uma das melhores interpretações de Boseman e que lhe poderá valer um ou mais prémios.
Somos levados para os anos 20, para conhecermos um pouco de Ma Rainey, considerada a mãe dos Blues. Rapidamente, vemo-nos dentro de um estúdio de gravação em Chicago em que acompanhamos a banda de acompanhamento da cantora composta por Toledo no piano, Cutler no trombone, Slow Drag no contrabaixo e finalmente Levee no trompete. Mas rapidamente a tensão aumenta e as coisas complicam-se.
Posso dizer que após ter a oportunidade de ver este filme, Chadwick Boseman entrega-nos realmente uma das melhores interpretações da sua carreira, se não mesmo a melhor! Ele faz monólogos como se fosse a coisa mais fácil do mundo de se fazer, ele usa o corpo para se expressar através da dança e dos gestos, ele faz um sotaque fantástico e entrega-nos uma personagem super emocional e emocionante, cuja ambição é ter a sua própria banda, compor as suas próprias músicas e gravá-las.
Num filme em que a narrativa não traz bem uma história central, nem mesmo sobre Ma Rainey como seria de esperar, Chadwick e Viola Davis entregam-nos representações fantásticas e que nos fazem querer ver mais do filme, explorar a banda fora daquele estúdio de gravação.
Viola Davis é uma atriz que já conhecemos e reconhecemos pelo seu talento. Ao lado de Denzel Washington, produtor deste filme, brilhou em Fences em 2016 e agora traz-nos a mãe dos Blues da melhor maneira que podíamos imaginar, especialmente se não conhecermos a cantora. Ela traz-nos assertividade, teimosia, momentos de música cheios de emoção, momentos de reflexão… Sem dúvida que haveria muito para explorar desta artista se o filme fosse sobre a mesma.
Ma Rainey’s Black Bottom (2020): Viola Davis as Ma Rainey. Cr. David Lee / NetflixEm termos de argumento, pelas mãos de Ruben Santiago-Hudson, temos os momentos na sala da banda com os membros da mesma entre conversas mais séries e brincadeiras entre eles, temos tensão, temos longos monólogos com mensagens que nos deixam a pensar, revelações que nos deixam hesitantes pelas personagens e claro, um conhecimento de um pouco do passado ou de vivências de cada um dos 4 homens que ali está. Nota-se nos próprios diálogos a subtileza com que passamos da seriedade para a brincadeira, quando é suposto estarmos embrenhados a 100% na história e quando é suposto eles darem o máximo deles naquela cena.
Já na realização, George C. Wolfe faz um trabalho impecável em explorar o ritmo ideal para que este filme aconteça sem se tornar monótono, para além de que consegue entregar-nos planos que nos aproximam das personagens e do que elas têm para nos contar. E claro, a fotografia é lindíssima que nos remetem logo para a época onde se passa o filme e que trabalha lado a lado com o departamento dos figurinos que fizeram também um óptimo trabalho em fazer-nos viajar no tempo.
Falta-me apenas tecer elogios à banda sonora subtil mas sempre presente que nos leva pelas notas de jazz, soul e claro blues, não fosse o filme sobre a mãe dos mesmos.
E é incrível que, embora o nome do filme seja dado devido a uma das músicas de Ma Rainey, como é que o mesmo consegue ser tanto sobre ela e ao mesmo tempo nada sobre ela. Temos ali um levantar do véu para o que podia ser, como já disse, numa longa metragem apenas seguindo a vida da cantora com Viola Davis a brilhar mas o que nos entregam é tão sólido, tão vibrante e tão intenso que nem nos importamos de não termos essa continuação.
Sem dúvida que Ma Rainey’s Black Bottom é um filme que devem espreitar na Netflix, nem que seja pelas interpretações maravilhosas de Boseman e David, assim como de Michael Potts, Glynn Turman e Colman Domingo e pelo rumo que as personagens deles levam durante 90 minutos e o final que é dado às mesmas. E acreditem quando digo que ainda podemos vir a ter muitas surpresas com este filme nos prémios deste ano, por isso, preparem-se!
PS: Só não dei 9 porque fiquei mesmo com muita vontade que explorassem mais o papel de Ma Rainey!