“The New Mutants” é o resultado que se obtém quando um estúdio aprova uma ideia mas não arrisca aceitar o conceito no seu todo.
Estamos perante cinco adolescentes ainda a descobrir o potencial das suas mutações e que são internados numa instituição até que os consigam controlar e deixar de ser um perigo para a sociedade e para eles próprios. Pelo menos é isso que a instituição promete…
Sabendo à partida que o género que se pretende para este filme é o terror, “The New Mutants” precisava de aprofundar o terror psicológico do enclausuramento forçado num local sinistro, mas também aumentar o nível de gore quer do efeito das mutações corporais, quer em danos colaterais de ainda não saberem controlar os seus poderes. Em conjunto, o trauma físico e psicológico proporcionaria uma boa dose de terror aos espectadores.
No entanto, a 20th Century Fox optou por uma faixa etária mais nova (EUA: PG13, maiores de 13, em vez de R, maiores de 17) deixando de fora qualquer cena mais assustadora. O estúdio tomou ainda a decisão de reduzir ao máximo o orçamento, excluindo ainda a personagem Warlock, que seria interpretada por Sacha Baron Cohen, para pouparem dinheiro nos efeitos visuais que a presença da personagem exigiria.
Josh Boone, que depois do blockbuster romântico “The Fault in Our Stars”, aceitou realizar este projeto pelo desafio do terror, viu já durante as filmagens a intervenção do estúdio tirar-lhe o coração do projeto e obrigar a reshoots, que inclusivamente eliminaram o vilão do filme (interpretado por Jon Hamm).
Ficamos assim com um resultado final, que após passar para as mãos da Disney, lá recuperou alguns elementos de terror a pedido do realizador e sempre teve alguns efeitos visuais decentes, embora restritos a um punhado cenas do filme, uma vez que a própria escolha das personagens se baseou em poderes que seriam low-cost a retratar no ecrã.
Quanto às personagens, não há referências aos seus nomes da banda desenhada ou a quaisquer ligações ao resto do universo X-Men – um cameo de Storm foi retirado do argumento e Ilyana seria a irmã de Colossus (“Deadpool”), mas a referência foi apagada da versão final do filme.
Tudo isto deixa-nos perante cinco adolescentes com mutações simples (à exeção de Ilyana), traumas de infância pouco explorados (uma cena tão curta para cada personagem, que nem chega a assustar), uma vilã secundária que devia ter tido momentos sinistros e de abuso de poder mas que acaba por ficar mais tempo a observar e uma conclusão extremamente pobre com a câmara a desviar-se da ação (mais uma vez a poupar no orçamento) para se focar em personagens que não estão a passar por nada de relevante.
Conclusão, Anya Taylor-Joy, Blu Hunt e Maisie Williams tiram o melhor proveito das suas personagens embora fiquem presas a alguns clichés adolescentes, Charlie Heaton e Henry Zaga têm personagens demasiado sub-desenvolvidas, Alice Braga não tem nenhum verdadeiro momento para brilhar como vilã, Jon Hamm e Sacha Baron Cohen nem aparecem no filme e Josh Boone fez o melhor que pôde, com a falta de liberdade criativa e orçamental de um estúdio que estava tão mal que foi comprado pela Disney a meio da produção.
O resultado não valeu a espera desde o primeiro trailer em 2017, nem vale uma ida à sala de cinema em tempo de pandemia (a não ser com desconto no bilhete), mas consegue entreter minimamente quando daqui a uns meses for visto no conforto do sofá em casa. “The New Mutants” é assim um filme com um bom conceito que ficou praticamente por explorar.